31.1.09

Notas sobre a Cidade do Natal - I

Castelo Keulen (1638) - (Forte dos Reis Magos)

1599 – Fundação da Cidade do Natal no dia 25 de dezembro.
1600 – O Capitão-Mor João Rodrigues Colaço concede aos Jesuítas a primeira data de terra no sítio da Cidade.
1608 – O Governador do Recife D. Diogo de Menezes informa a Sua Majestade – no dia 04 de dezembro – sobre Natal: “A povoação que está feita não tem gente”
1612 – O Sargento-Mor Diogo de Campos Moreno no “Livro que dá razão do Estado do Brasil” situa a nascente povoação natalense: “Tem pobremente acomodados até vinte e cinco moradores brancos”.
1627 – “A povoação é muito limitada a respeito dos moradores estarem e morarem nas suas fazendas, onde muito deles têm suas casas mui nobres”, afirmou Domingos da Veiga, morador de Natal.
1628 – “Natal tinha uma Igreja e oito casas” conforme o depoimento de um grupo de índios em Amsterdam, redigido por Hessen Gerritsz.
1630 – “A cidade contava entre trinta e cinco e quarenta casas de barro e palha, os habitantes mais abastados vivendo nos sítios apenas vindo na cidade aos domingos”, segundo relata Adriano Verdonck – enviado das autoridades de ocupação holandesa – no documento “Descrição das Capitanias de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande”.
1634-44 – Gaspar Barléu, cronista do Conde Maurício de Nassau informa ser “A vila de Natal de aspecto triste e acabrunhada pelas ruínas e vestígios de guerra”.
1639 – Adriaen Van Der Dussen no “Relatório sobre as capitanias conquistadas no Brasil pelos holandeses” informa que a capitania “já teve uma cidadezinha chamada Cidade do Natal, situada a légua e meia do Castelo Keulen rio acima, mas totalmente arruinada”.
1673 – O Capitão-Mor Antônio Vaz Gondim e os Oficiais da Câmara pedem uma esmola a sua majestade, para a construção da matriz, visando fixar a população: “Acabando-se a igreja se povoaria a cidade”.
1722 – O Capitão-Mor José Pereira Fonseca em carta enviada a El-Rei, no dia 07 de abril, relata que Natal “Tem apenas trinta casas e os arredores eram mato fechado”.
1729 – João Maia Gama – no relatório de inspeção as capitanias – informa que “a cidade é fundada em um alto e ainda que muito areento, contudo com terreno capaz e levado dos ventos e tem cinqüenta para 60 casas e muitas mais perto da cidade porque a mais gente vive nas suas fazendas”.
1732 – Construção do Pelourinho.
1746 – O Bispo de Olinda Dom Frei Luiz de Santa Tereza em relatório apresentado a Santa Sé, diz que Natal é “tão pequena que além do título de cidade, igreja paroquial e poucas casas, nada tem que represente a forma de cidade. Da cidade de Natal não-há-tal como por brincadeira se diz”.
1777 – Domingos Monteiro da Rocha, Ouvidor da Paraíba, informa que o povoado da Cidade do Natal tinha quatrocentas braças de comprido por cinqüenta de largo com 118 casas.

27.1.09

Presidentes das ruas numeradas do Alecrim.

Gravura holandesa VEROVINGE VAN RIO GRANDE IN BRAZIL ANO 1633

O Alecrim, quarto bairro da cidade do Natal, têm como confinantes de sua área urbana os seguintes segmentos: Riacho do Baldo, Rua Olinto Meira, Rua Jaguarari, Av. Bernardo Vieira e a Via Férrea até encontrar a Riacho do baldo, neste último trecho podemos ainda destacar a Rua Pereira Pinto e a Base Naval. Antes de se chamar Alecrim, esta área teve várias denominações. Primeiro foi Refoles, partindo do pressuposto básico de que os piratas e mercadores franceses vinham freqüentemente extrair o pau-brasil e outros produtos, e sempre usaram o rio Potengi como ancoradouro para seus navios. O corsário Jacques Riffault, no Século XVI, atracou por inúmeras vezes em nosso rio, fazendo com que aquele local passasse a se chamar no ponto da Nau do Refoles ou apenas Refoles.

Depois, no Século XIX, chamou-se Alto de Santa Cruz, topônimo batizado pelo Coronel Reinaldo Lourival, filho do reconhecido poeta Lourival Açucena, com a aprovação do vigário João Maria Cavalcanti de Brito (Padre João Maria); Na primeira década do século XX, o bairro foi denominado “Cais do Sertão”, em razão dos imigrantes que vinham do interior e acampavam naquela área; E finalmente, passou a se chamar Alecrim, através do Decreto da Intendência Municipal de Natal, datado de 23 de outubro de 1911 e oficializado em 30 de setembro de 1947, na administração do Prefeito Silvio Piza Pedroza.

Um bairro não é apenas uma área delimitada por um decreto ou um conglomerado de antigas casas e ruas que labirintam seus acessos. O bairro antes de tudo, tem a missão de contar a história do crescimento da cidade e do próprio lugar. Entretanto, os topônimos de suas ruas provocam, as vezes, indagações relacionadas aos seu significado ou aos nomes das personagens ali homenageadas. Mesmo acreditando na frase de Gene Flower de que “Os homens que merecem monumentos não precisam deles”, o Alecrim, quando eternizou em suas artérias, notáveis que transitaram na política administrativa do Rio Grande do Norte, nos remiu de séculos de história potiguar.

Quando o Presidente da Intendência Municipal (Prefeito de Natal), Dr. Omar O´Grady, contratou o arquiteto Giacomo Palumbo, para fazer o Plano Geral de Sistematização da Cidade de Natal, solicitou, ao mesmo tempo, ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, a época presidido pelo Dr. Nestor dos Santos Lima, que relacionasse vultos históricos para nomear as avenidas já traçadas e numeradas de 1 a 18. Dentre as figuras arroladas, estavam incluídos, levando em conta a liturgia do cargo, cinco Presidentes da Província do Rio Grande do Norte, como eram denominados os Governadores do nosso Estado no período colonial e durante o império.

Portanto as avenidas de 1 a 5, confinadas nos limites do bairro do Alecrim, passaram a ter as seguintes denominações: Avenida 1, Presidente Quaresma, em homenagem a Basílio Quaresma Torrão, que Governou de 1833 a 1836; Avenida 2, Presidente Bandeira, em homenagem a João Capistrano Bandeira de Melo, que Governou de 1873 a 1875; Avenida 3, Presidente José Bento em homenagem a José Bento da Cunha Figueiredo Junior, que Governou de 1860 a 1861; Avenida 4, Presidente Sarmento, em homenagem a Cassimiro José de Morais Sarmento, que Governou de 1845 a 1847; E a Avenida 5, Presidente Leão Veloso, em homenagem a Pedro Leão Veloso, que Governou de 1861 a 1863.

As demais avenidas e ruas numeradas receberam o nome de tribos indígenas ou de outras pessoas ilustres, entretanto, sem negar a importância de cada denominação, os topônimos das outras ruas numeradas ficam aqui ocultados, porque buscamos registrar apenas as artérias que tiveram denominações de Presidente da província na época colonial e do império. Esperamos, deste modo, responder as indagações de uma considerável parcela da população natalense, que curiosamente se interroga com relação às avenidas numeradas, de 1 a 5, do bairro do Alecrim: Presidente de que?

Por Manoel Procópio de Moura Júnior

24.1.09

Manifestações Culturais III

Foto: João Redondo, a irreverência e a mão molenga .

TEATRO POPULAR DE BONECOS
O Teatro Popular de Bonecos, recebe várias designações em todo o Nordeste. Em Pernambuco, por exemplo, chama-se Mamulengo, enquanto no Rio Grande do Norte e Paraíba é denominado João Redondo. Essa expressão da cultura popular, originária da Ásia, trazida pelos ibéricos, encontrou no Nordeste um verdadeiro celeiro de calungueiros, como se chama o homem que manipula os bonecos em nosso estado.
Um teatro simples, apresentado por bonecos rústicos, feitos de pano, muito expressivos, acoplados nas mãos de apresentador, dando-lhes vida em pequenos atos hilariantes.
O espetáculo geralmente é composto de várias histórias, formando pequenas cenas que se completam ou não. Sobre este aspecto do “João Redondo”:
O espetáculo é fragmentado em pequenas histórias e, às vezes, nem por isto, pois há bonecos representando artistas populares (cantores, violeiros, sanfoneiros) que, sozinhos, fazem uma “parte”. Essa fragmentação do espetáculo permite que sua duração varie, ao sabor das circunstâncias.
Em Natal, a arte do João Redondo permanece viva graças aos calungueiros, como Chico Daniel, segundo Ariano Suassuna o maior “bonequeiro” do Brasil. Após o falecimenteo de Chico Daniel seu filho continua mantendo acesa a chama dp Teatro de Bonecos Popular. Também encontramos no Conjunto Nova Natal o Zé Relampo. Carroceiro de profissão Zé Relampo apresenta o “João Redondo” de forma tradicional, destacando sua voz.

ARTESANATO E ARTE POPULAR
Define-se o artesanato como o tratamento que as criaturas mais simples dos agrupamentos humanos dão à matéria bruta, visando a um fim utilitário, comercial, artístico, recreativo, o que for. Munido deste conceito encontramos, em solo potiguar, diversas representações de artistas populares.
O nosso artesanato apresenta algumas singularidades, como exemplo, a escultura em madeira, geralmente figuras em pequenas proporções, feitas com instrumentos rudimentares.
Natal conheceu um grande mestre-artesão, “fazedor” de Santos, o “Chico Santeiro”. Escultor de reconhecida habilidade. O mestre Santeiro transformava a madeira em perfeitos "tipos” nordestinos. Utilizou sua arte para esculpir pequenas imagens de Santos e Cristos Crucificados. Existem peças de Chico Santeiro em diversos lugares, inclusive no Vaticano.
Com um rico artesanato, Natal desponta no Nordeste como um dos maiores centros produtores e comercializadores de peças confeccionadas por verdadeiros artistas populares. Como ponto de venda, destaca-se, o Centro de Turismo, situado em Petrópoilis, em uma belíssima construção, a antiga Casa de Detenção.
Além da arte em madeira, o artesanato potiguar é composto por peças bordadas, bijuterias em metal, bijuterias em minerais, tapeçarias, artefatos de couro, miniaturas de barcos e peixes, ferramentas indígenas, enfim um universo de cultura popular.

Fonte: Deífilo Gurgel/Anuário de Natal

21.1.09

A administração Omar O’Grady...


A administração Omar O’Grady (1924-1930) e a modernização urbana de Natal.

Os recentes estudos sobre a história urbana e urbanística de Natal têm procurado desvelar os seus processos de construção e constituição do espaço urbano, os seus agentes transformadores, os planos, o ideário de modernização, os avanços técnicos, enfim, a influência de todos estes fatores na conformação do seu território, do seu “espaço real vivido“1.
Dentro desta perspectiva, os anos compreendidos entre a Proclamação da República - que, no Rio Grande do Norte, marcou o início da ascensão da oligarquia Albuquerque e Maranhão, liderado por Pedro Velho - e o final da década de 1930 podem ser analisados à luz do processo de “desconstrução da Natal colonial”; ou seja, o período que assistiu a passagem da cidade oitocentista para uma outra, moderna, capitalista.
Obviamente, o século XIX não abarcava mais o período colonial brasileiro; contudo, é nele que estão impressas as marcas dos séculos anteriores, da época da dominação portuguesa. Se em cidades como o Rio de Janeiro este processo de transformações se iniciou no primeiro quartel do oitocentos (com a vinda da Corte Portuguesa, em 1908, e a Missão Artística Francesa, em 1816), em Natal, São Paulo e Santos, por exemplo, o que chamamos “desconstrução da cidade colonial” ocorreria de forma decisiva a partir dos últimos anos do século XIX e nas primeiras décadas do XX: as reformas nos centros urbanos, nos portos, a abertura de avenidas, a expansão horizontal e o início da vertical, entre outros fatores, concorreram para a estruturação de uma nova “imagem da cidade”, suplantando aquela herdada do período colonial.
Um dos momentos mais importantes deste processo, para compreender a atual cidade do Natal, foi empreendido na década de 1920, no período delimitado pela administração do engenheiro Omar O’Grady (junho de 1924 a outubro de 1930)2. Tão repleto de significações e complexidades que Câmara Cascudo, em seu livro “História da Cidade do Natal”, pôde afirmar que O’Grady havia tirado Natal de sua letargia setecentista e a “pousado”, finalmente, no século XX. A afirmativa, forte e emblemática, referia-se a uma das quatro grandes obras realizadas no período da administração O’Grady (1924-1928): o calçamento da Av. Junqueira Ayres, a ladeira íngrime e único acesso então entre os dois bairros originários da cidade.
“O antigo aterro colonial foi lentamente sendo substituído por pedras soltas, empedrado, trilha, calçada, paralelepípedo. Várias vezes o aclive foi rebaixado. A história termina quando o prefeito Omar O’Grady venceu o barro, tirou as pedras e vestiu a ladeira com o calçamento que resiste a tempo, água e esquecimento3.
A obra começou a pôr fim no distanciamento e isolamento entre os bairros da Cidade Alta e Ribeira, característicos da conformação colonial da cidade, que tanto tempo perdurou. “A possibilidade de comunicação imediata, fácil, barata, aproximou os dois núcleos de população”. Punha-se fim aos gritos de guerra. “Xarias e Canguleiros morreram. Ficou o Natalense...4”.
As outras três grandes obras que marcaram este período foram: a reforma do Cais Tavares de Lyra, o calçamento e o aformoseamento da Praça Augusto Severo e da Avenida Atlântica (atual Getúlio Vargas), inseridas em um modelo de modernização que tinha nas obras de pavimentação o signo palpável de progresso5. Este sentido de progresso, que tenta materializar os anseios despertados pela vaga modernista que atingira Natal e pelas possibilidades de crescimento criadas com o advento da aviação comercial, encontrou respaldo na figura do engenheiro e administrador O’Grady6.
Filho do canadense, de ascendência irlandesa, Alexander James O’Grady e da potiguar Estefânia Alzira Moreira O’Grady, o prefeito Omar O’Grady nasceu em Natal, a 18 de fevereiro de 1894. Após fazer o primário e terminar os seus preparatórios no Atheneu Norte-rio-grandense, embarcou para Chigaco, EUA, no início da década de 1910, para cursar Engenharia pelo Illinois Institute of Technology. Formou-se em 1917 e, apenas em 1920, retornou ao Brasil para trabalhar nas Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, IFOCS. Em 1923, foi contratado pela firma inglesa Norton Griffth and Company para o cargo de superintendente na construção da barragem do Acarape, Ceará. Casado com Isabel Dantas, primogênita de Manuel Dantas - que havia sido recém-nomeado pelo presidente do Estado José Augusto (1924-1927) à Intendência Municipal de Natal, Omar O’Grady retornou a cidade para ocupar um dos cargos de intendente. Com o falecimento prematuro do seu sogro, O’Grady assumiu a presidência da Intendência em junho de 1924, cargo que ocupou até outubro de 1930.
Os primeiros quatro anos da administração foram o ensaio da sua formação americana na forma de gerir a cidade. O discurso pelas contas equilibradas do município frente à exigüidade das rendas (embora a sua administração tenha sido acusada de diversas irregularidades pelo governo de interventores que assumiu em outubro de 19307), o controle total sobre o espaço urbano, submetendo todas as atividades às restrições e regulamentações da Intendência (por exemplo , a concessão de licenças para os horários de abertura de lojas, para construção, reforma e remodelação das casas, para a compra e venda de imóveis, etc.), o controle social, cadastrando os ambulantes e reprimindo terminantemente a mendicância, a limpeza pública, o embelezamento da cidade e, principalmente, a ênfase na melhoria das condições de tráfego nas vias urbanas, com a pavimentação à macadame pixado, paralelepípedo, e a drenagem das águas pluviais (num modelo de urbanização extensivo ao automóvel como também o foi, de certa forma, o Plano de Avenidas formulado pelos engenheiros Prestes Maia e Ulhôa Cintra para São Paulo em 1930), são os aspectos que caracterizaram os primeiros quatro anos da gestão de Omar O’Grady. Preparavam, assim, as bases para a proposição de um Master Plan que pudesse configurar Natal como “Caes da Europa8.
Em janeiro de 1929, Juvenal Lamartine renomeou Omar O’Grady para a Intendência e assumiu com este a tarefa de preparar Natal para o “futuro grandioso” que adviria de sua fundamental posição geográfica para a aviação comercial. Para tanto, foi elaborado o Plano Geral de Sistematização, de autoria do arquiteto greco-italiano Giacomo Palumbo9, este seria o arremate da administração de Omar O’Grady, o fecho das iniciativas desenvolvidas durante mais de cinco anos em prol da modernização da cidade, articulando e incorporando as obras realizadas às propostas inseridas no Plano.
O plano trazia, já nos termos do seu contrato elaborado por Omar O’Grady em abril de 1929, elementos inovadores à forma de gestão do município, embasados nas experiências recentes do urbanismo moderno, abarcando a cidade como um todo: o macro-zoneamento funcional (que implicaria numa divisão sócio-espacial segregada), a proposição de uma comissão do plano da cidade, de inspiração norte-americana, para garantir a sua continuidade (independente das sucessões administrativas) e a participação da população (embora ainda de forma muito restrita), a reestruturação do sistema viário (com o aumento dos acessos entre a Ribeira e a Cidade Alta) e a preocupação em torná-lo exeqüível (com a aprovação da Taxa de Benefício em junho de 1930, através das Resoluções nºs. 318 e 319, vulgarmente conhecida como “imposto do calçamento” baseada no benefit assessment americano).10
Portanto, mesmo com todas as críticas ao processo de “descontrução da cidade colonial”, aos seus aspectos segregadores e elitistas, no Brasil e em Natal, em particular, não podemos negar a importância do engenheiro Omar O’Grady para o estudo e a compreensão da história da Cidade do Natal. Mesmo corrigindo, retificando, calçando ruas, a remodelação de Natal nos anos 20 baseava-se na estrutura existente da cidade, no aproveitamento da topografia, numa visão global da cidade. Embora não queiramos fazer uma apologia deste processo nem irrelevar seus aspectos negativos - muito ao contrário, este era um quadro muito diferente daquele que irrompeu a partir de meados da década de 1940, disperso, fragmentário.
Por George Alexandre Ferreira Dantas

18.1.09

Manifestações Culturais II

Bambelô

BAMBELÔ
È uma dança de roda, divertimento e desafio entre repentistas, par ver quem melhor improvisa. O acompanhamento das cantigas é feito com ganzás e tambores. Caracteriza-se pela dança de solista que faz galanteios coreográficos, normalmente a umbigada ou uma vênia, em frente a uma dama, que por sua vez, reponde com gingadas de corpo, conforme a música. Os dançarinos postam-se lado a lado, num semi-círculo, onde a solista entra, canta seu ponto, dança e se retira. Seus versos são improvisados. Não deixa de ser uma forma sofisticada do coco-de-roda, que sofreu visível influência do ritmo e coreografia do samba.
Em Natal, no bairro do Alecrim, existiu um tradicional grupo desta dança. Era o “Asa Branca de Severino Guedes”. Após a morte de seu fundador, os dançarinos do Bambelô ficaram inativos.
BOI CALEMBA
O folguedo se apresenta cantando cantigas do século XIX, saudações, louvações e benditos. O Boi Calemba é composto por dezessete participantes, geralmente divididos em grupos, os Enfeitados e os Mascarados. Deífilo Gurgel informa a função de cada grupo:

Compõem o primeiro grupo o Mestre da brincadeira, os Galantes e as Damas, responsáveis pelo lado sério do espetáculo. ... Os mascarados provêm a parte cômica do espetáculo. São três. Mateus, Birico e Catirina. Declamam loas, como os Galantes, entretanto, gaiatas; representam pantominas e parodiam os compenetrados Galantes, em suas antigas e atitudes.

O Boi Calemba, conforme diversos estudiosos das danças folclóricas, é a versão dos potiguares do bumba-meu-boi nordestino. Vivo na memória do natalense, este folguedo expressa riqueza da cultura norte-riograndense.
Em Natal Boi Calemba é sinônimo de Manoel Marinheiro (Manoel Lopes Galvão), que construiu ao longo de sua vida um pólo de resistência da cultura popular. Hoje sem a presença do Mestre Manoel, a comunidade de Felipe Camarão, ainda, vinvencia as lições de amor aos folguedos ensinada por Marinheiro. Na Rua Silva, 262, transversal da Rua Rainha do Mar, encontramos um lugar de folclore, a antiga residência do Mestre Bio Calemba.
Finalmente, o Boi Calemba é um dos folguedos mais tradicionais de Natal. Há relatos desta “brincadeira” como parte de várias festas populares-religiosas, tendo como ponto alto os festejos natalinos do início do século XX.

PASTORIL
O Auto do Pastoril é uma reminiscência dos autos portugueses. Compõe-se de poemas dialogados e musicados que tratam de motivos religiosos e profanos. Há dosi partidos ou cordões que formam o pastoril: o cordão azul e o cordão encarnado. As cantigas expressam a alegria dos cordões com o público, louvando o Messias e exaltando o Pastorial. É a maior característica do Pastoril Potiguar.
O Pastoril se destaca pela diversidade de personagens como o anjo Gabriel, Lúcifer, Libertina, Célia, Graça, Mestra e Contramestra, Flora, Centurião, Argemiro, Eva, Diana, Herodes, com sua maldade, reavivando a sentença da paixão de Cristo. Existem alguns pastoris que inovaram o folguedo religioso em profano. Na Vila de Ponta Negra existe um grupo de Pastoril, formado por idosos.

FANDANGO

Nosso Fandango é inspirado nas grandes aventuras marítimas portuguesas. Esse auto com a história da Nau Catarineta, que se perdeu no mar. O grupo é formado por uma tripulação de aproximadamente quarenta marujos, entre oficiais e marinheiros. Normalmente, o auto é repesentado num barco ou como alternativa num palanque.
Atualmente, infelizmente, não existe registro de grupos de fandangos ativos em Natal. Encontramos alguns resistentes nas cidades de Canguaretama e Georgino Avelino.

Fonte: Deífilo Gurgel/Anuário de Natal – Continuaremos com outras Danças e Manifestações Culturais

15.1.09

Escola de Pharmácia e Odontologia de Natal

A lei nº 570, sancionada em 1º de dezembro de 1923, criou o Curso de Odontologia, anexo à Escola de Farmácia, que passou a se chamar Escola de Pharmácia e Odontologia de Natal.
No entanto, o Curso de Odontologia não chegou a ser iniciado. A primeira turma de farmacêuticos, com apenas dois alunos, concluiu o curso em 1925, e a Escola de Pharmácia e Odontologia encerrou suas atividades.
O Interventor Federal General Orestes da Rocha, através do Decreto-Lei nº 682, de 03 de dezembro de 1947, criou a Faculdade de Farmácia e Odontologia de Natal.
Em dezembro de 1948, pelo Decreto-Lei nº 25.973, a Faculdade foi autorizada a funcionar, tendo iniciado suas aulas em 1º de março de 1949, no prédio do antigo Atheneu Norte-Rio-Grandense, sendo o seu primeiro Diretor o Médico Oftalmologista Dr. Adolpho Ramires. O curso funcionava no período noturno e a primeira turma, constituída de 14 alunos, formou-se em 1951.
Posteriormente, assumiu a direção, em 1952, o Cirurgião-Dentista Professor José Cavalcanti Melo, que durante 12 anos a dirigiu com amor e dedicação. Todo esse trabalho era compartilhado com seus corpos docente e funcional.
Numa iniciativa arrojada e desafiadora, foi reformado o velho Atheneu e ali começou a funcionar a Faculdade de Farmácia e Odontologia de Natal, com melhores condições de trabalho e ensino.
Algum tempo transcorreu no cronômetro da eternidade e alguns anos se escoaram na voragem do tempo. Atualmente, o Curso de Odontologia da UFRN funciona na Avenida Salgado Filho, com os turnos matutino, vespertino e noturno.
A grade curricular do Curso de Odontologia sofreu modificações com o objetivo de ser inserida no Projeto Político Pedagógico (PPP) do MEC, visando à formação de generalistas, com a finalidade de atender o Sistema Único de Saúde (SUS).
Ao longo de sua história, o nosso Curso figura entre os melhores do país. No “Provão” do MEC, obteve o conceito “A”.
No ENADE (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes), que avaliou 3.239 cursos superiores do Brasil, em novembro de 207, apenas 25 alcançaram nota máxima 5, sendo 8 de Instituições Estaduais e 17 de Universidades Federais. Dentre os aprovados, está o Curso de Odontologia da UFRN, eleito o 5º melhor curso do país e 1º lugar na área de Odontologia.
De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, além dos 3.259 cursos, de 753 instituições do país, foram convocados 145.380 ingressantes, 112.962 concluintes e 1.365 voluntários.O ENADE é uma avaliação feita anualmente pelo MEC com os alunos que são selecionados através de uma amostragem feita pelo INEP.
A avaliação faz parte do Sistema Nacional de Avaliação de Educação Superior (SINAES) e visa avaliar a qualidade dos Cursos de Graduação.
Atualmente, temos 45 professores, sendo 30 com Doutorado, 14 com Mestrado e 01 Especialista. Essa conquista deve ser creditada aos que fizeram e fazem o Curso e o Departamento de Odontologia com competência, denodo e dedicação.
Lenilson Carvalho (Cirurgião-Dentista)
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12.1.09

Manifestações Culturais I

Congos de Calçola de Ponta Negra

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O Rio Grande do Norte também recebeu influências culturais de outros povos. Aqui floresceu diversas manifestações da cultura popular, fandangos, autos, mamulengos, todos de grande beleza. Um universo de beleza.
Encontramos cultura na Cidade do Natal, não há somente praia e sol na terra de Câmara Cascudo. Cultura Popular que resiste na herança de Manoel Marinheiro, Chico Daniel, Câmara Cascudo e no exemplo do administrador sintonizado com os anseios do povo natalense, prefeito dos autos populares: Djalma Maranhão.
CONGOS DE CALÇOLA
Os congos de calçola apresentam uma trajetória rítmica Africana de Angola. Os congos do estado têm como motivo comum a representação da Rainha Ginga, soberana africana. Em Natal se destaca o congo de calçolas da praia de Ponta Negra.
O Congo de Calçolas da praia de Ponta Negra, pode ser contacto através de José Pedro Correia.
CABOCLINHOS
Manifestação popular expressa nos dias de folia carnavalesca. Dança que lembra os grupos indígenas. Alguns fatores que distingue os “Caboclinhos” de outras “tribos” nas apresentações dos dias de carnaval: ... não se vestem de penas; o ritmo de seus bailados é mais alegre e vibrante, não usam arco e flecha apenas como instrumento de guerra, mas, sobretudo, como instrumento musical, que lhes dá o ritmo para suas danças, realizadas ao som de gaita ou pife, que chamam flauta.
ARARUNA
A Sociedade Araruna de Danças Antigas Semi-Desaparecidas nasceu como entidade, com estatuto e sede própria a partir de 1959. O grupo de danças do Araruna apresenta-se geralmente, com oito a dez pares de dançarinos. Apresentam danças aristocráticas de salão, diversos números, alguns dos quais tipicamente folclóricos, outros, folclorizados. Xote, valsa, polca, são dançados ao lado do “caranguejos”, “bode”, “besouro”, besouro, “araruna”. O acompanhamento das danças é de sanfona e instrumentos de percussão.
Fonte: Deífilo Gurgel/Anuário de Natal – Continuaremos com outras Danças e Manifestações Culturais.
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5.1.09

Meus tempos de criança.

Gosto muito de música e vivo a letra. Existe uma de Ataulfo Alves, cujo nome é: “Meus tempos de criança”, que me é particular.
“Eu daria tudo que eu tivesse /Pra voltar aos dias de criança/ Eu não sei porque a gente cresce/ Se não sai de mim essa lembrança”.
Penso nos dias de criança. Éramos “unidos/desunidos”, quase todo o dia uma briga, depois as pazes.
Eu, Maurício Pitota, Flávio e Haroldo Azevedo, Carlinhos Limarujo, Carlos e Gerson Dumaresq, Toinho e João Ferreira. Ivan e Douglas Leite, Paulo César Cavalcanti, Eduardo Moura, Gláucio e Bergenaldo Wanderlei, Marcilio Carrilho, Gotardo e Paulinho Emereciano, Joca, Dudu e Barbosa Rodrigues, Ricardo e Roberto Bezerra, Fernando Baleia e Paulinho Barbosa, Paulinho Sobral, Jomar Monteiro, Pedro Sérgio Ferreira, Ideval Junior, Silvio e Cláudio Procópio, Valério Marinho, Aldemir Pintinho e Aldacir (Cabo Goia) Vilar, Fernando Cocentino, José Narcélio, Francisco Elmano (Boy) e Severino Marques Sousa, Paulinho Furtado, Ronaldo Góis, os irmãos Valdenor, Valdécio, Valmachio e Valderi Félix, Roberto Teixeira, Sérgio e Andre de Melo Lima, Wilson, José e Domirio Oliveira, Félix e Ivo Fialho, Emerson Almeida (Nego Xuxa), Cleiber e Fernando Ferreira, Eduardo Demônio Gomes, José Eduardo Vilar, Olivério e Silvério Noronha e muita gente que não vai dar para citar. Era um timaço que tinha a seu território entre as ruas Trairi e Açu, Afonso Pena e Floriano Peixoto no corredor central a Rua Mossoró.
“Aos domingos missa na Matriz”.
A Matriz era de Santa Terezinha e o seu pároco era o cônego Luiz Wanderlei, vascaíno doente, tinha horror à mulher que mostrava as partes “íntimas”. Na época, os ombros e os joelhos eram considerados tais partes. Era um pecado, ele rezava a missa em latim mais ligeiro do que ejaculação precoce e ficava passando os olhos pelas vestes femininas. Se descobrisse um ombro de fora ou a ponta de um joelho a igreja virava de cabeça para baixo, e a pobre moça era julgada como no tempo da inquisição. Isto porque, ele rezava de costas para os fieis, já pensou se fosse aos dias atuais? Nem minha mulher eu deixaria ir á igreja.
“Que saudade da professorinha/ Que me ensinou o bê a bá”.
Minha professorinha era (ainda é) Dona Maria Dourado, mãe dos queridos amigos Marcos e Mário Dourado. A escolinha começou na Rua Floriano Peixoto e terminou na Rodrigues Alves, Lembro-me de Ivoncísio Medeiros, os irmãos Alberto e Roberto Lima, Helio Dourado, este ria mais de que político, quando ri da miséria alheia.
“Onde andará Mariazinha/Meu primeiro amor onde andará?”.
Ah..., Meu primeiro amor..., Onde andara? Não posso dizer, todo primeiro amor tem um marido que é uma fera.
“Eu igual a toda meninada/ Quantas travessuras eu fazia”.
Fui muito travesso, eu era moleque (não MOLEQUE), fazia muitas travessuras que não desaprendi, ainda hoje sou assim.
”Jogo de botões sobre a calçada” Aí eu era bom, bom não, eu era ótimo, a turma toda era pato, não perdia uma. Isto valeu uma das maiores alegrias Limarujo que depois que abandonei o jogo de botões a quarenta e cinco anos, ele conseguiu me vencer por 2x1, com uma arbitragem facciosa de Manoel Enéas Pereira Dias que se vendeu pela quantia de cinco latas de cervejas Skol, que na época nem descia redonda. Foi festa grande em Muriú, com direito a carreata, Limarujo passou quinze dias sem dormir de alegria.
“Eu era feliz e não sabia”.
Realmente éramos felizes. Eu era feliz, brincava de tica, bandeirinha, bola de gude, carro de cocão ou de lata de leite ninho, peladas na calçada, o famoso bossa nova, uma espécie de barra a barra de uma calçada para outra, guerra de baladeiras e muitas outras. Tínhamos brincadeiras inocentes, como chamar militares de periquito, tapioca ou de meganha, só para que eles corressem atrás da gente. Corríamos dando sonoras gargalhadas. Até os gays eram famosos, (vejam só) Velocidade, Rosinha e Cu De Ouro. Tinha figuras folclóricas, como Cambraia que vendia jornais, um cidadão que ficava emputecido quando a gente gritava – Caju cadê a castanha? Havia Alicate um pedinte, que quando chamado pelo apelido corria com um canivete atrás de gente. As peladas nos terrenos de Seu Valdir e de Dr. Paulo Sobral. A casa de Silvio Procópio era vizinha e quando ele perdia, ficava puto da vida e soltava um cão (pastor alemão) dentro do campo, o espetáculo parecia os Cristãos entre os leões de Nero. Os choros e os juramentos de mortes eram constantes, mas com o tempo a paz voltava a reinar.
Entre tapas e beijos crescemos, criamos os nossos filhos e hoje, muitos com netos. As histórias e estórias certamente ainda são contadas.
Augusto Coelho Leal, engenheiro e avô.
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2.1.09

Bairros de Natal IV


REGIÃO ADMINISTRATIVA SUL

CANDELÁRIA – Este nome é procedente do Conjunto Habitacional Candelária, sendo conservado quando o conjunto passou à condição de bairro.
CAPIM MACIO – Informa Itamar de Souza que o nome Capim Macio é proveniente da própria vegetação da planície onde se expandiu o casario do bairro.
LAGOA NOVA – A instalação do Campus UFRN e do Centro Administrativo do Estado, no lugar onde existia uma lagoa nova, daí a inspiração do nome.
NEÓPOLIS – O bairro recebeu o nome em razão do conjunto habitacional com este nome construído pelo Inocoop-RN, que antecedeu a oficialização do bairro.
NOVA DESCOBERTA – O bairro se chamava Coréia dos Índios para depois se chamar Nova Descoberta, por ser uma nova descoberta para os favelados da seca de 1953, que ali se alojaram. Outros pesquisadores afirmam ter sido um seresteiro conhecido por Manoel do Óleo, que batizou o bairro com este nome.
PITIMBU – Pitimbu, segundo Câmara Cascudo, significa na língua indígena, água nascente, rio manadouro de camarão. É o nome do rio que corre em seu território, vindo de Parnamirim e formador da Lagoa do Jiqui. Este nome aparece em documentos datados do século XVII. O bairro herdou o nome do rio.
PONTA NEGRA – A primeira referência a este nome é do século XVII, durante a ocupação holandesa. Na cartografia do Rio grande do Norte de 1877, refere-se a casas de oração e escola pública na povoação de Ponta Negra. Possivelmente, devia existir na época, um acidente geográfico que lembrasse esta denominação.
Fonte: Manoel Procópio de Moura Jr (Anuário de Natal).

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