31.10.09

Saudades do Grande Ponto (*)

Foto: Grande Ponto - Anos 30

O Grande Ponto é um ponto tradicional de Natal, onde acontecem coisas do arco da velha, há muitos e muitos anos. José Guilherme não menciona com exatidão quando aconteceram os episódios por ele narrados - nem precisa. Mas devem se situar entre 1940 e 1960, por aí.
Quando chegamos a Natal, em fins de 1948, meu pai estranhava que os pedestres ficassem conversando, em pé, em grupelhos, no meio do Grande Ponto. E o pessoal não se afastava quando se buzinava, pedindo passagem. Afinal , não sabíamos porque os grupos ficavam estáticos "no meio da rua". Custamos a entender que aquilo era um costume local, e, portanto, uma questão cultural.
Da nossa época, José Guilherme citou Jaecy "O Fotógrafo Poeta", os cinemas Rex e Pax, a Sorveteria Cruzeiro, de Antônio China, a Casa Vesúvio, de Rômulo Maiorana, que foi morar em Belém, onde construiu um império constituído de jornal, rádio e televisão, o Botijinha, de Jardelino, o Estádio Juvenal Lamartine, onde jogamos algumas vezes pelo Guarany Esporte Clube, fundado por Levi Caminha e meu irmão Carlos Aloysio, enfrentando o infanto-juvenil do ABC de Ezequiel Ferreira de Souza, Paulo Eduardo Firmo de Moura e Fabiano Veras, o América, de Kléber de Carvalho Bezerra e Etevaldo Miranda, o famigerado Teté, também conhecido como "Vírgula" pelas suas pernas arqueadas, as Lojas Seta, onde muitos anos depois acompanhei, constrangido, a diligência de um oficial de Justiça na penhora de bens de uma ação executiva movida contra ela por Confecções Torre S.A., do Recife, da qual eu era advogado.
José Guilherme escalou um alegre time de "veados e outros animais honestos que formavam a ecologia daquela Passárgada: o mitológico Rei Momo Luizinho Doblechen, Pinóquio, Detefon, Madame Sônia, a Cartomante, e "seu" Martins, professor de Clodovil." Esqueceu Velocidade e Biguá, cujo apelido teve origem na sua semelhança física com o lendário paraense que formou a célebre linha-média tricampeã do Flamengo (1942, 1943 e 1944): Biguá, Bria e Jayme de Almeida.
José Guilherme falou famoso Coronel Guerreiro, pai de uma morena linda. Os irmãos da morena, cujo nome eu esqueço, mandavam que ela caminhasse na frente deles para dar porrada em quem a cantasse. Relembrou Ivanildo "Deus" advogado, que encontro, de vez em quando, na Rua da Imperatriz. Em Desenho, o maior presepeiro natalense. Nos desfiles de Maria Boa, em pleno Grande Ponto "que aos domingos, cinco da tarde, hora em que a nata da sociedade natalense se concentrava ali, passava devagarzinho, acintosamente, no seu "conversível", com motorista e tudo, abarrotado com as meninas mais respeitáveis e mais bonitas da cidade, a maioria importada, cuja porta-estandarte era Eurídice, gaúchona de 50 talheres". Além de Maria Boa, tínhamos Francisquinha, Belinha e Vanda, festejadas donas de pensão, devidamente protegidas pelos mais altos e circunspectos membros dos poderes executivo, legislativo e judiciário federais, estaduais e municipais.

(*) Arthur Carvalho, advogado e jornalista transcrevendo texto de José Maria Guilherme – Jornal do Comércio, Recife 28/10/2009 e enviado por Jardna Cavalcanti Jucá.

28.10.09

1935 - Ação Comunista e o Domínio de Natal

Quartel da Policia Militar 1935 - Atual Casa do Estudante


As raízes do movimento comunista de 1935 no Rio Grande do Norte possuíram, sem dúvida alguma, causas locais e que podem ser apontadas como resquícios da campanha eleitoral de 1934, quando predominou um clima de violência.

Mário Leopoldo Pereira da Câmara, apesar do mérito de algumas realizações efetuadas durante sua administração, foi responsável pela implantação de um clima favorável ao aparecimento de movimentos armados.

O substituto de Mário Câmara, Rafael Fernandes Gurjão, continuou perseguindo seus adversários políticos, a exemplo de seu antecessor. Rafael Gurjão contribuiu com o aumento do número dos descontentes, engrossando o grupo dos revoltosos. Chegou, inclusive, a extinguir a Guarda Civil, um órgão completamente descomprometido com a política, só porque havia sido criada por Café Filho, inimigo político do novo governante... Dentro desse contexto, as divergências arrastaram para o movimento pessoas que desconheciam a ideologia comunista, mas viam na ação armada uma maneira de derrubar o governo...

A mobilização comunista foi iniciada na noite de 23 de novembro de 1935, ocasião em que no Teatro Carlos Gomes - hoje Alberto Maranhão - estava acontecendo uma solenidade de colação de grau do Colégio Marista. O governador Rafael Fernandes Gurjão e o secretário geral do Estado, Aldo Fernandes, abrigaram-se na residência de Xavier Miranda, nas proximidades do teatro, e depois foram para o Consulado da Itália, sob os cuidados do cônsul Guilherme Lettieri. O prefeito Gentil Ferreira, também presente à solenidade, foi para o Consulado do Chile, sob a proteção do cônsul Carlos Lamas.

Coube ao major Luís Júlio, da Polícia Militar e ao coronel Pinto Soares, do 21º BC, a organização da resistência. Os combates estenderam-se por várias horas, até acabar a munição, quando as forças legais se renderam. As comunicações telefônicas foram cortadas, resistindo apenas a estação telegráfica de Macaíba, através da qual os legalistas pediram socorro à capital federal.

Durante os combates, o quartel da polícia militar resistiu, lutando contra um inimigo "muitas vezes superior em número", relata João Medeiros Filho. A resistência durou várias horas, terminando quando os policiais gastaram a última bala. Os legalistas fugiram pelo Rio Potengi.

Os rebeldes dominaram Natal e, no dia 25 de novembro de 1935, organizaram um Comitê popular Revolucionário, composto por Lauro Cortês, ex-diretor da Casa de Detenção, como ministro de Abastecimento e Quintino de Barros, 3º sargento, músico do 21º BC, como ministro da Defesa. O comitê se instalou na Vila Cinanto, até então residência oficial do governador.

Durante a vigência do governo revolucionário, a população da Cidade do Natal atravessou momento de grandes dificuldades, principalmente para a aquisição de gêneros alimentícios, uma vez que foram saqueados muitos armazéns e lojas que abasteciam a cidade. Entre os estabelecimentos saqueados figuram os seguintes: M. Martins & Cia.m Viana & Cia., M. Alves Afonso etc. O comércio de diversas cidades do interior também não escapou. Por onde os rebeldes passavam, implantavam o pânico.

No tempo em que os comunistas estiveram no poder, circulou um jornal intitulado "Liberdade", que publicou as seguintes palavras, transcritas por João Medeiros Filho: "Enfim, pelo esforço invencível do povo, legitimamente representado por Soldados, Marinheiros, Operários e Camponeses, inaugura-se no Brasil a era da Liberdade, sonhada por tantos mártires, centralizados e corporificados na figura legendária de Luís Carlos Prestes, o "Cavaleiro da Esperança".

Observação enviada por Laélio Ferreira de Melo: "O texto citado do jornal "A Liberdade" foi da lavra do Jornalista e Poeta Othoniel Menezes, meu pai. O autor não era e nunca foi comunista. Era, sim, um socialista-cristão e, na época, correligionário e amigo pessoal de Café Filho. Pelo que escreveu (quase todo o jornal) foi perseguido e punido com quase três anos de cadeia.


* Tribuna do Norte: História do Rio Grande do Norte

24.10.09

Relato sobre a Ribeira (*)

Grupo Escolar Augusto Severo e Escola Doméstica de Natal na Ribeira.

Em meados da década de 1960 a Ribeira abrigava os principais centros viários de Natal: a estação rodoviária, a estação da Rede Ferroviária e o movimento portuário. Podiam-se observas casas residenciais e conjuntos habitacionais em torno da Ribeira-Rocas, onde moradores, em sua maioria, eram funcionários da Rede Ferroviária Federal e outros estabelecimentos comerciais localizados na Ribeira.
Naquela época, o êxodo rural já era uma realidade. Muitos saíram do interior do estado a convite de parentes para trabalhar e estudar na Capital ou se aventuravam em busca de uma vida melhor, e, geralmente, iam trabalhar na Ribeira, pois lá era um centro comercial importante, onde se localizava o comércio “em grosso”, o da construção civil, as oficinas e os serviços mais ligados a economia e a infra-estrutura econômica de Natal.
A rodoviária movimentava um grande comércio ao seu redor com a venda dos mais diversos produtos. Perto dela ficava a estação ferroviária. O trem não se limitava a levar pessoas, transportava, também, mercadorias e cargas, de Natal para cidades do interior do Estado. Do mesmo modo vinham no trem, do interior, produtos para a Capital. Além disso, fazia o transporte interestadual indo para os Estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba.
Desde meados da década de 1950, o Porto de Natal é até hoje um local de embarque e desembarque para embarcações oriundas de outros Estados brasileiros e do Exterior, porém não comporta grandes embarcações por motivos estruturais. Muitos investimentos foram feitos para retirar a “Pedra da Bicuda” na boca da barra do Rio Potengi. Os principais produtos que movimentam o Porto são frutas e camarão. Hoje ainda se encontram algumas lojas de artigos para barcos e pesca na Ribeira.
O comércio da Ribeira iniciou-se com a venda de cereais e depois se diversificou. O horário de funcionamento era de 7 às 11:30 e de 13 às 17:30 entre 1950 e a década de 1980, que foi um período muito auspicioso para o bairro.
Havia um sério problema de alagamento nas proximidades da rodoviária e do Teatro Alberto maranhão, causando sérios transtornos aos moradores e ao comércio. O entorno da Praça Augusto Severo era área úmida e para os moradores e freqüentadores, na época de chuvas, principalmente, tornava-se necessário tirar os sapatos e levantar as bainhas das calças ou as saias, para poder caminhar sem molhar suas vestes.
Apesar de provinciano, o bairro, um dos principais da cidade, não poderia de deixar de acompanhar sua evolução estrutural, com os principais comércios e órgãos públicos. Por ser um bairro predominantemente comercial, a Associação Comercial não poderia ter surgido noutro local, assim como o Clube de Diretores Lojistas. A Junta Comercial também estava localizada na Rua Dr. Barata.
O Teatro era um espaço reservado à “elite”, e por longo tempo era impeditivos aos mais humildes que não faziam parte da “cultura da elite” e era através da música e da religião que eles davam sua rica contribuição para a cultura da Ribeira através de diferentes manifestações artísticas e culturais.
O prédio do Grupo Escolar Augusto Severo, antiga escola Modelo, foi transformado posteriormente na Faculdade de Direito. Diante da mesma Praça está localizado o prédio da antiga Escola Doméstica de Natal.
Nos primórdios, a área da praça e seu entorno eram ocupados por uma tribo Potiguara e ao lado passava um riacho que foi aterrado e como lembrança restou uma pequena ponte, hoje descaracterizada.
O atual prédio do Colégio Salesiano foi a residência de Juvino Barreto, sendo doada após sua morte a Ordem dos Salesianos com o intuito de se implantar um projeto social para a comunidade. Em frente, onde hoje é uma agência da Caixa Econômica funcionava a fábrica de tecidos de Juvino Barreto.


(*) Extraído do trabalho: Ribeira por Marcelo B. M. Tinoco, Maria Dulce P. Bentes Sobrinha e Edja B. F. Trigueiro.

20.10.09

O GALO da Torre da Igreja de Santo Antônio e seu doador (*)



No alto da torre, em volta do poleiro de azulejos, roda e vento doce do galo de bronze secular. Pertence a fisionomia do bairro e possui sua história, relembrada pelos velhos moradores da rua Santo Antonio, ainda em recordação nas palestras sereneiras, noite de lua cheia.
Lourival Açucena dedicou-lhe versos. Creio que não são únicos. Datam de mais de sessenta anos. Vamos ressussitar os versos, que dedicavam os nossos natalenses de outrora.

Caetano da Silva Sanches,
Governador português,
Foi quem aqui colocou-me,
Há mais de um século talvez

Cocorocó! Vou cantando
A minha bela toada,
Louvando com outros galos
A serena madrugada!...

Por todos os quatro ventos
Me vereis sempre emproado. . .
Não tenho “Gogo” e meu canto
Solto bem atenoado!

Cá do alto lobrigado,
Traquinadas do demônio
Vos mandarei telegrama
Da torre de Santo Antonio!...


Esse versinho devem ser posteriores a 4 de agosto de 1878, dia em que se inaugurou em Natal o “telégrafo-elétrico”.
É esse Caetano da Silva Sanches? O “governador português” era natural de Cascais, em Portugal, filho do capitão Francisco da Silva Sanches e de D. Maria Joaquina Sanches. Fez vida militar e era sargento-mór, reformado do Regimento do Recife, ao ser nomeado Governador da Capitania do Rio Grande do Norte, em 12 de agosto de 1791. Efetivado no posto a 27 de março de 1797, ratificada a posse a 7 de fevereiro de 1798, tornou-se muito estimado em Natal.
Casara em Recife com D. Maria Francisca do Rosário Lages, filha do sargento-mór Francisco Gonçalves Lages. Teve dois filhos: Pedro morto ainda criança e Micaéla Joaquina Sanches que se casou com o capitão-mós Manoel Teixeira de Moura.
Quando Caetano da Silva Sanches chegou a Natal já a igreja de Santo Antonio existia. Em julho de 1763 menciona-se, em documentos, em documentos, a rua da Igreja de Santo Antonio. Na fachada principal, por cima da porta, há, muito apagada, a data de agosto de 1766.
O Capitão-mór era devoto de Santo Antonio, santo nacional português. Ajudou por todas as formas, a construção da Torre. Esta ficou terminada em janeiro de 1798.
Em 23 de agosto de 1799, Caetano da Silva Costa Sanches fez testamento. Era um homem robusto e ainda moço. Dele partira a idéia de mandar buscar um galo de bronze e presentear a Igreja, colocando no cimo da torre, nova e bonita. É um costume europeu e rara é a igreja portuguesa, especialmente do interior, que não tenha o Galo, símbolo de vigilância e de fé, arauto da claridade, Gallo canente spesredit. . .
Havia uma lenda de que o capitão-mór falecera no dia da primeira missa na Igreja de Santo Antonio. Não é possível crer-se. A igreja estava entregue ao culto sagrado, vinte e oito anos antes de Caetano da Silva Sanches chegar a Natal.
No dia 14 de março de 1800 o Capitão-mór falecera de ataque apoplético, estrupor, como se dizia.
Sepultou-se na Matriz, vestindo o hábito de Santo que era o orago da Igreja onde doara o galo de bronze.
Em 1864, nasceram uns arbustos na cúpula da Torre. O Galo ficou cercado de vegetação. Parecia viver e abrir o bico, para o apelo metálico aos seus distantes companheiros de capoeira.
O tempo foi rolando sem maiores sucessos. Na noite de 6 de março de 1897, às oito e trinta e cinco minutos, uma faísca, com trovão atordoador, caiu sobre a Torre de Santo Antonio. O galo ferido pelo choque, ficou dependurado, até a madrugada de 21 de junho, quando despencou e bateu na calçada do templo.
Depois, desapareceu, esquecido, nos desvãos escusos e escuros da igreja. Em janeiro de 1917, um “constante leitor” da A REPÚBLICA lembrou-lhe o exílio e sugeriu descobrimento. Monsenhor Alfredo Pegado, então Governador Geral do Bispado, explicou ter encontrado o Galo, danificado e feio, e o mandou consertar.
E, aos quatro ventos do Setentrião do Brasil, voltou o Galo de bronze, cinco anos depois, desta vez, imóvel e grave, assistindo, do alto da Torre, a ronda melancólica dos anos. . .

(*) Luis da Câmara Cascudo - República, 15 de outubro de 1939.

17.10.09

Natal - Geração 70 (*)


Existiram gerações que pareciam fervilhar de ideias, em favor de um futuro melhor. A geração 1970, ou simplesmente "geração 70", foi uma dessas, que marcaram época. Novos costumes foram sendo incorporados à cidade, que começava a perder sua função provinciana. Natal era, na boca de todos, uma Rio de Janeiro pequena, com todas as modas e trejeitos de cidade pequena, metida à grande, não tenhamos a menor dúvida. Então, como dizia Jair Rodrigues em Disparada: "prepare o seu coração para as coisas que eu vou contar..."
Foi o início dos hot-dog\'s, então vendidos na Kyxou, em primeira mão. Lembro-me das portas dos clubes, com as carrocinhas de Big-Dog, Ki-Dog, Xis-Dog. Cachorro-quente de carne que se prezava era o de "Pelé", que ficava, durante a semana, na Quinze, em Lagoa Seca, perto do Feijão Verde e do Bar do Tetéu, onde hoje existe o Midway.

Saboreávamos os refrigerantes: Coca-Cola, Crush, Grapette e Guaraná Rocha ou Champagne. No Galo Vermelho, os rapazes da época compravam frango assado, para tira-gosto das bebidas, como: Rum Montilla, cerveja, whisky, Drink Dreher, etc. Nos restaurantes, os abstêmios bebiam água mineral Santos Reis, em garrafinhas de vidro, com ou sem gás. Nas ruas podia-se tomar um sorvete Maguary ou Big Milk. O resto era din-din!

As rodinhas eram formadas, no fim da tarde, na Kyxou, para tomar sundae/ milk-shake ou um hot-dog. Lá se reuniam as moças e os rapazes da sociedade que assistiam, indiferentes, aos desfiles de moda e dos carrões equipados (Fuscão, Maverick, Opala, Karmann-ghia) e rebaixados, ao som de toca-fitas Rodstar ou Clarion de última geração. Natal sem tatuagens, drogas ou violência urbana, problemas tão comuns, hoje em dia. Aquele sim era tempo bom! Natal do Xique-xique... lá no Posto São Luiz da Av. Salgado Filho.
Já existiam os pegas que, na maioria das vezes, eram feitos no "barródromo", em Capim Macio. Não cito nomes para não fazer injustiças. Ainda sofria-se certa influência de James Dean, no filme Juventude Transviada. Hoje, felizmente, essa perigosa moda entre os jovens acabou. Depois dos "pegas" nos reuníamos no Teco-Teco, o bar de Geraldo em Capim Macio. Gasolina azul! Ingrediente ativo no tanque dos carangos dos boys da época estava à venda no Posto Pitombeira/ Tamarineira/ Miguel Barra, pelo que me lembro.
Ouvia-se bossa nova com a mesma frequência do rock. As radiolas Hi-Fi, Telefunker e Phillips tocavam freneticamente LP\'s e compactos de Roberto Carlos, Jerry Adriani, Ronnie Von, Wanderley Cardoso, Wanderléa, Martinha, Celi Campelo, Nelson Gonçalves, Beatles, The Fevers, Renato e seus Blue Caps, Credence e Santana. Também escutávamos no rádio, às 18 h, Jerônimo, o Herói do Sertão, o eterno noivo de Aninha, que, ajudado pelo fiel moleque Saci, fazia qualquer valente tremer.
Nos sábados a tarde, quem ficava em casa assistia os programas de auditório do Chacrinha. Quem quer bacalhau? À noite, as meninas assistiam na televisão a novela "O Bem Amado" de Dias Gomes, na Rede Globo.
No dia 29 de outubro de 1970 era inaugurada a "Casa de Hóspedes de Ponta Negra", com apenas 14 apartamentos. Um mês depois foi inaugurado o Balneário do Sesc, Ponta Negra, que logo se tornou o local preferido para o banho de mar de vários grupos de rapazes e moças.
A partir dos anos 70 começou a expansão urbana de Ponta Negra, com a construção dos primeiros conjuntos residenciais. Os compositores eram responsáveis pelas partituras das músicas que os maestros conduziam e os músicos executavam. A geração 70 reunira tudo isso harmonicamente, num só lugar: no Festival de Woodstock (1969).
A profusão de conjuntos de rock em Natal era crescente, lembro-me do The Jetsons, Impacto Cinco, Os Terríveis e Apaches.
Estava aumentando o número de hippies, darks e punks, que, antes dispersos, passam a agrupar-se na Praça Padre João Maria ou na Praia do Meio, em frente ao Salva-Vidas da Praia dos Artistas.
Liam-se muitos gibis: Bolinha, Luluzinha, Capitão Marvel, Tarzan, Jim das Selvas, Pato Donald, Batman, Zorro e outros. As revistas mais lidas eram: O Cruzeiro, Manchete, A Cigarra.
Alguns autores que se destacavam: Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade. Na Livraria Universitária, da Av. Rio Branco - Centro, batia ponto a fina flor dos escritores potiguares, recebidos cordialmente pelo Sr. Walter Pereira.
No Rio, o colunista Ibrahim Sued; em Natal, Jota Epifânio e Adalberto Rodrigues apresentavam, em suas colunas, o jet set da "capital espacial" do Brasil.
Assistíamos na TV programas como: A Praça da Alegria, J. Silvestre, Família Trapo, etc.

Nos cinemas Rex, São Luiz e São Pedro, domingo pela manhã, era onde se assistia os seriados de Zorro, Rin-tin-tim, Roy-Rogers e degustava-se o irmão mais velho do Baton: o Leite e Mel, ao lado dos torrones, das balas gasosas e dos Drops Dulcora, de cevada, anis e coca, sem esquecer dos Toffees Déa, muito populares na época. Tivemos o privilégio de assistir bons filmes em Tecnicolor, como: Mobby Dick, Os que Sabem Morrer, Love Story e outros, no Rio Grande, Rex ou Nordeste, pois não mais existia o cine Poty em Petrópolis, nem o Polytheama na Ribeira.
Nos domingos à noite, a partir das 19:30h, íamos para o ABC, animado ao som do Impacto Cinco. Os garçons eram Perneta e Bem-Te-Vi, entre outros, e as bebidas pedidas eram cuba libre e hi-fi, mais consumidas do que as cervejas, estas em casco escuro ou claro. A cerveja em casco escuro já era mais apreciada do que a de casco claro.

Alguns preferiam ir ao Hippie Drive-in, na estrada de Ponta Negra, com luz negra e outros babados. Outra pedida também era uma esticadinha à Tenda do Cigano, Peixada Potengi ou, quando sem dinheiro, a opção era o cachorro-quente do Souza, no beco da Casa Rio.
As noites eram tocadas pelo Hippie Drive-in, Piri-Piri e Girassol. Existia o bar Barreirinha, outro ponto de encontro da mocidade. O acesso a Ponta Negra era pela antiga estrada, construída pelos americanos, até a altura do velho Posto Planalto. Daí, prosseguia-se pelo calçamento, chegando à orla marítima e seguindo adiante, até Pirangi, onde tínhamos o caranguejo do Pinoca.

Em Petrópolis, frequentava-se a Confeitaria Atheneu, o Gramil e o Kazarão.
Na Praia do Meio, O Jangadeiro, depois da boate do Hotel Reis Magos, para uma noite de serestas com o inesquecível Expedito. Também éramos clientes assíduos do Aeroclube e do América, onde se comiam as refeições mais sofisticadas, com a mesma naturalidade que se tomava um caldo de feijão na Tenda do Cigano.

No Tirol, o Stop era frequentado por uma porção de jovens, vindos do bairro e adjacências, que nos dias em que na AABB ou no América tinha baile (não show) fazia a alegria dos garçons. Quem atendia eram os garçons: Bem-Te-Vi e Perneta. Depois da festa ou arrastão (época de São João), lanchava-se lá pelas 3 da madrugada no Dia-e-Noite, lanchonete com bastante movimento, localizada no Centro. Posteriormente, veio o Passaporte Lanches, de Peninha, na Praça Pedro Velho.
Dos carnavais inesquecíveis lembramos os do América, Aero, AABB, ABC, Iate Clube e Assen, valendo a pena lembrar que os carnavais do América eram sempre tocados pela orquestra de Waldemar Ernesto.
Em Natal, tudo era charmoso, na década de 70, quase sem violência urbana.

(*) Elísio Augusto de M. e Silva, empresário, escritor - Transcrito de O Jornal de Hoje

13.10.09

"Reclames de Ontem" - Propagandas










12.10.09

Dos Bondes ao Hippie Drive-In (*)


Recebi de Fred Sizenando alguns tópicos sobre o livro: Dos Bondes ao Hippie Drive-In a ser lançado no próximo mês de novembro, no Clube de Engenharia. (Manoel Neto)


A idéia surgiu do desejo de registrar e compartilhar as histórias e fatos pitorescos envolvendo o cotidiano de pessoas da cidade do Natal, narradas oralmente pelo nosso pai, João Sizenando Pinheiro Filho, funcionário público, ex-remador do Centro Náutico Potengí, e que viveu quase um século na nossa capital, convivendo com figuras humanas que caracterizaram a alma da nossa província.
Naturalmente evoluímos na concepção do livro e passamos a pesquisar e escrever abrangendo os períodos em que nós mesmos vivenciamos ou participamos da história.
A nossa infância e adolescência nos anos 1960 e 1970 em Natal, os vizinhos, o ambiente estudantil, as peladas de rua, a turma da praia, as matinês do ABC, o Hippie Drive In, a SCBEU, as paqueras. Como na música de Oswaldo Montenegro, fizemos um esforço de memória para relacionar uma lista nossos amigos mais próximos desde a infância até o período inicial na Universidade. A partir desta lista, passamos a recapitular os detalhes da nossa vida em diferentes fases. Para garantir uma maior amplitude nos conteúdos dos relatos, nós procuramos ao longo de oito anos, localizar e conversar com esses velhos amigos, alguns deles não tínhamos contato desde 1959. Pesquisamos nos jornais, livros e revistas da primeira metade do século XX e localizamos pessoas que viveram em Natal antes e até a II Guerra Mundial.
O resultado disso tudo é a concretização do livro “Dos Bondes ao Hippie Drive In”, a ser lançado no próximo mês, onde abordamos de forma leve e curiosa a evolução do cotidiano da nossa cidade cobrindo o período desde 1915 até 1975. As mais de 350 fotografias inseridas - com contribuição de diversos colaboradores - consolidam o diferencial da publicação.
“Dos Bondes ao Hippie Drive In” contém uma série de crônicas que descrevem episódios curiosos, figuras humanas marcantes, hábitos e costumes, tendo como pano de fundo os principais fatos históricos ocorridos na cidade. São sete capítulos, cada um contendo uma média de 10 textos distintos. Os capítulos são: “Natal dos Bondes”, “Natal dos voos transatlânticos e dos primeiros cinemas”, “Natal dos comunistas e dos americanos”, “Natal dos nossos pais”, “Natal da nossa infância”, “Natal dos gibis e do cinema Rex” e “Natal Pop”.
Na parte inicial é abordada a cidade no início do Século XX quando os bondes puxados a burros começavam a ser substituídos pelos bondes elétricos. Os hábitos da população, curiosidades, as formas simples de lazer e diversão. Vale à pena conferir também uma síntese apresentada das edições do ano de 1916 do pasquim “apimentado” denominado “O Parafuso” com editoriais, fofocas, enquetes, anúncios de filmes e notícias que ilustram bem o cenário cultural e político da época.
Figuras populares que caracterizavam o dia a dia dos anos 1920 e 1930 são descritas com apresentação de causos. Figuras como Gonçalo Pé de Pato, um mulato feio, cheio de bichos de pé, que era metido a bonito e namorador. Outra pessoa resgatada no livro é Sinfronio Barreto, considerado a figura mais popular e caridosa de Natal depois do padre João Maria. As aventuras na juventude de Paulo Lira (1903 -1979) - o mais famoso pianista da cidade - e sua turma no início do século XX são lembradas. As inaugurações do Estádio Juvenal Lamartine, do Cais do Porto e do primeiro sinal de trânsito na cidade são descritas e documentadas com fotografias.
Um capítulo especial com muitas informações cobre a história do cinema em Natal, desde a primeira exibição em um Depósito de Açúcar na Ribeira no final do século XIX passando pelas exibições do Polytheama e Royal Cinema.
Na sequência uma cobertura interessante sobre os voos transatlânticos dos hidroaviões provenientes da Europa e Estados Unidos. A recepção e detalhes curiosos dos aviadores pioneiros. Também são relatados: o incrível “raid” Natal-Rio numa pequena iole; os antigos carnavais; o surgimento da telefonia e as primeiras obras de saneamento da cidade.
O episódio do Levante Comunista de 1935 nós ilustramos a partir da apresentação de fatos pitorescos envolvendo pessoas comuns. Segue ainda um passeio sobre a vida em Natal durante a II Guerra Mundial e resumo de alguns arquivos secretos da Base Aérea de Natal.
Chegando ao período pós-guerra, o livro alcança o prefeito Djalma Maranhão, o programa “De pé no Chão também se aprende a ler”, a participação da “Aliança para o Progresso” no governo Aluísio Alves, a revolução de 64, com destaque para as agitações dos estudantes do Atheneu.
Quem era garoto ou adolescente nos anos 1950 e 1960 em Natal vai se deliciar com as crônicas envolvendo nossas recordações sobre a infância na Cidade Alta, Praça Pedro Velho, Jardim de Infância Modelo, escolinha da professora Janoca e “Jerônimo o Herói do Sertão”. Destaque especial para os jovens “cientistas” da Rua Felipe Camarão que montavam pequenos foguetes para serem lançados na Praia do Forte e em Mãe Luísa. Mais interessante ainda recordar os tempos dos seriados no cinema Rex, a curtição dos gibis e das peladas de rua.
O capítulo denominado “Natal Pop” cobrimos principalmente a Natal da geração “paz e amor”, o primeiro biquíni na cidade, a Sociedade Cultural Brasil - Estados Unidos (SCBEU), os primeiros surfistas, os festivais de música Popular. Destaque maior para a história do Rock em Natal, com muitas curiosidades - como o Irmão Marista que financiou a primeira banda da cidade - e detalhamento dos principais conjuntos que fizeram a trilha musical de toda uma geração.
Aqueles que conheceram Jerônimo o Herói do Sertão, o Cinema Poti, as tartarugas da Praça Pedro Velho, o Sebo de Cazuza, as matinês no ABC, as “Anastomoses” no América, o “Seu Talão vale um Milhão”, a loja de discos de Helisom, e o “Hippie Drive In”, certamente não deixarão de se emocionar. E irão relembrar não apenas os fatos narrados, como também inúmeros outros momentos que facilmente se acenderão em suas mentes como um simples duplo clique para acessar algum arquivo de computador.

(*) Carlos e Fred Sizenando, biólogo e engenheiro, respectivamente. Foto: Cidade da Criança - Lagoa Manoel Felipe atualmente completamente abandonada cerceando neste 12 de Outubro as crianças de lá comemorarem o seu dia.

10.10.09

Feriadão


Para todos: Um excelente feriadão!
Contribuição de Iracema Dantas de Araújo

9.10.09

A Formação do Estado Republicano e a ascensão dos Maranhão ao poder

Pedro Velho - Ferreira Chaves - José Augusto de Medeiros - Juvenal Lamartine

A Proclamação da República em 1889 traz o fim da monarquia, dando às classes dominantes locais um maior dinamismo político. Mas o primeiro presidente, Deodoro da Fonseca, luta por um governo centralizador, com poderes plenos. Em 1894, com Prudente de Morais, o grupo da descentralização chega ao poder, consolidando-se nas eleições seguintes.
A descentralização contribuiu para o surgimento das primeiras oligarquias republicanas, onde grandes Estados se unem para comandar o país, e nos pequenos acontece a união entre os coronéis locais para os comandos estaduais.


Até a implantação da República não existia o Partido Republicano no RN, apenas focos isolados, destacando Caicó, onde Januário da Nóbrega, acadêmico de Direito em PE e filho seridoense, tentava, sem sucesso, a implantação do partido, desde 1886.


O Partido Republicano só foi oficialmente fundado no RN no início de 1889, em Natal, com Pedro Velho, que ainda criou o jornal "A República", para divulgação partidária.

Como o Partido Republicano assume o poder nacional, Pedro Velho é escolhido Governador do Estado. Mas, contrariando seus aliados logo ao escolher seu secretariado, Pedro Velho não convida aliados republicanos (deste partido chama apenas alguns familiares seus). A base de seu governo seria de políticos tradicionais, grandes latifundiários do agreste e os coronéis do Seridó.


Na política federal, Pedro Velho se associa ao PRP paulista, grupo representante da descentralização, o que justifica a sua deposição por Deodoro, este representante do centralismo.


Mas, com a renúncia de Deodoro e a ascensão de Floriano, Pedro Velho é reconduzido ao governo do RN. No governo seguinte, o de Campos Sales, define-se a política de descentralização, contribuindo assim para o predomínio da família Maranhão no governo do Estado, até 1914.


O declínio da oligarquia Maranhão e a ascensão do "Sistema" Político do Seridó
Com o objetivo de se manter no poder, em 1914, os Maranhão buscam lançar ao governo alguém de sua confiança da família, pretendendo voltar ao poder nas eleições seguintes. Os nomes apontados são contestados pelos coronéis do Seridó que, por sua vez, querem apontar outro nome.


Por outro lado, José da Penha, que era potiguar de nascença e deputado pelo Ceará, indica Leônidas Hermes da Fonseca ao governo do Estado, o que não é aceito pela oligarquia do Estado e é, inclusive, contestado pelo Presidente da República Hermes da Fonseca, que era o pai de Leônidas.


Joaquim Ferreira Chaves é o nome indicado pelo Seridó. Os Maranhão recorrem ao Rio de Janeiro para consultar a cúpula federal; esta, no entanto, apóia o nome de Chaves. José da Penha denuncia fraudes no governo do Estado mas, os correligionários de Chaves, José Augusto e Juvenal Lamartine, reorganizam o sistema no Seridó, impedindo que José da Penha se articule no RN. Este é obrigado a sair do Estado, pois corre risco de vida.


Chaves é eleito governador do RN, rompe posteriormente com os Maranhão, tirando-lhes o monopólio do sal e da carne verde. A reforma da constituição enfraquece mais ainda os Maranhão, impedindo candidaturas de parentes até o 3º grau, criando também a vice-governadoria - que era representada pelo presidente do legislativo - e reduzindo o mandato do governador para quatro anos.


Chaves torna-se o novo chefe político do RN. A ascensão de Chaves demonstra que o poder político do RN, pautado no complexo açucareiror/têxtil, começa a despencar. Ocorre que o Seridó começa a tecer sua hegemonia baseada no algodão/pecuária, hegemonia esta que contribuiu para o aumento e diversificação das atividades econômicas de exportação. A 1ª Guerra Mundial contribuiu para o preeminência da cotonicultura, fortalecendo a máquina arrecadadora do Estado.


Em 1919, Chaves rompe com Tavares de Lira e Alberto Maranhão, devido o nome de Paulo Maranhão não compor a chapa de deputados do RN. Chaves impõe um nome para lhes suceder. Os Maranhão apresentam outro nome, mas são derrotados por Antônio de Souza, candidato de Chaves.


Em 1923, a convenção do PRF aponta Chaves como candidato a governador do RN o que não é aceito pelos coronéis do Seridó. Nesse processo intervêm o Catete que reconhecesse as lideranças de José Augusto e Juvenal Lamartine. Assim, seguros do suporte político conseguido, lançam José Augusto ao governo, que vence as eleições.


A ascensão José Augusto/Lamartine coroa a oligarquia algodoeira/pecuária. Mesmo tendo Chaves contribuindo para o desenvolvimento do Seridó, a oligarquia algodoeira passa a valorizar os intelectuais da região tornando o Seridó uma região forte e respeitada na política do nosso Estado.


Por: Vitamar de Oliveira, Gilson de A. Pereira, Aristoteles E. de Medeiros Filho - História do RN.

6.10.09

Januário Cicco (*)


Januário Cicco nasceu na cidade de São José de Mipibu, em 30 de abril de 1881. Era filho do italiano Vicente de Cicco e da norte-riograndense Ana de Albuquerque de Cicco. Veio para Natal ainda na adolescência, no final do século XIX. Posteriormente, iniciou o Curso de Humanidades na Paraíba, onde resolveu dedicar-se ao sacerdócio e ingressar no Seminário, abandonando-o, porém, um ano depois. Voltou a Natal e concluiu o curso secundário no Atheneu Norte-riograndense em 1899. Formou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1906. Começou a atuar logo como clínico e cirurgião em Natal, com consultório na Rua das Virgens, na Ribeira. Casou-se com Isabel Simões, pernambucana, com quem teve uma única filha, Ivette Cicco. Em 1937, em um intervalo de um ano, morreram sua filha e esposa A partir de então, passou por um período de reclusão, dedicando-se exclusivamente ao trabalho.
Além de clínico geral, desempenhou funções na obstetrícia, atuando, também, como cirurgião. Fundou e dirigiu os dois primeiros estabelecimentos hospitalares de grande porte de Natal: O Hospital da Caridade Juvino Barreto, no monte Petrópolis (hoje Hospital Universitário Onofre Lopes), em 1909 e a Maternidade de Natal, iniciada em 1932 e inaugurada em 1950. No início da década de 40, a Maternidade estava pronta para funcionar, mas o esforço de Guerra, representado na Capital do Estado pela construção do Campo de Aviação de Parnamirim com uma base americana, fez com que a Maternidade fosse ocupada como Quartel General das Forças Aliadas e Hospital de Campanha. Com o final da II Guerra Mundial e após intensa campanha Januário Cicco conseguiu retomar o prédio, restaurá-lo e colocá-lo para funcionar, o que ocorreu somente em 1950.
Depois criou o primeiro serviço de Pronto-Socorro (1945), a Escola de Auxiliares de Enfermagem (1950) e o Centro de Estudos da Sociedade de Assistência Hospitalar, base onde foi idealizada a fundação da Faculdade de Medicina (1951). Acompanhou pessoalmente todas as etapas de construção dos referidos prédios. Sua contribuição científica inclui sua tese de doutoramento “O destino dos cadáveres” – que defendia a cremação como meio de higiene e profilaxia da superpovoação dos cemitérios -, uma monografia, “Como se higienizaria Natal”, e outras publicações, como: “Notas de um médico de província”, “Puericultura no ano de 1909”, “Abrigo Padre João Maria” e os romances “Eutanásia” e “Herança Mórbida”. Januário Cicco, faleceu em 01 de novembro de 1952, em Natal.

(*) Uma Cidade Sã e Bela - Angela Lucia Ferreira, Anna Rachel Baracho Eduardo, Ana Caroline Dantas Dias e Geoge Alexandre Ferreira Dantas - com notas do blog - Foto: Maternidade Januário Cicco nos anos 50.

3.10.09

Praieira dos Meus Amores (*)


Para a maioria dos norte-rio-grandenses, Otoniel Menezes é e continuará sendo sobretudo o criador dos versos da canção "Praieira", de 1922, espécie de hino da cidade do Natal, (aliás, pelo decreto-lei nº 12, de 22 de novembro de 1971, o governo municipal de Natal considerou a "Praieira", o "Hino da Cidade"), com música de Eduardo Medeiros.
Originalmente intitulada "Serenata de Pescador", "Praieira", como ficou conhecida popularmente, foi escrita para saudar os pescadores natalenses que, em três barcos a vela, viajaram de Natal ao Rio de Janeiro, dentro das comemorações do Centenário da Independência, em 1922.
Otoniel Menezes, certa vez, revelou que uma das alegrias de sua vida era ouvir, nas madrugadas natalenses, gente do povo cantando sua "Praieira" em serenatas. (**)


SERENATA DO PESCADOR

Praieira dos meus amores,
Encanto do meu olhar!
Quero contar-te os rigores
Sofridos a pensar
Em ti sobre o alto mar...
Ai! Não sabes que saudade
Padece o nauta ao partir,
Sentindo na imensidade,
O seu batel fugir,
Incerto do porvir!

Os perigos da tormenta
Não se comparam querida!
Às dores que experimenta
A alma na dor perdida,
Nas ânsias da partida
Adeus à luz que desmaia,
Nos coqueirais ao sol-pôr...
E, bem pertinho da praia,
O albergue, o ninho, o amor
Do humilde pescador!

Quem vê, ao longe, passando
Uma vela, panda, ao vento,
Não sabe quanto lamento
Vai nela soluçando,
A pátria procurando!
Praieira, meu pensamento,
Linda flor, vem me escutar
A história do sofrimento
De um nauta, a recordar
Amores, sobre o mar!

Praieira, linda entre as flores
Deste jardim potiguar!
Não há mais fundos horrores,
Iguais a este do mar,
Passados a lembrar!
A mais cruel noite escura,
Nortadas e cerração
Não trazem tanta amargura
Como a recordação,
Que aperte o coração!

Se, às vezes, seguindo a frota,
Pairava uma gaivota,
Logo eu pensava bem triste:
O amor que lá deixei,
Quem sabe se inda existe?!
Ela, então, gritava triste:
Não chores! Não sei! Não sei...
E eu, sempre e sempre mais triste,
Rezava a murmurar:
“Meu deus quero voltar!”

Praieira do meu pecado,
Morena flor, não te escondas,
Quero, ao sussurro das ondas
Do Potengi amado,
Dormir sempre ao teu lado...
Depois de haver dominado
O mar profundo e bravio,
À margem verde do rio
Serei teu pescador,
Ó pérola do amor!

(*) Otoniel Menezes - (**) Fotolog/ninocha - Foto: Canto do Mangue por Roberto Satoli