28.7.09

Selo de Ouro ao Natal de Ontem


Fomos indicados por Lívio Oliveira d'O Teorema da Feira e Sergio Vilar do Diário do Tempo para receber um Selo de Ouro.
Eis as regras, porque a brincadeira é séria:
1. Exiba a imagem do selo “Blog de Ouro”;
2. Poste o link do blog de quem te indicou;
3. Indique 4 blogs entre os de sua preferência;
4. Avise seus indicados;
5. Publique as regras;
6. Confira se os blogs indicados repassaram o selo.
Indicamos 4 blogs:

25.7.09

1943 - Visita de Roosevelt e Vargas

Boeing B-314 Dixie Clipper que trouxe Roosevelt ao Brasil em 1943
Clipper camuflado no Rio Potengi, no cais da Rampa.

Os aviões da visita de Roosevelt e Vargas a Natal em janeiro de 1943
(Frederico Nicolau*)

Natal. Manhã do dia 28 de janeiro de 1943. Um grande hidroavião camuflado com as cores da Marinha Americana amerrissa sem alarde no Rio Potengi. Eram 07h50min da manhã. O gigante hidroavião de 152 pés (46m) de envergadura e 106 pés (32m) de comprimento tinha dois andares, três lemes e quatro motores. Os natalenses, vivendo de perto a Segunda Guerra Mundial já tinham se acostumado ao rugido dos motores de aeronaves militares pousando e decolando do rio. Mas esse avião tinha algo de diferente nas suas inscrições, não um esquadrão, ou mesmo a insígnia da Marinha, mas os dizeres NC 18065 no leme, Pan American Airways na sua lateral e grandes bandeiras dos Estados Unidos no nariz e leme central. À sua chegada seguem-se procedimentos anormais, uma lancha vem buscar os passageiros, que vão direto ao USS Humboldt, ancorado próximo ao cáis da Tavares de Lira, ao invés da recém inaugurada Estação de Passageiros da Panair do Brasil, um novíssimo prédio com fachada de 8 arcos, um píer de atracação para os hidroaviões e uma torre de observação no terceiro andar. Essa Estação de Passageiros é o hoje conhecidíssimo “Prédio da Rampa”. Vinte e cinco minutos depois amerrissa um segundo hidroavião com as mesmas características, mas com a matrícula NC 18064 e o motor numero 3 embandeirado. Agora sim, se suspeitava algo incomum estava acontecendo.

Essas aeronaves eram dois Boeing B-314 Clipper da Pan American Airways sob requisição da Marinha Americana para realizarem a SM 71, Special Mission 71 (missão especial número 71), que era trazer o presidente Franklin Delano Roosevelt, da Conferencia de Casablanca no Marrocos para uma reunião com o Presidente do Brasil, Getúlio Vargas, em Natal e depois seguir a Miami, de onde a comitiva do Presidente Americano seguiria de trem a Washington.

A SM 71 começou em Bathurst na Gâmbia Inglesa. Com tripulação da Pan American em uniformes da Reserva da Marinha Americana, o NC 18064 batizado de Atlantic Clipper era pilotado por Richard Vidal e o NC 18065 batizado de Dixie Clipper era pilotado por Howard M. Cone Jr e tinha como co-piloto Frank J. Crawford. Cada avião tinha 10 tripulantes da Pan American. O “Dixie” transportava o presidente Roosevelt mais 8 pessoas da comitiva presidencial. Este avião já havia feito história antes, quando em 1939 inaugurara a rota Estados Unidos – Europa da Pan Am.

Os passageiros VIP desfrutaram de um turbulento vôo a princípio, até os pilotos baixarem para 1000 pés, por toda a duração do vôo de 1841 milhas (2.962 Km) até Natal. Chegando à costa brasileira o NC 18064 começou a cuspir óleo do terceiro motor quando o Engenheiro de Vôo Donald R. Fowler falou ao piloto para desligar o motor e embandeirar a hélice. Tendo saído de Bathurst às 23h36min hora local do dia 27 de fevereiro de 1943, ganharam três horas na travessia graças a fortes ventos de cauda. O NC18064 que partira antes chegou 25 minutos depois do NC 18065 devido ao motor cortado.

Mais surpresas estavam por vir. Onde estava o presidente brasileiro Vargas que se encontraria com Roosevelt em Natal? Já em Natal, sem o conhecimento das autoridades locais. Ele havia chegado dia 28 durante a madrugada num vôo saído do Rio dia 27 à noite com autoridades militares americanas entre elas o Almirante Ingram, comandante da 4ª Frota da Marinha Americana e o Embaixador Americano Jefferson Caffery. Só no dia 28 comunicou sua presença, quando estava a bordo do USS Jouett. Foi um escândalo.

Vargas e Roosevelt passam o dia 28 juntos, primeiro visitam no famoso Jeep “7” o VP-74 que estava baseado na parte alemã da Rampa, hoje 17° GAC, onde funcionou a Syndicato Condor até 1939, contíguo à Estação da Panair. De lá partem em inspeção às instalações militares brasileiras e americanas em Natal, culminando na visita a Parnamirim Field, ou Base Aérea de Natal, sede do ATC’s South Atlantic Wing (Ala do Atlântico Sul do Comando de Transporte Aéreo) e do VP-83, que dias antes tinha afundado o primeiro U-boot em águas Brasileiras, o U-164. De lá retornam num sedã preto, passando pela Praça Pedro Velho e sendo vistos por Lenine Pinto, autor de vários livros sobre esse período.

Com o Atlantic Clipper quebrado, a Marinha Americana requisita outro Clipper para substituí-lo, o American Clipper NC 18606, mas Roosevelt não pode esperar.

No dia 29 de fevereiro de 1943, a comitiva presidencial parte às 05h10min da manhã para Parnamirim Field, onde dois C-54 os aguardam para levá-los a Trinidad, onde encontrarão os Clippers, nos quais seguirão viagem a Miami.

Os C-54 camuflados do ATC já haviam servidos a Roosevelt na sua viagem à África e foram mandados a Natal para ficar em standby. Eram tripulados pelos pilotos da TWA (então Trans Western Air e depois Trans World Airlines de Howard Hughes, personagem do filme “O Aviador”) Otis Bryan e Don Terry. O C-54 de Brian decolou com o presidente Roosevelt às 06h da manhã, com o segundo C-54 decolando 15 minutos depois, voando numa altitude de 8 a 10 mil pés a uma velocidade de 180 mph (290 Km/h). Roosevelt pousou em Waller Field em Trinidad às 16h15min após voar 2135milhas (3435 Km) de Natal em 11 horas e 15 minutos.

No dia 30 de janeiro, a comitiva presidencial vai ao Aeroporto Cocorite para embarcar nos Clippers Dixie e American. O Comandante Cone do Dixie Clipper parte então às 7 horas da manhã, e às 12h30min (16:30 GMT) erguem um brinde em homenagem aos 61 anos de Roosevelt, que os completa dentro do Dixie Clipper voando sobre o Caribe. Foram servidas torradas e caviar, palitos de aipo, azeitonas, peru assado, molho de cramberry, ervilhas, batatas e café. Após a louça do almoço ser retirada, um bolo de aniversário com velinhas foi colocado à frente de Roosevelt, que o cortou a 8000 pés de altitude.

Ás 16h35min do dia 30 de janeiro de 1943 os Clippers pousam em Miami, de onde saíram em 11 de janeiro na SM 70 com destino a Bathurst (Gâmbia Inglesa) via Port of Spain, Trinidad e Belém, Brasil. Missão cumprida.

(*Pesquisador da Fundação Rampa - Fotos: Arquivo da FRampa)

23.7.09

"Seu Ribeiro": o português potiguar.


Manuel Gonçalves Ribeiro (Ney Lopes de Souza*)
Conhecido como "seu Ribeiro" - o português potiguar, se vivo fosse teria completado cem anos, neste mês de julho. Ele adotou Natal como a sua segunda cidade de estimação. Aqui chegou em 1933 e instalou a filial da empresa "Alves de Brito Tecidos". Em 1949 implantou, pioneiramente, o "Cotonifício Norte-Rio-Grandense SA" - a primeira indústria de fiação do RN, com o aproveitamento de algodão puro. Antes, existiram cascanifícios, que fabricavam fios a partir de resíduos do algodão.
"Seu Ribeiro" sonhava com uma indústria de fiação em Natal, por ter conhecido na adolescência a "fábrica de fio Ferro" em Fafe, a sua terra natal, onde o pai trabalhou.
Por coincidência, as comemorações do centenário de nascimento de "seu Ribeiro" ocorrem no momento em que visita Natal o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (equivalente ao nosso prefeito), senhor Antonio Costa e comitiva, em retribuição a oportuna iniciativa da prefeita de Natal, que promoveu recentemente a Semana de Natal, em Lisboa.
Manuel Gonçalves Ribeiro nasceu em 14 de julho de 1909 na cidade de Fafe, em Braga, região do minho. Graduou-se em contabilidade, equivalente a nível superior. Chegou ao Brasil em 1927, no navio "Almazora", com o primo José Gonçalves, mais tarde proprietário em Recife da "Confecção e Lojas Tecidos Cardoso SA". "Seu Ribeiro" atendeu o convite do seu tio (irmão de sua mãe), Manuel Gonçalves, que era proprietário de uma grande fábrica de tecidos em Neópolis, Sergipe, na qual trabalhava o seu pai, João Ribeiro. Lá encontrou o irmão, Manuel Ribeiro - pai do escritor João Ubaldo Ribeiro -, que ingressou na política e foi reitor da Universidade da Bahia.
João Ubaldo Ribeiro - sobrinho de "seu Ribeiro"- participou, ao lado de Jorge Amado, Luis Borges e Gabriel Garcia Marques, de uma série de nove filmes produzidos pela TV estatal canadense sobre a literatura na América Latina.
De fala mansa, observador e estilo diplomático, "seu Ribeiro" formou largo círculo de amigos em Natal. Católico e devoto da "Senhora de Antime", festejada na freguesia de Fafe, se interessou pelas comemorações da padroeira de Natal - Nossa Senhora da Apresentação. Foi durante a festa do Rosário em 1934, que conheceu a sua esposa Almira Bezerra Freire Ribeiro, com quem se casou em 4 de janeiro de 1940. O casal teve três filhos, sete netos e dez bisnetos. Mais tarde, doou terreno à diocese de Natal e construiu a Capela de Santo Antonio, o padroeiro de Lisboa, ao lado do atual Portugal Center, em cuja área funcionou o "Cotonifício norte-rio-grandense".
Um dos traços marcantes da personalidade do "seu Ribeiro" foi a cordialidade. Gozava da estima de quem com ele convivia. Apreciava o "papo" na "Confeitaria Delícia", do português Olívio e no Granada, do espanhol Nemésio, sempre em companhia de Roberto Freire (cunhado), Luis de Barros, José de Rubens, seu barbeiro Chico Gororoba e outros. Recordava as evoluções da dança portuguesa do "Vira" e o preparo especial do bacalhau, dobradinhas, galinha ao molho pardo e o bolo de ameixa.
"Seu Ribeiro" - o português potiguar - merece ser lembrado e receber homenagens póstumas no seu centenário de vida. Como empreendedor, ele abriu o caminho para a indústria local criar as condições de implantação no RN de um pólo de confecções e fabricação de fios, o que perdura até hoje. Fez tudo isto, com incontestável honradez e competência.
Mais uma razão para a prefeita Micarla de Souza consolidar os laços de amizade e cooperação da cidade de Natal com Portugal!
(*Advogado e Jornalista)

18.7.09

A Cidade Menina

Rua Tavares de Lira, ao fundo Praça José da Penha

A Cidade Menina (*)

Pequena, sem diversões, sem vida noturna, era a cidade do Natal no passado.

Era uma menina que não queria ficar moça. Por quê?
Seu povo, porém, sempre foi simples e bom e dentro das suas possibilidades continuava vivendo. Havia educação e havia instrução.A cidade sempre encantou a todos quando a viam desde a primeira vez. Conhecimentos, amizades, namoros... Em poucos minutos podia-se conhecer Natal, mas sempre foram precisos anos para compreendê-la. Muitas pessoas chegaram de outras plagas e hoje vivem em Natal por algum motivo. A maioria, no principio eram militares que a guerra foi buscar nos mais diversos recantos do Brasil e do mundo.
Boas avenidas, boas praias, comércio, ensolarada e uma brisa que nos dá uma sensação térmica inusitada e as mulheres lindas.
Em duas palavras: conforto e qualidade de vida.

Para quem aqui veio de outros lugares, apesar dos pesares, encontrou o que é bom e agradável, o que faz bem ao corpo e ao espírito. Pois bem. Em Natal, encontraram uma cidade diferente, mas em momentos de desânimo, de tédio, nunca deixaram de explodir alguma exclamação menos lisonjeira para a cidade que o acolheu tão bem.
Muitos ainda reclamam de certas coisas embora não saibam justificar porque aqui continuam e porque não retornam para seu rincão. É lógico que, aqui sempre tiveram a oportunidade de gozar das delícias de uma vida com grande grau de tranqüilidade e sentem à vezes certa revolta porque vivem do saudosismo do ambiente, do lar e dos consangüíneos, embora aqui tenham constituído família.
É necessário os pontos nos ii...
Em Natal, gostariam de encontrar uma cidade igual às grandes metrópoles, mas se sabe que o Brasil é um "caso" puramente geográfico. Temos grandes cidades - bem adiantadas, mas o que vemos é verdadeiramente digno de atenção por parte dos que trabalham pelo desenvolvimento moral e material do nosso Brasil.
Sob a influência, inicialmente da II Guerra Mundial, e de outros fatores como a seca , a emigração, o turismo, etc., a sua população aumentou consideravelmente. Considerando esse aumento populacional a vida passou a ser enfrentada sob outro aspecto, carestia, falta de se segurança e de saneamento básico, entre tantas outras coisas.
A benevolência, a boa vontade e paciência do natalense para com os que aqui chegaram e que muitas vezes não perdem a oportunidade de menosprezar a cidade que o acolheu de braços abertos e que culpa nenhuma tem das transformações sociais e ideológicas que se passam no mundo. São principalmente aqueles para quem uma separação é verdadeira tortura, pois não sabem por quanto tempo e, o mais doloroso, se voltarão às origens.
Porque, longe dos que são caros, longe de todo o conforto (sic) de outrora, enfrentando obstáculos, sem ter a ocasião de encontrar bons divertimentos, bons lugares para recrear o espírito, talvez seja a justificativa para que saia uma com uma expressão áspera, em sinal de protesto - o grito d'alma de quem não está satisfeito com a vida que levam, ou mesmo, ingratidão.
Mas os natalenses amigos e acolhedores perdoam os que ofendem a sua cidade, porque ela não perde sua simpática e encantadora característica.
Natal realmente hoje está muito diferente. Transformou-se, como tudo, segundo Lavoisier, e surgiram novidades de todas as formas, mas sempre continuará com seu clima saudável e de noites bonitas.

Não se pode esquecer a Natal do Grande-Ponto, da Cidade Alta e da Ribeira. Natal d'A Rádio Educadora, d'A República, d'O Diário e d'A Ordem. A Natal do Alecrim, de Petrópolis e do Tirol. Das Ruas pequenas e bem limpas, onde se nota ainda a falta de arborização. Natal dos Cinemas Rex, Rio Grande e São Luiz e do Teatro Carlos Gomes.
Natal das garotas simples, simpáticas e bonitas. Da mocidade do Ateneu, do Colégio das Neves, da Escola Doméstica, do Ginásio 7 de Setembro, do Colégio Santo Antônio. Natal dos esportistas do ABC, do Alecrim, do Santa Cruz, do América e do Atlético e de tantos outros.
Em Natal se pode encontrar ainda um tempo que não acabou como cidade inteligente e culta, onde se podia encontrar Luís da Câmara Cascudo, Elói de Sousa, Esmeraldo Siqueira, Lourenço Branco, Américo de Oliveira, Floriano Cavalcanti, Rui Paiva, Alvamar Furtado, Antonio Fagundes, Djalma Maranhão, Prof. Saturnino, entre tantos outros da velha guarda.

Natal sempre será a cidade do estuário do querido do rio Potengi - o rio que é um verdadeiro poema ao som de Royal Cinema ao entardecer e onde sempre se recebeu verdadeiras lições de experiência da vida e de brasilidade. A cidade das boas amizades e das confrarias sem pedantismo.
Será Natal - sempre e sempre - nosso berço e nossa alma... com nosso orgulho de ser NATALENSE!

(*Com modificações ao texto original de Augusto Fernandes)

15.7.09

Natal e a II Guerra (I)


Natal e a II Guerra Mundial - Parte I (Minervino Wanderley*)

Com a chegada da Segunda Grande Guerra, houve a implantação da Base Aérea de Parnamirim, que terminou sendo responsável pela consolidação do bairro do Tirol, além de contribuir para o surgimento dos bairros de Lagoa Seca e Lagoa Nova.
Na visão de Ethiene Reis, morador do Tirol desde 1935, "antes da Grande Guerra, Natal começava pela Ribeira e terminava por aqui, mais ou menos onde é 16º Regimento de Infantaria. Para lá, onde hoje é Candelária Ponta Negra, não tinha nada, tudo deserto", afirma.
Pery Lamartine destaca a importância da Segunda Grande Guerra para Natal, no que se refere à sua geografia:
"Natal tinha cerca de 30 a 40 mil habitantes antes da guerra. A cidade terminava perto do Aero Clube. Para se ter uma idéia, os bondes que faziam a linha para o Tirol, nem chegavam a ir lá. Paravam ali onde hoje é a Associação Atlética Banco do Brasil-AABB, exceto quando tinha baile no Aero, que era uma vez por mês. A última construção que tinha era o prédio do Aero Clube".
Diante dos depoimentos colhidos e das pesquisas feitas, vê-se claramente que a cidade do Natal do pré-guerra não passava de uma grande vila, com carências peculiares a lugares desse porte. Sua infra-estrutura era débil e sua economia não apontava para perspectivas otimistas.
A cidade pacata e pequena, que "cresce sem querer e sem saber porque", que, segundo contam, era uma frase atribuída ao seu filho mais ilustre, o folclorista Luís da Câmara Cascudo, continuaria assim até
O início da Segunda Guerra Mundial. Foi então que sua geografia pesou como nunca no seu crescimento: os americanos, mesmo antes de deflagrada a guerra, perceberam que Natal era a cidade das Américas mais próxima da África. Ou seja, um lugar de grande valor estratégico na defesa do Atlântico Sul.
Sua proximidade com os continentes europeu e africano fez com que, desde a sua fundação, Natal tenha sido sempre um lugar "cortejado" por povos de diferentes origens, que viam a cidade como um perfeito trampolim entre os continentes.
A chegada da Segunda Guerra Mundial mudou radicalmente o perfil da cidade de Natal. A instalação da base militar em Parnamirim provocou impactos econômicos e sociais na cidade, deixando evidente o seu despreparo para absorver essa nova situação que se desenhava.
A chegada de grande contingente militar americano, que em alguns momentos chegou a cerca de 10 mil homens, demandou um aumento na quantidade de serviços nas áreas de construção, infra-estrutura urbana (transportes, hotéis e pensões) e abastecimento. Tal situação atrai, de imediato, a população em razão da oferta de emprego civil e militar, além das oportunidades surgidas pela grande circulação de dinheiro que ocorria na cidade.
Graças ao grande poder aquisitivo do povo americano, a Segunda Guerra trouxe benefícios à população, que passou a conviver com uma moeda - o dólar -de grande lastro, respeitada em todo o mundo e que viria e ser, depois da Guerra, adotada como referência na economia universal. Sobre esses momentos, Guiomar Araújo, esposa do comerciante Alcides Araújo, então proprietário da Casa Rio, conta: "O período da Guerra foi muito bom para o comércio. Além de os americanos gostarem muito de comprar nossas mercadorias, o dinheiro passava de mão em mão. O americano gastava num bar, o dono bar comprava mercadoria para abastecer no mercado, o dono do mercado comprava ao agricultor ou criador e por aí, ia". Via-se, então, que a circulação monetária trazia bens significativos à cidade e seu povo.
Se houve benefícios à sociedade como um todo, o impacto financeiro provocado pela presença americana entre nós também trouxe ganhos individuais. Comerciantes, industriais, proprietários de imóveis etc. Sobre isso, Smith Júnior relata: "Muitos natalenses ganharam dinheiro dos americanos durante a guerra. Um dos primeiros foi a Amélia Machado, que era proprietária da maior parte das terras nas quais a Base de Parnamirim foi construída. Um outro que obteve lucros foi Theodorico Bezerra, proprietário do Grande Hotel, único hotel de Natal naquela época, hospedava os oficiais americanos, recebendo o pagamento em dólares".
Na obra desse historiador, encontramos a história do começo de um dos mais bem sucedidos empresários potiguares. Vejamos: "Um judeu, Moisés Feldman, abriu uma loja na Ribeira, perto do cais do porto, onde vendia relógios aos americanos. Seu negócio tornou-se tão lucrativo que contratou um empregado, Nevaldo Rocha, que mais tarde tornou-se um rico empresário dono de uma cadeia de lojas, as Confecções Guararapes". Com efeito, Nevaldo tornou-se um dos maiores empresários do ramo de vestuário do país, criando uma grande cadeia de fábricas e lojas no Brasil e no exterior, as Lojas Riachuelo.
Por outro lado, a inviabilidade de importar produtos como hortaliças, legumes e aves, levou o comando militar norte-americano a articular, em Natal, a instalação de pequenas unidades de produção agrícola.
Até aquele momento, a agricultura em Natal que ainda era dominada pela monocultura da cana-de-açúcar e pela cultura de subsistência, passou a ter uma outra alternativa econômica fundamentada nos pequenos produtores de hortifrutigranjeiros, contrastando com os latifúndios nas áreas rurais do agreste potiguar.
Como se antevia, os problemas básicos de uma comunidade que cresceu abruptamente e sem planejamento, começaram a surgir, trazendo consigo uma espiral inflacionária. Clementino nos diz que "as restrições ao livre trânsito das mercadorias terminam por provocar uma crise de abastecimento. Os preços dos gêneros de primeira necessidade, como carne, ovos, manteiga, banha, farinha de trigo, feijão, etc, aumentam sensivelmente, tornando-se impossível a manutenção de pessoas de limitados recursos".
(*Jornalista)

11.7.09

"La Belle de la Nuit"

Maria de Oliveira Barros - A Bela da Noite
Maria com um lança- perfume Rodouro

Uma réplica do avião B-25 com o nome de Maria Boa

Maria fantasiada para o carnaval

7.7.09

Ainda sobre Zé Areias

Rampa em 1942
BALÕES VERMELHOS

Eu estava sentado na minha cadeira, em frente ao birô de madeira, do tempo antigo, mais que isso, quando Zé Areias, que estava sentado numa cadeira do escritório, lendo uma revista de um número atrasado, disse que, na China antes daquele tempo, era comum os comerciantes pendurarem balões vermelhos com velas no seu interior, nas salas das casas de negócio para vender a quem quisesse comprar. Com certeza, Zé Areias estava lendo tal artigo na revista, pensei eu. Ele falou aquilo para quem quisesse ouvir. Zé Areias, cujo nome era José Antonio Areias Filho, era um homem dos seus 50 anos ou mais. Quando os soldados norte-americanos estiveram aquí, no tempo da IIª Guerra, ele esteve por todo o tempo lá pelo Campo de Parnamirim, no Rio Grande do Norte, fazendo a barba, cortando o cabelo dos gringos e mesmo vendendo urubu como se fosse peru. Ele era um homem vivedor como ninguém sabia. Depois da Guerra, veio o perído de recessão para Zé Areias. Quando não tinha nada o que fazer, ele vendia rifas de qualquer coisa: bode, burro ou carneiro. Dava gosto de ouvir o que o homem contava em suas façanhas dos dias e das noites e, de quando em vez, com seu corpo cheio de gorduras, peitos caídos até a barriga enorme por sinal, ele parava a conversa com um tradicional "plutzz" que costumava fazer entre os lábios carnudos. Com relação aos balões vermelhos, dizia Zé Areias, era uma tradição do povo a colorir suas moradias, principalmente no final de ano, quando eram recebidos os parentes para tomar um chá em meio da conversa, não raro, para acertar um casamento entre seus familiares. Com relação ao chá, contava o barbeiro gozador, que foram os chineses os seus inventores. Certa vez, um cidadão da aldeia fazia uma poção de água quente com folhas de ramos de alguma coisa que ele chamava de "agua quente". Estava o homem a mexer a água quente quando não sabe bem porque, a poção derramou sobre seus braços, busto e corpo a baixo. Indignado com o incidente mal acontecido o chinês gritou: "CHÁ", como forma de desespero e malcriação. Não se sabe ao certo, a verdade é que daquele dia em diante quem procurasse a água quente com gravetos finos de árvores saberia dizer que estaria procurando tomar um "chá" para beber, pois foi assim que se passou a chamar a tradicional de água com gravetos. Tal fato, Zé Areias contava enquanto o meu tio Zeca, sorria, baixinho, gordo como era, com as alfinetadas do barbeiro natalense. Era frequente a visita de Zé Areias ao escritorio de José Leandro, o tio Zeca, pois havia uma enorme afinidade entre os dois homens. Ze Leandro era mais moço sete anos que Zé Areias. Mas, nas alfinetadas da vida, apesar da diferença de dinheiro, não havia nada a temer. Zé Areias, por certo tempo, quando os norte-americanos estiveram por aqui, ele era um homem cheio de dólares e costumava ir aos bares da Ribeira onde gastava tudo o que levava em uma noite. Se alguém perguntasse a ele o que havia feito para gastar tanto dinheiro assim, ele respondia: "Dólares em alta!!!". E assim continuava a beber à noite toda. Com relação aos balões vermelhos, ele dizia sempre: "Um dia eu ainda vou lá!!!". Logo a seguir. mudava de assunto, pois a China era longe demais, apesar das chinesas serem mulheres cheias de candor. E por uma mulher de qualquer tipo ou preço, seja lá como fosse, que fosse gorda, rechonchuda, ele estava pronto para ir até à China. (Alderico Leandro Blog Asa Morena)

4.7.09

ABC, América e Alecrim

ABC 1970 - Campeão


América 1967 - Campeão




Alecrim 1968 - Campeão


(Fotos repassadas por Carlos Linhares)

1.7.09

Esmeraldo Siqueira


Memórias de um ex-aluno
(Cláudio Galvão*)
Era o ano de 1954 e o Atheneu instalava-se na Avenida Campos Sales, ficando o centenário e histórico prédio da Avenida Junqueira Aires entregue a mãos impiedosas para sofrer logo após uma criminosa e desnecessária demolição.
Prédio novo, carteiras novas, professores antigos. Ainda alcancei nomes emblemáticos do ensino, como Antônio Pinto de Medeiros, Floriano Cavalcanti de Albuquerque, Raul de França, Albimar Borges, Nevinha (de Geografia), Sebastião Monte, Protásio Melo e Esmeraldo Siqueira.
Minha turma era muito bagunceira nos intervalos, mas até "bem comportada" em aula, embora nela estivesse Tota Zerôncio, o tipo mais gaiato que conheci até hoje. As aulas em geral transcorriam sem alterações, até mesmo as de francês, que abordavam a literatura daquele país, algo tão desconhecido de nós pobres iletrados estudantes.
As aulas do Professor Esmeraldo Siqueira eram ouvidas com o maior respeito e atenção. Naquele tempo aulas eram para ser ouvidas apenas, não havia isto de pesquisa, trabalho de grupo e outras modernidades.
Esmeraldo falava de um tema que podia ser o mais chato do mundo: a literatura francesa. Mas ele conseguia tornar o assunto agradável ao abordar detalhes curiosos e muitas vezes escabrosos da vida dos autores e gente daquele tempo. Fatos e mais fatos, nomes de poetas e escritores ainda estão na minha memória, graças ao seu cuidado e recomendações para a correta pronúncia de cada nome.
Provas, correções, 2ª época, reprovações? Nunca houve. Para que? - devia perguntar, se o que fazia era plantar sementes. Sem isso não teria eu ido à biblioteca que ficava no primeiro
andar, para ler Georges Sand.
Ingressando no magistério, volto ao Atheneu como professor e, em 1962, fui vice-diretor da turma matutino: era "chefe" dos professores, entre eles, de Esmeraldo Siqueira. Todos o consideravam irritável e rebelde. Comigo nunca o foi pois sempre o considerei e respeitei.
No mesmo ano de 1962 fui admitido como professor da Faculdade de Filosofia que, antes de passar para a UFRN, funcionava na Praça Pedro Velho, atual Colégio Anísio Teixeira. Eis-me novamente "colega" de Esmeraldo Siqueira.
Ali, nos momento de folga, aproximava-me do mestre na expectativa de aprender um pouco mais. Foram momentos de muito proveito, quando rememorava fatos e personagens do seu passado. Nunca o vi irritado, mas sempre de bom humor, direcionando sua ironia para seus prováveis adversários.
Guardo na memória expressões, apelidos, comparações e quadrinhas feitas "na hora", quando "premiava" alguém que passava e despertava atenção. Lembro-me que, uma vez, comentou comigo que a nossa diretora o havia desatendido em uma reivindicação de que se julgava merecedor.
Então, desferiu o míssil destruidor: "Ela não sabe com quem mexeu. Vai sair na próxima FAUNA POTIGUAR!" Sorte dela que os poemas caricatos FAUNA POTIGUAR não foram continuados.
A última vez que vi o Professor Esmeraldo Siqueira foi quando de uma visita em sua residência, à Rua Jundiai. Já estava doente e - não nos esqueçamos de que era médico - sabia o que tinha. Foi então que, apontando para as estantes que contornavam sua sala de visitas, disse: "Estou relendo todos os meus livros. Estou me despedindo de minha biblioteca."
Esmeraldo viria a falecer tempos depois - e só aos poucos aquelas frases que guardei foram se abrindo para mim, desvendando o seu profundo conteúdo.
Nunca ouvi falar que alguém se despedisse de uma biblioteca. Nunca senti em ninguém tão grande testemunho de amor pelos livros e, naturalmente, pela cultura que eles continham. Cultura que Esmeraldo Siqueira viveu, amou e divulgou. Cultura que era parte essencial de sua vida, seu mais constante testemunho e, havendo sido sempre professor, seu legado maior, sua mais elevada missão.
(*Historiador e Pesquisador)