10.6.15

Ribeira de Dalton Melo de Andrade

Ribeira Nasci na Av. Deodoro, mas vivi minha infância, adolescência e juventude na Ribeira. Aos oito anos, fui fazer o Primário no Colégio Pedro Segundo, do Professor Severino Bezerra de Melo, no oitão, como se dizia naquele tempo, do Teatro Carlos Gomes. Hoje chamam de Alberto Maranhão. Depois das aulas, caminhava até uma das firmas de meu pai, o escritório de representações, que ficava na Rua das Virgens, cujo nome já mudou tanto que eu não sei mais como se chama. Cascudo? Nessa rua morava Lettieri. Das melhores casas da cidade. Na esquina dessa rua com a Tavares de Lyra havia, de um lado, a confeitaria de seu Noronha. Não poderia esquecer, pois era cliente assíduo. Do outro, uma sorveteria, Eldorado, cujo gerente era Jessé Freire. Sociedade com o sogro, seu Miranda. Também era cliente.Nesse tempo, qualquer chuvinha vagabunda afogava a Ribeira, se a maré estivesse cheia. Anos e anos, andei dentro d’água quando saía da escola para o escritório. Achava ótimo. Já depois de velho, chega José Agripino e acaba com as enchentes. Nunca o perdoei.A rua chique da cidade e da Ribeira era a Dr. Barata. Meu pai tinha uma firma nessa rua, em sociedade com Amaro Mesquita – a Casa Lux – uma loja de material elétrico. Posso estar enganado, mas acho que, especializada, foi a primeira de Natal. Muito depois, ainda com Amaro, abriu “A Marmita de Ouro”. Hoje, é a loja de um irmão. O nome continua na entrada .Nessa rua, o de mais moderno na cidade. As melhores lojas, o “footing” das mulheres bonitas, um movimento permanente. Que cresceu, exponencialmente, com a invasão americana. Chegaram a transformar a Ribeira, que encheu-se de bares e restaurantes. Até um cassino apareceu, na Rio Branco, por trás do Grande Hotel. Acho que se chamava Cassino Bianchi. Pleno Monte Carlo natalense. Nunca entrei lá, pois não tinha idade; nem dinheiro.A Ribeira era o centro de tudo. A Rua Chile, vibrante. Firmas exportadoras de algodão, couros e peles, secos e molhados. O trem passava por lá e ia até as Docas. Nessa época os navios vinham por aqui. Viúva Machado, Luiz Morelli, José Lucena, G. Lettieri. A mais famosa casa noturna daquele tempo, o “Wunderbar”, homenagem à Condor, depois “Wonderbar”, homenagem aos americanos. Uma letrinha mudou tudo. No primeiro andar de Lettieri. Tive a ousadia de subir as escadas um dia. Só para conhecer o visual. Bela vista do rio. Perdeu o lugar para Maria Boa, mais “atraente”.Frei Miguelinho, movimentada. M. Martins, na esquina com a Tavares de Lyra, rua que era uma festa. Lojas Brasileiras, em frente, que protagonizou o incêndio mais famoso da cidade. Até navios da Marinha vieram apagar o fogo, com mangueiras para usar as águas do Potengy. Perdeu o lugar para o incêndio do Mercado da Cidade Alta. Praça Augusto Severo, uma belíssima praça, posteriormente destruída por prefeitos de grande visão; segundo alguns. Hoje, evito ir à Ribeira. Sinto-me triste, dói o coração, perturba meu equilíbrio emocional, faz mal à saúde. Todas essas ruas estão destruídas. Sujeira, lojas fechadas, movimento limitado. Uma tristeza. E, para quem se recorda do que foi a Ribeira, como eu, a dor é grande. Promessas de recuperação pululam por aí. Mas, até agora, só promessas. Há esperança? Há. A infra-estrutura da Ribeira ainda é das melhores, e edifícios de apartamento vêm surgindo. Deus queira que se multipliquem e a Ribeira ressurja das cinzas, como uma Fênix natalense.