29.12.09

Aruá

Hillman 1948
Hillman 1949

"Conheci Aruá trabalhando como motorista na Praça Hillman. Era um cara formidável e por seu intermédio conheci Chaguinha, seu colega de profissão que trabalhava na Praça da Ribeira. Eram dois motoristas natos, cada vez que se encontravam surgia sempre uma piada diferente. Nunca vi tanto senso de humor e a, além disso, os dois moravam em Lagoa Seca e eram vizinhos.
-x-
Um dia Aruá acordou mais cedo e sentou-se na calçada.
Chaguinha viu aquilo e sentou-se ao seu lado e começaram a conversar.
Lá pras tantas Chaguinha diz:
“Minha mulher passou a noite arriada”.
Aruá pergunta:
“Por quem?”.
Passaram-se muitos dias e a cena se repetiu. Chaguinha sentado na calçada e chega Aruá e começam a conversar. Lá pras tantas Aruá diz:
“A minha mulher está grávida”.
Responde Chaguinha:
“Você já desconfia de alguém?”.
-x-
Aruá chega em casa, e sua mãe o estava esperando e foi logo dizendo: “Está faltando tudo nesta casa, falta café, açúcar, pão, feijão, carne, farinha, água, luz,... afinal de contas não tem nada”.
Responde Aruá:
“Então vamos nos mudar”.

Aruá trabalhou algum tempo comigo sendo demitido depois de algum tempo. Porque embora fosse uma excelente pessoa como funcionário me trazia alguns problemas. Depois de demitido, e transcorridos alguns meses me encontrei com ele e disse:
- Aruá, quanto tempo que não lhe via!
- Pedro, se você quisesse me ver, não teria me demitido, respondeu".

Por Pedro de Oliveira Cavalcanti - Pedro de Nezinho, meu pai.
Fotos: Automóveis Hillman 1948 e 1949.

27.12.09

Feliz Ano Novo!


Estamos nos aproximando do Ano Novo.

Poucos dias para o término do ano velho que passou com dificuldades para muitos enquanto outros tranqüilamente o atravessaram.

Riquezas, não só materiais, ganhas, riquezas perdidas, entre elas pessoas queridas e importantes na nossa vida.


Teremos no próximo ano a repetição orquestrada de várias coisas.

Teremos Copa do Mundo.

Teremos campanhas políticas com promessas vãs abundantes de mentiras e falsidades.

Teremos Papos-cabeça sobre aquecimento global e recuperação da economia.

Teremos de ouvir declarações e promessas de dirigentes que entrarão no anedotário universal, mas que refletirão nos costados dos humildes.

Teremos os impostos aumentados de uma forma ou de outra,

Que seja um ano, mesmo assim, com sol para deleite dos urbanos e litorâneos, mas com chuva suficiente para os trinta por cento dos brasileiros que produzem para esses.


Que a educação e saúde cheguem um pouco mais, nunca um pouco menos, para os jovens, adultos e idosos.

Que os ateus e agnósticos sejam iluminados com um pouco de religiosidade.

Que os poderosos caminhem em direção ao fim das guerras.

Que a ganância e a inveja sejam pelo menos atenuadas nos corações de cada um.

Que seja possível aprender com os solidários a ser como eles.

Que não deixemos de cumprir nossas juras e promessas ditas nos momentos de confraternização.

Que seja realmente um Ano Novo com muito amor em nossos corações.


FELIZ ANO NOVO PARA TODOS!

25.12.09

É Natal!







O Aniversário do Sagrado Menino Jesus
Autoria de Jania Souza - http://janiasouzaspvarncultural.blogspot.com/

Sorrisos fartos, abraços solidários
Brilho de luzes multicores
No túnel que são as ruas da vida.

As fachadas dos prédios, das casas, dos bares
Sussurram cantigas em baladas de sinos.

Olhos brilham na sinfonia universal
São anjos sempre invisíveis
Ou disfarçados de homens, mulheres, crianças
Inspirados na emoção maior da fraternidade.

O ar com seu jeito mágico de Natal
Flui o nome maior da cristandade
E revela que há possibilidade na terra
Para o amor e a paz.

Portas abrem-se à luz!

Em seu humilde berço
O sagrado Menino
Estende seus braços
E colhe as dores debulhadas nas estradas.

Transforma com seu toque terno
As lágrimas de mágoas
Em sementes de esperança
Abençoadas com as pétalas do amanhã.

O parabéns repete-se constante, firme
Na voz de anjos de qualquer origem
Com a certeza da durabilidade
Do amor extraído do Ser precioso
Que é o Sagrado Menino.

Poema de Natal
Vinicius de Moraes

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Fotos de Canindé Soares e Tribuna do Norte do Auto do Natal de Natal 2009: Jesus, Maria e José.

23.12.09

Programação do Natal em Natal - 2009


DESFILE ESTRELA DO NATAL
A alegria natalina em forma de cor, luz e movimento. Diversos personagens do natal tomam conta da avenida,, enchendo os olhos de crianças e todas as idades. Dias: 25, 26, 27, 29/12 e 02, 03, 05 e 06/01/2010 na Praça Cívica.

AUTO DO NATAL – MÚSICAS NATALINAS
Um espetáculo que retrata o nascimento do Menino Jesus com grande produção e elenco. Em seguinda, apresentações musicais animam a noite de milhares de pessoas. 23/12 A partir das 19 horas no Anfiteatro da UFRN.

ILUMINAÇÃO E DECORAÇÃO NATALINA
Natal se enche de luz e uma ornamentação especial é preparada para aumentar ainda mais o encaonto da festa. Postes, fachadas, árvores e prédios iluminam todos os cantos da cidade com a beleza e a magia do Natal.

CANTOS E ENCANTOS DE NATAL
A música é uma das principais características natalinas. E no Natal em Natal, ela é cantada e celebrada por corais da cidade em um grande festival aberto ao público. Dia 28/12 a partir das 18:30 na Praça do Natal em Mirassol.

FEIRA DE ARTESANATO NATALENSE E ATRAÇÕES LOCAIS
Até 06/01/2001 na Praça do Natal em Mirassol das 16 às 22 horas.

RÉVEILLON
A virada do ano em Natal é comemorada em quatro caminhos. O caminho das Dunas, na praia da Redinha; o Caminho da Praia na Praia do Forte e na Praia dos Artistas; o Caminho do Morro, na praia de Ponta Negra; e o Caminho da Cidade, com programação de eventos nas ruas do centro histórico. Shows pirotécnicos e artistas locais garantem a emoção na despedida do ano velho. A partir das 18:30 horas no dia 31/12 com shows pirotécnicos na virada do ano

FESTA DE SANTOS REIS
Missas, novenas, procissão, apresentações de grupos folclóricos, barracas, comidas típicas e shows são alguns dos igredientes desta grande festa de fé e alegria comemoranda sempre no início do ano. De 28/12 a 06/01/2010 na Praça de Santos Reis..

ANIVERSÁRIO DE NATAL
18 horas: Missa e 21 horas Show de Padre Fábio no Machadão.

22.12.09

Clarice Palma


Clarice da Silva Pereira Palma, norte-rio-grandense de Natal. Filha do ator teatral e poeta, Francisco Palma e de Júlia Teixeira da Silva Palma.

Orgulhava-se por ter herdado do seu genitor todo o temperamento artístico. Como atriz-poetisa, dedicou a maior parte de sua vida à Arte Cênica, o que lhe valeu, o maior aplauso e forte entusiasmo da platéia natalense, na interpretação de “Dona Xepa”, personagem-título da peça de Pedro Bloch. Em julho de 1981, recebeu, de seus fãs e amigos, a grande homenagem representada pela aposição de uma placa de bronze, alusiva ao seu trabalho, numa das paredes do principal teatro de sua terra, o Alberto Maranhão.

Delegada, no Rio Grande do Norte, do Movimento Poético Nacional, entidade cultural que tem sede em São Paulo e cuja presidência a proclamou como “Embaixatriz do Nordeste Poético”, tendo sido o respectivo diploma entregue pessoalmente, por uma comissão do M.P.N, na própria cidade de Natal, para onde se deslocou, especialmente para essa solenidade.

Ganhadora de diversos troféus pertenceu a diversas Academias de Cultura do Brasil e fora dele.

Com uma bagagem literária de oito livros de poesias e três peças teatrais. Radialista, jogou ao ar programas de grande aceitação e merecedores dos maiores elogios. Como jornalista escreveu, com assiduidade, nos jornais e revistas de sua terra natal. Nasceu a 12 de abril de 1911, desafiava a mocidade por seu temperamento jovial, sua energia, sua espantosa memória e seu físico! Dedicando-se também a música, tocou piano, bandolim e violão e seu maior gosto; viajar, conheceu o Brasil quase todo e uma pequena parte do Exterior. Faleceu em 11 de agosto de 1996.


EU, EM RIMAS
PARA O MEU AMOR

Tudo o que sou, em rimas vou jogando
pela folhagem verde do meu chão;
por esta estrada em que vou caminhando,
coberta, sempre, pela inspiração!

E a caminhar, assim, feliz, sonhando,
numa só rima eu me transformo, então;
rima que rima com o seu nome brando...
rima ditada pelo coração!

Rima que é doce, como o nosso anseio;
que se aninhou, de manso, no meu seio
e que, comigo, dorme no meu leito!

E essa rima, pura e tão rimada,
é o meu segredo, que me traz calada,
sem comentários, pelo preconceito!


Fonte: Jornal da Poesia. Foto: Por do Sol no Potengi.

15.12.09

Redinha

Foto: Capelinha da Redinha por Alexandro Gurgel

REDERREDINHA

Vai um peixe frito com tapioca?
Um cheiro de dendê de mercado?
De cachaça chegada ao copo?
De caju cortado ao prato?
Uma cavala branca no Pé do Gavião?

Serigoela, mangaba, cajá
Cheiro de quê?
De amor?
Cheiro de mar?

Redinha do Gajeiro
Da folia do carnaval
Dos paquetes chegando
Praieiras

Quantos amores
Quantos encantos
e cantos
a Redinha cantou?

Sonho de casamento na capelinha branca
alto da duna
Benção
da Mãezinha dos Navegantes!

Redinha de ginga
palhas de coqueirais
velas, cabelos ao vento
Brisa

Ranger de areia fina
no passodescalço
de pastorinhas em fandangos
e bumbas-meu-boi.

Sonopreguiça
Rederredinha
Natal !


Poesia de Eduardo Alexandre.

11.12.09

Nomes Populares de algumas doenças


- ANTÓJO - ISPINHELA CAÍDA - DOR NOS QUARTOS - PÉ DISMINTIDO - MOLEIRA MOLE - QUEBRANTO - TOSSE DE CACHORRO – FARNIZIM - PASSAMENTO - CACHINGAR – FRIEIRA - COBREIRO DE PÉ - PEREBA – CURUBA - REMELA NO ZÓI
- DORDÓI – GASTURA - MARIA PRETA - DOR NO PÉ DA BARRIGA - DOR DE VIADO - BODE - BOI – IMPINGE – PILÔRA - PANO BRANCO
- XANHA – ESTALICIDO – BICHEIRA - FININHA - ALÔJO – ÍNGUA - BICHO DE PÉ - EMPACHADO - FASTIO - DOR NO ESPINHAÇO - BUCHO QUEBRADO - DENTIQUÊRO - CALO SECO - UNHA FOFA - PÉ INCHADO – PAPOQUINHA - CORPO REIMOSO - MUCUIM – BERRUGA - OLHO DE PEIXE - SETE COUROS - CORPO MUÍDO - LANDRA INCHADA - BARRIGA FAROSA – DIFRUÇO - GÔTO INFLAMADO - MÔCO - PÁ QUEBRADA - CADUQUICE - VISTA CANSADA - OS QUARTOS ARRIADO
- ESPINHA CARNAL – PAPÊRA - DOENÇA DOS NERVOS - OMBRO DISMINTIDO - QUEIMA NO ESTOMBO - JUÍZO INCRIZIADO - FERVIÃO NO CORPO - CAMPANHIA CAÍDA - ESMORECIMENTO NO CORPO - DESENCHAVIDO - PITO FROUXO - ISCURICIMENTO DE VISTA – PIRA - TISGA - INFRAQUICIDA - VENTO CAÍDO - FRACO DOS NERVOS - ESPORÃO DE GALO - BICO DE PAPAGAIO - DOR NAS COSTAS QUE RESPONDE NA PERNA - DOR NAS CRUZ - DOR NOS BRUGUMI - MAL JEITO NO ESPINHAÇO – INTALO - INTANGUIDA
- DIFULUÇO - DOR NAS CADEIRAS - SAPIRANGA NOS ÓI - RUÇARA - DOR NA JUNTA - MONDRONGO - INQUIZILA - PÉ DURMENTE - ESQUENTAMENTO - VERMÊIA – CESÃO - CARNE TRIADA - NERVO TORTO - DOR NO MUCUMBÚ - SOLITÁRIA - ASTROSE E ASTRITE – SAPINHO - ENTOJO - PAPEIRA – TIRISSA - LUNDU - NÓ NAS TRIPAS – ALGUEIRO - ESTOPOR - GÔGO – UNHEIRO - BOQUEIRA - CALOMBO - DORMÊNCIA NUMA BANDA DO CORPO - ZÔVO GÔRO – MURRINHA - ZÔVO VIRADO
- CANSAÇO NO CORAÇÃO - JUÊI DISMANTELADO - ZÓIO NUVIADO – VAZAMENTO - ÁGUA NAS JUNTAS - RESGUARDO – INTUPIDO - MUFUMBA - FÍGADO OFENDIDO - VÊIA QUEBRADA - CHABOQUE DO JOELHO ARRANCADO

Enviadas por Carlos Linhares - Fotos: Flickr.com com montagem do blog

6.12.09

Cadê Teresa?

Teresa de Azevedo Dantas (nome de solteira) nasceu em 15 de outubro de 1923. Fez o curso de Guarda-Livros (hoje Contabilidade), no Colégio Nossa Senhora das Neves. Uma inovação tratando-se de uma mulher, praquela época. Falava inglês, francês, freqüentava as melhores festas, esbanjava beleza e charme e foi aluna da Escola Doméstica de Natal, onde aprendeu a preparar banquetes... Na escola era chamada por Teresão e em casa, carinhosamente, por Teca e pelos demais Teca de Zé Paulino.
Aos 27 anos, Teresa foi rendida pelo charme e os olhos azuis de um agricultor simples, sem pedigree, Luiz Pereira de Araújo. E os dois planejaram voar pra longe, em busca de um paraíso onde pudessem viver um amor eterno. No primeiro passo Teresa definiu a vida dela e de quem mais chegasse. Uma fotografia com a seguinte dedicatória foi o pivô de tudo: "Luiz, você concretiza o meu ideal na vida. Meu amor por você será eterno. E o resto você compreenderá no silêncio eloqüente desta fotografia e na expressão sincera do meu olhar."
Num navio, Teresa e Luiz partiram às escondidas da cidade de Natal, rumo ao porto de Santos, com um enxoval completo, todo bordado à mão, feito com carinho, pra guardar por toda a vida. Em Santos, o cunhado (irmão de Luiz) aguardava os pombinhos. Já tinha reservado igreja, contratado padre, alugado vestido, sapato, dama de honra, fotógrafo (uma foto vale mais do que mil palavras). Tudo que um casamento de verdade merece. Até o cartório estava de plantão. Enquanto isso, Teresa e Luiz foram morar num acampamento, em plena mata virgem, no Paraná – maior exportador de café do mundo. Um estado que precisava abrir estradas pra escoar sua riqueza e por isso eles foram pra lá. Essa simbiose de amor começou a dar galhos. Desses galhos nasceram frutos e não pára mais de dar flores.
Mas, cadê Teresa? Teresa está em Jaraguá (GO), guardada por dois de seus filhos, que não arredam o pé de perto dela. Feito uma rainha, só sendo paparicada, dando ordens pra todo mundo. O diploma de Guarda-Livros está na parede, assim como fotografias que registram os momentos bons. A máquina de datilografia manual está guardada debaixo de sete chaves assim como alguns de seus cadernos de receitas.


Clique na imagem para ver a receita do Curso de Cozinha Artística de Arte Culinária da Escola Doméstica de Natal ministrado por D. Noilde Ramalho em 1944. Se não conseguir ler na tela envie uma mensagem para: nataldeontem@gmail.com
Texto e fotos enviados por Iracema Dantas de Araújo, filha de D. Teresa

4.12.09

Beco da Lama


Quem passa pelo saudoso Beco da Lama, uma rua estreita no centro da cidade - Natal Rn - nem se lembra que alí se dorme no chão bruto, se vende flores e produtos aromáticos para festejar o seu santo preferido, de São Jorge a Yemanjá, come-se à bessa, nos restaurantes que alí existem, toma-se uma caninha "braba", daquelas que inveterado cospo e faz cara feia, joga-se no bicho, pois em Natal não é proibido jogar (no bicho - cobra, macaco ou avestruz) e tem tanta coisa que se falar aqui, não vai dar tempo. Antigamente, um rapaz, numa bodega da esquina, próximo a feira das frutas, tinha o seu ponto predileto onde fazia para vender a tradicional "meladinha" que era cachaça com mel. Ele só abria o ponto às 10h da manhã. Fechava às 2h da tarde para abrir outra vez, às 4h. Alí, bebiam em um reservado, os secretários de estado, escritores, advogados, jornalistas e até mesmo boêmio para não se dizer outra palavra não menos cabida. Eu não sei se, depois da morte do homem, o bar continuou funcionando. Sei, apenas que, aos sábados, por volta das 10h, outra vez o Beco da Lama se enche de gente. São jornalistas, poétas, escritores, advogados ou mesmo quem ainda não é conhecido. O Beco, num pedacinho de nada, se enche de gente, cada um com a sua conversa e todos falando a um tempo só. É, na verdade, um ponto de encontro dos "velhos" e inveterados amigos - e até inimigos - que se juntam para comemorar, com as suas falas o que tem de se comemorar: Nada!!!. Tão logo passe o dia, o Beco se esvazia. Em tempos remotos, tinha ali um "cabaré", pois era assim que se chamava uma casa de alguns quartos para alugar a homens que tomavam uma "dama" para ter um relacionamento conjugal. Essas moças - quase sempre de 20 anos ou pouco mais - viviam alí à espera do seu "homem" que por meia hora era o seu "dono". Depois desse tempo, era lavar e enxugar. Outro "homem" talvez estivesse impaciente para poder entrar e cumprir a mesma missão. O Beco da Lama é antigo. Vem dos primórdios do tempo em que a cidade acabava alí. Lama era porque pelo beco escorria lam ou de chuva ou de lavagem de roupa e de banho. A lama descia pelo local até chegar a um terreno próximo do Mercado da Cidade e alí ficava. Natal era uma cidade - naquela época - de poucas casas e naquele beco existiam mocambos de palha fincados na areia. Um cachorro magro era a arma de cada um. Quando o cão sarnento latia era sinal que vinha gente para um dos casebres, sempre para falar da vida dos outros. Um certo dia, a Câmara Municipal proibiu da gente contunuar morrando em suas palhoças. Tinha que se fazer casebres de taipa. A cidade foi tomando pé do progresso, mas o Beco continuou a ser chamado "da Lama", apesar de existir uma placa dizendo que alí é a rua Dr. Francisco Ivo, um homem que morou na Av. Rio Branco, quase na esquina com a rua Cel. Cascudo onde tem a Feira das Frutas. A placa está na bodega de Nazzi, homem que já morreu e que, em vida, fazia a tradicional "meladinha". Hoje, a rua é calçada e as casas são todas de comércio, salvo o quiosque que existe no local onde as "damas" costumam fazer o seu "ponto". O Beco da Lama é pequeno, indo da rua Ulisses Caldas até a rua João Pessoa. Depois desse ponto, o beco leva outro nome. Hoje, um grupo de blogueiros e não blogueiros fazem dali um ponto de encontro, um reduto, para se dizer melhor, principalmente aos sábados, mas sem deixar os outros dias passar em branco. Poucos sabem a história do Beco. Outros, sabem até demais. Alguns teimam em chamar o beco de apenas Beco. Notívago, o Beco da Lama, sem nada para encher as agruras do tempo, ele é um beco como outros existentes em toda a parte do mundo.

Por Alderico Leandro (Blog Asa Morena - link ao lado)

2.12.09

Natal Ontem e Hoje


“Lembro o alvissareiro da torre da Matriz. Antes de 1862 estava o mastro fincado no pátio do Quartel Militar. Feita a torre da Matriz, chantaram o pau dos sinais no topo e perto do alvissareiro, João Irineu de Vasconcelos, ganhando 200$000 por ano. Ficava ele olhando a cidade, morros, praias, rio e mar. Todo o horizonte era uma moldura circular para sua curiosidade. Devia erguer uma bandeira sempre que avistasse navio. Do lado do norte o mastro se fosse barco vindo desta zona. Do sul, lá despontasse. (Luís da Câmara Cascudo)

“[...} temos a informar que o último edifício da Câmara e Cadeia de Natal foi demolido no ano de 1911, quando ocorreu a inauguração de uma nova cadeia construída no bairro de Petrópolis. O vetusto edifício foi derrubado com a finalidade de alarga-se a via de acesso, entre a Praça André de Albuquerque e o Rio Potengi, hoje representada pela Rua João da Mata”. (Olavo de Medeiros Filho)

“Depois do Royal Cinema foi morrendo como um canário ao qual não se dão mais água nem milho alpiste. Foi sofrendo de mal triste. De esvaziamento. E acabou-se. Derrubaram o prédio que ele ocupava, que ia da esquina da Rua Vigário Bartolomeu até a parede da Prefeitura. Era um prédio romântico, meio “art-nouveau”, de muitos cochichos e conversas sentimentais. Até a saudade de pedra e cal desapareceu. Resta uma outra saudade, imponderável, que aumenta quando a gente folheia velhos álbuns e escuta Royal Cinema de Tonheca Dantas”. (Augusto Severo Neto)
.
Fotos Superiores: Praça André de Albuquerque, Igreja N. S. do Rosário dos Pretos e ao fundo o Rio Potengi.
Fotos do Meio: Casa da Câmara e Cadeia.
Fotos Inferiores: Antigo Royal Cinema, Atual Procuradoria Municipal - Cidade Alta -
Para ampliar clique nas fotos.
Fonte: Semurb

28.11.09

Manifestações Literárias II


Usar a língua espanhola era comum entre os escritores portugueses do século XVI. Mas é singular a produção poética no idioma dos índios Tupi, grupo lingüístico que ocupava quase todo o litoral brasileiro no século XVI. Os jesuítas submeteram esse idioma à disciplina gramatical e ele se tornou, com a designação expressiva da “língua geral”, o principal veículo de comunicação entre colonizadores e indígenas; depois, entre os descendentes dos colonizadores, muitos deles mestiços. A obra de Anchieta e a prática extensiva da língua geral indicam que poderia ter-se desenvolvido no Brasil uma cultura paralela e um bilingüismo equivalente ao que ainda existe no Paraguai (devido também à catequese jesuítica). Essa concorrência alarmou as autoridades metropolitanas, interessadas em usar o seu próprio idioma como instrumento de domínio e homogeneização cultural, a ponto de, no século XVIII, proibirem o uso da língua geral nas regiões onde ela predominava.
Isto é dito para destacar uma das funções da literatura culta no Brasil Colonial; impor a língua portuguesa e registrá-la em escritos que ficassem como marcos, ressaltando a sua dignidade de idioma dos senhores,
ao qual todos deveriam submeter-se, como afinal acabou acontecendo.
A não ser o caso das tribos indígenas sobreviventes, e de alguma persistência da língua geral na Amazônia, os idiomas indígenas foram proscritos, assim como os africanos, que vieram com a importação de escravos. Trata-se de um verdadeiro processo de dominação lingüística, aspecto da dominação política, no qual a literatura culta, repito, desempenhou papel importante. Foi pena que a grande percepção de Anchieta não tivesse seguidores, pois ele combinava a tradição clássica, redefinida pelo humanismo do Renascimento, com certos veios mais populares da tradição ibérica, visíveis nos autos teatrais e na escolha das formas métricas de sua lírica. Além disso, acolheu e procurou dar dignidade à própria expressão lingüística do indígena, mostrando que seria possível uma cultura menos senhorial, mais aberta aos grupos dominados.
Portanto, o que aqui predominou e deu a tônica foi uma literatura de senhores, que transpôs o requinte da literatura metropolitana e nem sempre foi capaz de sentir a complexidade da sociedade nova. Mas é preciso não encará-la com espírito de compêndio ou manual, isto é, como se as listas de nomes, obras e temas, postos em sucessão no espaço da página, significassem a existência de uma verdadeira vida literária, que só ocorrerá a partir do século XVIII, quando se esboça uma “República das Letras”. Nos séculos XVI e XVII o que havia eram autores ocasionais, ou circunscritos à sua região, produzindo obras que na maioria absoluta não foram impressas, inclusive porque o Brasil só teve licença para possuir tipografias depois de 1808. Algumas dessas produções foram editadas em Portugal, mas outras de grande importância conheceram apenas a difusão oral ou manuscrita, atingindo círculos restritos e só no século XIX chegaram ao livro.
Isolados, separados por centenas e milhares de quilômetros uns dos outros, esses escritores dispersos pelos raros núcleos de povoamento podem ser comparados a vaga-lumes numa noite densa. Podia haver lugares, como a Bahia, onde se reuniam homens cultos, sobretudo clérigos e legistas. Podia haver sermões brilhantes que encantavam o auditório, ou poetas de mérito recitando e passando cópias de seus poemas.
No conjunto, eram manifestações literárias que ainda não correspondiam a uma etapa plenamente configurada da literatura, pois os pontos de referência eram externos, estavam na Metrópole, onde os homens de letras faziam os seus estudos superiores e de onde recebiam prontos os instrumentos de trabalho mental.
Texto de Antonio Cândido

27.11.09

"Almas Nuas" no Solar Bela Vista 26.11.2009


Uma bela noite no lançamento do livro de poemas "Almas Nuas"!
Zedelfino irradiando alegria e felicidade cercado dos seus anjos e demônios, todos com suas almas nuas despidas de todas suas vaidades e arrogâncias.
Os que o amam, admiram e respeitam, felizes em reencontrar aqueles que fecham os laços dessa imensa teia de relacionamentos, sem se incomodarem com a gritante ausência dos invejosos que não sabem cultuar o êxito e sucesso de alguém, porque realmente não podem deixar de ser o centro do universo, verdadeiros reis-sol, ou melhor, na realidade reis-solitários.
Alguns lá chegaram silenciosos e discretos, mas na face externando sua alegria em ali estar, brincando, soltando galhofas, mas, sobretudo se confraternizando com tiradas elogiosas ao poeta.

25.11.09

Natal Ontem e Hoje




“Os meus olhos ainda não viram nada mais encantador que o nosso Potengi, descendo para o mar, nas horas de vazante, sereno e calmo, conduzindo nas águas mansas uma porção de barcos leves, que vão e vem, que aparecem e desaparecem nas curvas dos rios, dando a perspectiva, uns tons suaves de mágica, de tela polycroma...” (Henrique Castriciano)

As ruas de Natal foram se consolidando de forma constituir uma trama viária típica de cidade colonial, com ruas estreitas, casas pequenas construídas sobre alinhamentos frontais e laterais dos lotes, sem qualquer separação entre o espaço privado e o público, e as calçadas como espaço das atividades de convivência e confraternização de vizinhança.” (Giovana Paiva de Oliveira)

“A construção da Praça Sete de Setembro, em 1914, desfigurou-a para sempre, derribando uma metade da rua. O parque do Palácio demoliu outro trecho. Hoje a Rua da Conceição possui apenas uma fila de edifícios, e está reduzida a um pequenino número, contados da esquina do Palácio do Governo até a Praça João Maria, antiga Praça da Alegria. A Rua da Conceição, entretanto, teve história sugestiva e colorida”. (Luís da Câmara Cascudo)


Fotos Superiores: Atual Pça. André de Albuquerque, Pça. João Tibúcio e vista do Potengi;
Fotos do Meio: Rua da Conceilção e Esquina da antiga Pça. da Alegria atual Pçc. Pe. João Maria
Fotos Iinferiores: Rua da Conceição e Palacio Potengi.
Fonte:Semurb

21.11.09

Dos Bondes ao Hippie Drive In


Os primeiros telefones em Natal surgiram, conforme Câmara Cascudo, entre 1908 e 1911. Em 1918 a prestação do serviço era feita pela empresa paulista Tração Força e Luz (energia elétrica, bondes e telefonia). O gerente era João batista Vasquez que residia em São Paulo e por aqui aparecia periodicamente. As ligações eram feitas através de um pool de telefonistas que trabalhavam na sede da Empresa que fiava na Avenida Tavares de Lyra na Ribeira.
Luis da Câmara Cascudo em 1979, destacava que os natalenses mais ricos faziam o gesto de combinar uma ligação telefônica simulando o giro de uma manivela, típica dos primeiros telefones da cidade. Esse gesto foi posteriormente transformado na simulação da “discagem” nos anos que antecederam os aparelhos com teclas. Os serviços públicos, de uma maneira geral, eram extremamente ineficientes e se encaminhavam para um colapso total e as reclamações foram se acumulando. Natal chegou a ficar três dias sem o serviço de bondes. Em 1921 o governador Antônio José de Melo e Souza visando atender o interesse público criou a Repartição de Serviços Urbanos com a missão de gerir a prestação dos serviços de bonde, de coleta de lixo, de produção, conservação e venda de gelo, geração e distribuição de energia elétrica e telefonia. Dessa forma os serviços públicos foram estatizados em Natal. O seu primeiro diretor-gerente foi o escriturário do Tesouro João Sizenando Pinheiro. A repartição funcionava na Avenida Tavares de Lyra.
Ao longo dos anos seguintes ocorreu melhora nos serviços, mas em 1929 o governador Juvenal Lamartine de Faria, com aprovação da Assembléia Legislativa deu o passo inverso e autorizou a privatização de parte dos serviços e foi autorizado a contratar empresa privada para voltar a prestar serviços de eletricidade e telefonia.
As ligações telefônicas públicas automáticas só aconteceram em 1942, no início da II Guerra.
Em meados dos anos 50 a Radional, Radio Internacional do Brasil, americana, foi encarregada de prestar o serviço de ligações telefônicas interurbanas em Natal. O sistema funcionava com apenas um canal e operava em baixa freqüência de rádio, normalmente muito ruidoso. Efetuar ligações interurbanas era um privilégio restrito praticamente às autoridades estaduais, e como era difícil completar uma ligação! A estação ficava na “Corrente” onde hoje é o Conjunto Potilândia em Lagoa Nova, e a conexão era essencialmente para o Rio de Janeiro (capital federal) e demorava horas para se conseguir uma condição apenas razoável de comunicação. Os usuários mais freqüentes eram o Governador Dinarte Mariz e o Deputado Djalma Marinho. Quando a ligação local não era possível era necessário se deslocar para a Radional que funcionava próxima a Estação Ferroviária, para se comunicar com o rio de Janeiro. A Telern, Companhia Telefônica do Rio grande do Norte só foi criada em 1963, no Governo Aluísio Alves, e possibilitou os primeiros passos para a integração interestadual pelas telecomunicações através da repetidora de Serra de Santana com a possível execução de ligações interurbanas entre natal, Macaíba, Ceará Mirim, Mossoró, Angicos, Lajes, Caicó, Pau dos Feros e Currais Novos.Fonte:

Dos Bondes ao Hippie Drive-In de Carlos de Fred Sizenando R. Pinheiro

17.11.09

De Natal a Manhattan - holandeses e judeus


Pero Mendes de Gouveia, Capitão-mor (espanhol, segundo alguns), ferido nos combates, muito macho, não entregou a Fortaleza. A rendição (1633) se deu por obra e graça da covardia dos subalternos. Começara mal, assim, a dominação holandesa no Rio Grande. A galegada flamenga de Olinda e Recife, cinco anos depois da conquista de Pernambuco, estava de olho no gado, no açúcar e na mandioca da terra. A Fortaleza dos Reis Magos virou Castelo Keulen, a incipiente vila de poucas palhoças, na Cidade Alta (ou nos Guarapes?), foi rebatizada: Nova Amsterdã. Começou a inhanha: a exploração, a violência, os massacres - um deles, o de Uruaçu, poucos dias depois da vitória.
Jacó Rabi (rabbi em hebraico, significando "mestre"), Conselheiro da Companhia das Índias, judeu alemão, pintou e bordou em Cunhaú (1645), matando muita gente. Esse camarada arranjou amizade com os tapuias Janduís, comandando uma uma tropa de choque, violenta longa manu dos interesses batavos. Era tão ruim que os próprios judeus, portugueses e protestantes, prejudicados com suas façanhas, forçaram o seu assassinato, a mandado do coronel holandês Gartsman, casado com uma brasileira.
Significativa, intensa até, foi a presença israelita no Nordeste durante a ocupação flamenga. Tangidos de Portugal e Espanha, acusados de heresias - vivendo outros na própria Holanda mas originários da Península, - os sefardins, ricos, chegavam aos nossos portos, atraídos pelo comércio, ganhando dinheiro, prosperando.
No Recife, fundaram a primeira sinagoga das Américas. Gilberto Freire afirmava que, desde Cabral, de dez portugueses que vinham para cá, oito eram judeus marranos (cristãos-novos).
No Rio Grande, hoje, pouca gente se dá conta da sua origem hebraica. Vencidos os holandeses nos Guararapes, liberada a Capitania, sua fortaleza e sua vila primeira (Natal), a maioria dos judeus afortunados da região - marranos ou não - se escafedeu para o Caribe e para uma outra "Nova Amsterdã", um entreposto flamengo, na ilha de Manhattan - que depois, sob o guante da espada inglesa, viria a ser chamada de Nova Iorque. Esse grupo ajudaria a fundar o império capitalista americano. Os outros, os menos bafejados pela sorte, obrigados novamente a se cristianizarem, foram palmilhar os caminhos do sertão, misturando-se às populações indígenas. Ficaram, todavia, os sobrenomes reveladores: Carvalho, Moreira, Nogueira, Oliveira, Pinheiro, Lopes, Dias, Nunes, Souza, Medeiros, Costa, Cardoso, Fonseca e tantos outros. Dos costumes e manias - afirmam, por aí -, deixaram-nos a carne de sol, o comércio à prestação, de porta em porta, a pintura das casas no final do ano, a sangria dos animais para a alimentação, o sepultamento dos defuntos envolvidos em mortalhas.
Os holandeses, por sua vez, parece (ainda bem, ainda bem!), só nos deixaram os Wanderley do Assu - salvas algumas poucas exceções, gente de brio, de prumo, de engenho e de muita arte, até nossos dias...

(Laélio Ferreira, Poeta e pesquisador - Foto: Av. Circular e Rua do Motor.

14.11.09

Os índios somos nós?


Alguns historiadores relatam que em 1497, Vasco da Gama aportou no litoral potiguar. Outros descrevem que Colombo esteve também por aqui nessa época acompanhado do navegador português Duarte Pacheco Pereira. Todavia, somente em 1501 foi fixada o primeiro Marco de Posse colonial da terra brasileira por Portugal, atualmente conhecido como o Marco de Touros.

Praticamente havia duas ramificações indígenas nas terras do RN: os índios Potiguara descendentes dos Tupis que habitavam o litoral e os Tarairiu oriundo dos Tapuias então habitantes do sertão. Atraídos pelas riquezas do Novo Mundo, chegaram ao nosso litoral os primeiros corsários franceses em busca do pau-brasil, árvore do qual se retirava corante, muito utilizado em tecidos na Europa. Os franceses tinham uma relação comercial com os potiguaras denominada escambo, os indígenas levavam a madeira para a praia na forma de tronco e em troca recebiam quinquilharias.

Preocupados com a permanência dos franceses no litoral, a Coroa portuguesa resolve dividir suas terras em 15 capitanias hereditárias, estando elas limitadas pela linha fictícia do Tratado de Tordesilhas, através do qual Portugal e Espanha haviam dividido os territórios da América. A Capitania do Rio Grande foi doada a Ayres da Cunha e seu sócio João de Barros que, em 1635 organizaram uma expedição com 10 embarcações fortemente armadas para expulsar os franceses que naquele momento tinham como aliados os índios potiguaras e juntos defenderam-se dos ataques portugueses conseguindo rechaçar a expedição. Após passarem quase 100 anos de domínio francês em nosso litoral, é que a conquista portuguesa obteve êxito, dando início à construção de um forte nas margens do Rio Grande, hoje Potengi. Em 25 de dezembro de 1599 foi fundada as margens do Rio Grande a “Povoação dos Reis” que só veio a se chamar “Cidade do Natal” em 1614.

Os Holandeses foram obrigados a fugir da Bahia em 1625, não desistiram e conquistaram Pernambuco em 1631, ocupando o Rio Grande em 1633. O forte foi denominado de Castelo de Ceulen e Natal de Nova Amsterdã. Fizeram alianças com os tapuias e conquistaram o engenho de Cunhaú, porém, em 1654 depois de 24 anos de domínio foram definitivamente banidos do Brasil.

Em meados de 1961 a população da “Cidade do Natal” chegava a 150 mil habitantes depois de 340 anos de existência, praticamente todos esses moradores, essas pessoas, tinham um vínculo familiar, um parentesco, mas a população cresceu e nos dias de hoje, alcançamos 800 mil habitantes de desconhecidos. A migração e imigração tornaram a cidade lotada de pessoas de todas as origens e credos, muito deles endinheirados comprando extensões de praias ao longo do nosso litoral a fim de construir hotéis e resort para diversão de turistas estrangeiros.

O escambo é pela moeda, os índios agora somos nós, entregamos nossas areias brancas onduladas pelo vento, as nossas dunas reluzentes banhadas por praias praticamente virgens, habitadas por pescadores e veranistas com o intuito de favorecer o desenvolvimento sustentado, aumentando a pretensa arrecadação e divisas para o nosso Estado.

A bela praia de Ponta Negra é um exemplo típico, a calvície do morro do careca expandiu a ponto de ser proibido a sua subida, ao seu arredor empreendimentos vão à justiça para edificar prédios altos, bem altos, competindo com a altura do morro, podendo modificar a paisagem, simplesmente para habitar moradores que façam escambo. A Ponta Negra de hoje jamais voltará a ser da época que conheci, com suas redes pescando cardumes de tainha e pescarias de xaréu em Alagamar. Ponta Negra não pertence mais aos moradores antigos de Natal, a vila dos pescadores não pertence mais aos antigos pescadores, a bela praia de Ponta Negra pertence aos donos de Hotéis e Pousadas que lotam de turistas estrangeiros muitos deles a fim de realizar escambo para sua própria diversão, Ponta Negra atualmente è, uma terra de ninguém.


José Eduardo Vilar Cunha - Jornalista e professor UFRN

11.11.09

Dos bondes ao Hipie Drive-in


"Dos Bondes ao Hippie Drive-in", fragmentos cotidianos da cidade do Natal, de Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro, lançado no dia 12 de novembro de 2009, às 19 horas, no Clube de Engenharia na Av. Rodrigues Alves, nº 1004, Tirol, ao lado da Cidade da Criança. Só para despertar a curiosidade, parte da introdução do livro:

"Dentre tantas fotografias interessantes, tivemos o delicioso trabalho de selecionar as imagens mais representativas, que contribuíssem para transformar a leitura num agradável mergulho no túnel do tempo, que nos transporta de forma lúdica a uma Natal que evolui entre 26 mil e 300 mil habitantes, que dava seus primeiros passos para a modernidade. Voltamos também aos anos 60, tempo das tanajuras espetadas pelo rabo, dos “lacerdinhas” nos pés de fícus que nos atazanavam os olhos, das séries do Cinema Rex, de Elvis Presley no Rio Grande. Tempo dos “aluizistas”, dos “dinartistas”, do Programa “De pé no chão também se aprende a ler” e dos nossos maiores temores infantis: a viúva Machado e Maria “Mulamanca”.


Em relação aos inesquecíveis anos 1960`s e 1970`s, destaque especial foi dado ao surgimento e evolução do Rock em Natal, com detalhamento das primeiras Bandas surgidas sob inspiração da Beatlemania e da Jovem-Guarda, dos Festivais Musicais do Palácio dos Esportes, da contra-cultura, dos Poemas-processos.


Aqueles nossos amigos e amigas que conheceram Jerônimo o Herói do Sertão, o Cinema Poti, as tartarugas da Praça Pedro Velho, o Sebo de Cazuza, os bailes no ABC , as “Anastomoses” no América, o “Seu Talão vale um Milhão”, a loja de discos de Helisom, o Juvenal Lamartine, a Rita Loura*, o Hippie Drive In, certamente não deixarão de se emocionar. E irão relembrar não apenas os fatos aqui narrados, como também inúmeros outros momentos que de tão significantes em suas vidas, facilmente se acenderão em suas mentes como um simples duplo clique para acessar algum arquivo de computador".


* Dona Rita Barroso de Carvalho, uma doce senhora - nota do blog -

Foto: Avenida Rio Branco em 1931.

8.11.09

Século XVI - Manifestações Literárias


É preciso imaginar o que era o Brasil no século XVI.
Uma vasta extensão de terras quase totalmente desconhecidas, cujas fronteiras com os domínios espanhóis eram indefinidas, habitada por indígenas que pareciam ao conquistador seres de uma espécie diferente, talvez não inteiramente humano. Uma natureza selvática e exuberante, cheia de animais e vegetais insólitos, formando um espaço que ao mesmo tempo aterrorizava e deslumbrava o europeu. Quanto ao deslumbramento, nada mais eloquente do que um dos documentos iniciais sobre a nova terra, publicado em 1504 e atribuído a um dos seus primeiros e mais capazes conhecedores, Amerigo Vespucci, onde se lê; “se no mundo existe algum paraíso terrestre, com certeza não deve estar longe deste lugar”.
Ao pequeno Reino de Portugal cabia a tarefa sobre humana de ocupar, defender, povoar e explorar essa terra incógnita, uma das muitas que faziam parte de sua prodigiosa expansão. Essa tarefa se desdobrava em vários aspectos: administrativo, econômico, militar, religioso.
Os homens que vieram para o Brasil de maneira regular e com mente fundadora, a partir de 1530, tiveram inicialmente necessidade de descrever e compreender a terra e os seus habitantes, com um intuito pragmático necessário para melhor dominar e tirar proveito. Ao mesmo tempo, precisaram criar os veículos de comunicação e impor o seu equipamento ideológico, tendo como base a religião católica. Tais homens eram administradores e magistrados, soldados e agricultores, mercadores e sacerdotes, aos quais devemos os primeiros escritos feitos aqui. Esses escritos são descrições do país e seus naturais, relatórios administrativos ou poemas de fundo religioso, destinados ao trabalho de pregação e conversão dos índios. Dessa massa de escritos destacam-se os dos jesuítas, que vieram a partir de 1549 e, sobretudo os de um natural das Ilhas Canárias, parente de Santo Inácio de Loiola, que veio muito jovem e poderia ser considerado um dos patriarcas da nossa literatura: José de Anchieta (1534-1597). Homem de boa formação clássica, profundamente identificado com o país e os índios, deve-se a ele não apenas relatórios penetrantes sobre a atuação da sua Ordem, iluminando a vida social da Colônia, mas obras especificamente literárias, em quatro línguas, algumas vezes misturadas: português, espanhol, latim e tupi.
A sua principal obra latina é um poema épico sobre os feitos militares do Governador Geral Mem de Sá. Só recentemente verificou-se que havia sido impresso em Lisboa no ano de 1563, o que lhe dá a posição de primeiro livro produzido no Brasil. Seu tradutor para o português, o Padre Armando Cardoso (1958), assinala a influência de Virgílio e a pureza clássica do latim de Anchieta, registrando a importância de uma epopéia feita no calor dos acontecimentos narrados e baseada no testemunho de protagonistas, além da própria experiência do autor, que colaborou com Mem de Sá. Hoje, impressionam a capacidade narrativa e o estranho gosto pela descrição da crueldade. Além dessa obra de maior vulto, Anchieta escreveu poesias e atos teatrais de cunho religioso, sempre com o intuito de tornar a fé católica acessível ao povo, em geral, e aos índios catequizados, em particular.

* Antônio Cândido

5.11.09

Marco de Touros


O dia 7 de agosto foi escolhido como a data do aniversário do Rio Grande do Norte, porque nesta mesma data, no ano de 1501, aconteceu, em terras potiguares, um dos mais importantes fatos históricos do país: a fixação do primeiro Marco de Posse colonial da terra brasileira por Portugal, fato que para muitos historiadores, representa o registro de nascimento do Brasil. e para muitos o mais antigo, existente, da toda colonização portuguesa, e sua fincagem foi o primeiro acontecimento histórico no território potiguar e também o evento oficial de posse do país. Outros Marcos foram deixados no litoral brasileiro, um no litoral baiano e outro na praia da Cananéia, São Paulo, sendo o de Touros o mais antigo.
A esquadra que realizara esta travessia era formada por três caravelas e tinha no comando o capitão André Gonçalves e Américo Vespúcio como cosmógrafo, após longo percurso, saindo de Lisboa.
Quando os portugueses, na sua política expansionista, chegavam às terras descobertas, deixavam o marco, oficializando a tomada de posse de territórios que descobriam como sendo exclusivamente de Portugal. Eram colunas de pedra, de altura variável, encimadas por uma cruz com inscrições em português, latim e árabe, que os portugueses passaram a usar como prova de suas descobertas e símbolos de sua fé.
O Marco de Touros é uma pedra calcária de granulação fina, provavelmente de mármore português ou lioz, medindo 1,20m de altura; 0,20m de espessura, 0,30m de largura; 1,05m de contorno.
Na parte superior, contém a cruz da Ordem de Cristo (a famosa Cruz de Malta) em relevo e, abaixo, as armas do rei de Portugal e cinco escudetes em aspas com cinco quinas, sem as bordaduras dos castelos.
O Marco de Touros é também cultuado pela comunidade de Cauã, como se fosse santo, e o chamam até de “Santo Cruzeiro”. O culto ao Marco surgiu em decorrência da falta de conhecimento das características da pedra e das inscrições nela contidas, como, por exemplo, a cruz que representa o símbolo da Ordem de Cristo. Esses fatores levaram a comunidade a crer que o Marco era realmente divino, vindo diretamente de Deus para eles. Os habitantes dessa comunidade acreditavam que tirar algumas lascas de pedra do Marco de Touros para fazer chás não se constituía como uma agressão e sim como uma cura para suas doenças.
A comunidade, mesmo na sua ignorância e pela sua obsessão religiosa, contribuiu para que o avanço do mar não viesse a destruir o precioso acervo – que foi o primeiro monumento histórico do Brasil português – pois, a cada avanço do mar, o Marco era deslocado do alvo das ondas.
Desde 1976, encontra-se nas dependências da Fortaleza dos Reis Magos, quando ele foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural. Na praia do Marco, em Touros, existe uma réplica do Marco, que mantém a tradição, os mitos, a crença do povo e reforça a idéia de que a ação religiosa dos habitantes preservou um patrimônio que, de outra forma, teria sido destruído.

* Extraído do texto de Paulo Roberto R. Teixeira e pesquisa do blog.

1.11.09

Coluna Capitolina


No dia 5 de julho de 1928 o avião Savoia-Marchetti S-64 pilotado pelos aviadores italianos Carlo Del Prete e Arturo Ferrarin alcançou a cidade de Touros, no Rio Grande do Norte, procedendo de Roma na Itália, após um vôo de 49 horas e 19 minutos, sem escalas, vencendo uma distância de 7163 quilômetros.Em reconhecimento à fidalguia, acolhimento e carinho com que o povo de Natal proporcionou aos dois famosos aviadores, Benito Mussolini, “Il Duce”, como 1º Ministro da Itália, resolveu doar à cidade uma “Coluna Romana”, mais conhecida como “Coluna Capitolina”, porque é originária do Monte Capitólio, em Roma. Evoca “na forma e na estrutura o templo de Júpiter”A instalação da referida coluna em Natal serviria ainda para eternizar a memória desse grande reide aéreo. A coluna Capitolina foi inaugurada em 8 de janeiro de 1931; foi trazida a bordo do navio”Lanzeroto Mlocello”, que participou do apoio à primeira travessia aérea do Atlântico Sul feita por um esquadrão, sob o comando do General Italo Balbo. Ás 07:30 horas do dia 8 de janeiro, foi rezada uma missa campal pelo Bispo Dom Marcolino Dantas, na esplanada do Cais do Porto, com as presenças das tripulações de todos os aviões e do navio de apoio. Depois da celebração, houve a inauguração do monumento. Dom Marcolino abençoou a coluna e o general Italo balbo pronunciou rápido discurso fazendo a doação do monumento à cidade. Ao final, o prefeito Pedro Dias Guimarães agradeceu o oferecimento de tão valioso e histórico marco. A Coluna Capitolina tem 5,80 metros de altura, apoiada numa base com cerca de 3 metros quadrados. É de mármore cinza e continha duas placas de bronze com os seguintes dizeres (traduzidos para o português): “trazida de um só lance sobre asas velozes além de toda distância tentada por Carlo Del Prete e Arturo Ferrarin, a Itália aqui chegou a 5 de julho de 1928. O Oceano não mais divide e sim une as gentes latinas de Itália e Brasil”. Na outra face do pedestal havia outra placa, também com inscrição em língua italiana, cujo significado no idioma português significa:”Italo Balbo aqui junto com o Esquadrão aéreo transatlântico na rota percorrida por Carlo Del Prete e Arturo Ferrarin a eles recordarão para sempre nesta Coluna Capitolina doada por Benito Mussolini à cidade de Natal consagrada. Em janeiro de 1931″. No dia 5 de julho de 1978, o ministério da Aeronáutica do Brasil inaugurou, em solenidade, com a presença de autoridades e de expressivo número de pessoas da colônia italiana, uma placa de bronze com as inscrições abaixo: Cinqüentenário da primeira travessia aérea Roma – Natal. Aos aviadores italianos Ferrarin e Del Prete homenagem da Força Aérea Brasileira. Observação: Primeiramente foi erguida na Esplanada do Cais do Porto, na Ribeira, no dia 8 de janeiro de 1931. Quatro anos depois, o movimento comunista de Natal derrubou a Coluna alegando que se tratava de um monumento erguido por um governo fascista. Permaneceu em lugar ignorado durante muitos anos até ser reencontrada e novamente erguida, dessa vez na praça João Tibúrcio e depois para a Praça Carlos Gomes no Baldo. Por fim foi transferida para o largo do Instituto Hitórico e Geográfico na Praça André de Albuquerque *, onde se encontra até hoje.

* Agradeço a observação do poeta e escritor Lívio Oliveira quanto ao local onde se encontra a Coluna Capitolina. Vale a visita, à Coluna e ao Instituto.

31.10.09

Saudades do Grande Ponto (*)

Foto: Grande Ponto - Anos 30

O Grande Ponto é um ponto tradicional de Natal, onde acontecem coisas do arco da velha, há muitos e muitos anos. José Guilherme não menciona com exatidão quando aconteceram os episódios por ele narrados - nem precisa. Mas devem se situar entre 1940 e 1960, por aí.
Quando chegamos a Natal, em fins de 1948, meu pai estranhava que os pedestres ficassem conversando, em pé, em grupelhos, no meio do Grande Ponto. E o pessoal não se afastava quando se buzinava, pedindo passagem. Afinal , não sabíamos porque os grupos ficavam estáticos "no meio da rua". Custamos a entender que aquilo era um costume local, e, portanto, uma questão cultural.
Da nossa época, José Guilherme citou Jaecy "O Fotógrafo Poeta", os cinemas Rex e Pax, a Sorveteria Cruzeiro, de Antônio China, a Casa Vesúvio, de Rômulo Maiorana, que foi morar em Belém, onde construiu um império constituído de jornal, rádio e televisão, o Botijinha, de Jardelino, o Estádio Juvenal Lamartine, onde jogamos algumas vezes pelo Guarany Esporte Clube, fundado por Levi Caminha e meu irmão Carlos Aloysio, enfrentando o infanto-juvenil do ABC de Ezequiel Ferreira de Souza, Paulo Eduardo Firmo de Moura e Fabiano Veras, o América, de Kléber de Carvalho Bezerra e Etevaldo Miranda, o famigerado Teté, também conhecido como "Vírgula" pelas suas pernas arqueadas, as Lojas Seta, onde muitos anos depois acompanhei, constrangido, a diligência de um oficial de Justiça na penhora de bens de uma ação executiva movida contra ela por Confecções Torre S.A., do Recife, da qual eu era advogado.
José Guilherme escalou um alegre time de "veados e outros animais honestos que formavam a ecologia daquela Passárgada: o mitológico Rei Momo Luizinho Doblechen, Pinóquio, Detefon, Madame Sônia, a Cartomante, e "seu" Martins, professor de Clodovil." Esqueceu Velocidade e Biguá, cujo apelido teve origem na sua semelhança física com o lendário paraense que formou a célebre linha-média tricampeã do Flamengo (1942, 1943 e 1944): Biguá, Bria e Jayme de Almeida.
José Guilherme falou famoso Coronel Guerreiro, pai de uma morena linda. Os irmãos da morena, cujo nome eu esqueço, mandavam que ela caminhasse na frente deles para dar porrada em quem a cantasse. Relembrou Ivanildo "Deus" advogado, que encontro, de vez em quando, na Rua da Imperatriz. Em Desenho, o maior presepeiro natalense. Nos desfiles de Maria Boa, em pleno Grande Ponto "que aos domingos, cinco da tarde, hora em que a nata da sociedade natalense se concentrava ali, passava devagarzinho, acintosamente, no seu "conversível", com motorista e tudo, abarrotado com as meninas mais respeitáveis e mais bonitas da cidade, a maioria importada, cuja porta-estandarte era Eurídice, gaúchona de 50 talheres". Além de Maria Boa, tínhamos Francisquinha, Belinha e Vanda, festejadas donas de pensão, devidamente protegidas pelos mais altos e circunspectos membros dos poderes executivo, legislativo e judiciário federais, estaduais e municipais.

(*) Arthur Carvalho, advogado e jornalista transcrevendo texto de José Maria Guilherme – Jornal do Comércio, Recife 28/10/2009 e enviado por Jardna Cavalcanti Jucá.

28.10.09

1935 - Ação Comunista e o Domínio de Natal

Quartel da Policia Militar 1935 - Atual Casa do Estudante


As raízes do movimento comunista de 1935 no Rio Grande do Norte possuíram, sem dúvida alguma, causas locais e que podem ser apontadas como resquícios da campanha eleitoral de 1934, quando predominou um clima de violência.

Mário Leopoldo Pereira da Câmara, apesar do mérito de algumas realizações efetuadas durante sua administração, foi responsável pela implantação de um clima favorável ao aparecimento de movimentos armados.

O substituto de Mário Câmara, Rafael Fernandes Gurjão, continuou perseguindo seus adversários políticos, a exemplo de seu antecessor. Rafael Gurjão contribuiu com o aumento do número dos descontentes, engrossando o grupo dos revoltosos. Chegou, inclusive, a extinguir a Guarda Civil, um órgão completamente descomprometido com a política, só porque havia sido criada por Café Filho, inimigo político do novo governante... Dentro desse contexto, as divergências arrastaram para o movimento pessoas que desconheciam a ideologia comunista, mas viam na ação armada uma maneira de derrubar o governo...

A mobilização comunista foi iniciada na noite de 23 de novembro de 1935, ocasião em que no Teatro Carlos Gomes - hoje Alberto Maranhão - estava acontecendo uma solenidade de colação de grau do Colégio Marista. O governador Rafael Fernandes Gurjão e o secretário geral do Estado, Aldo Fernandes, abrigaram-se na residência de Xavier Miranda, nas proximidades do teatro, e depois foram para o Consulado da Itália, sob os cuidados do cônsul Guilherme Lettieri. O prefeito Gentil Ferreira, também presente à solenidade, foi para o Consulado do Chile, sob a proteção do cônsul Carlos Lamas.

Coube ao major Luís Júlio, da Polícia Militar e ao coronel Pinto Soares, do 21º BC, a organização da resistência. Os combates estenderam-se por várias horas, até acabar a munição, quando as forças legais se renderam. As comunicações telefônicas foram cortadas, resistindo apenas a estação telegráfica de Macaíba, através da qual os legalistas pediram socorro à capital federal.

Durante os combates, o quartel da polícia militar resistiu, lutando contra um inimigo "muitas vezes superior em número", relata João Medeiros Filho. A resistência durou várias horas, terminando quando os policiais gastaram a última bala. Os legalistas fugiram pelo Rio Potengi.

Os rebeldes dominaram Natal e, no dia 25 de novembro de 1935, organizaram um Comitê popular Revolucionário, composto por Lauro Cortês, ex-diretor da Casa de Detenção, como ministro de Abastecimento e Quintino de Barros, 3º sargento, músico do 21º BC, como ministro da Defesa. O comitê se instalou na Vila Cinanto, até então residência oficial do governador.

Durante a vigência do governo revolucionário, a população da Cidade do Natal atravessou momento de grandes dificuldades, principalmente para a aquisição de gêneros alimentícios, uma vez que foram saqueados muitos armazéns e lojas que abasteciam a cidade. Entre os estabelecimentos saqueados figuram os seguintes: M. Martins & Cia.m Viana & Cia., M. Alves Afonso etc. O comércio de diversas cidades do interior também não escapou. Por onde os rebeldes passavam, implantavam o pânico.

No tempo em que os comunistas estiveram no poder, circulou um jornal intitulado "Liberdade", que publicou as seguintes palavras, transcritas por João Medeiros Filho: "Enfim, pelo esforço invencível do povo, legitimamente representado por Soldados, Marinheiros, Operários e Camponeses, inaugura-se no Brasil a era da Liberdade, sonhada por tantos mártires, centralizados e corporificados na figura legendária de Luís Carlos Prestes, o "Cavaleiro da Esperança".

Observação enviada por Laélio Ferreira de Melo: "O texto citado do jornal "A Liberdade" foi da lavra do Jornalista e Poeta Othoniel Menezes, meu pai. O autor não era e nunca foi comunista. Era, sim, um socialista-cristão e, na época, correligionário e amigo pessoal de Café Filho. Pelo que escreveu (quase todo o jornal) foi perseguido e punido com quase três anos de cadeia.


* Tribuna do Norte: História do Rio Grande do Norte

24.10.09

Relato sobre a Ribeira (*)

Grupo Escolar Augusto Severo e Escola Doméstica de Natal na Ribeira.

Em meados da década de 1960 a Ribeira abrigava os principais centros viários de Natal: a estação rodoviária, a estação da Rede Ferroviária e o movimento portuário. Podiam-se observas casas residenciais e conjuntos habitacionais em torno da Ribeira-Rocas, onde moradores, em sua maioria, eram funcionários da Rede Ferroviária Federal e outros estabelecimentos comerciais localizados na Ribeira.
Naquela época, o êxodo rural já era uma realidade. Muitos saíram do interior do estado a convite de parentes para trabalhar e estudar na Capital ou se aventuravam em busca de uma vida melhor, e, geralmente, iam trabalhar na Ribeira, pois lá era um centro comercial importante, onde se localizava o comércio “em grosso”, o da construção civil, as oficinas e os serviços mais ligados a economia e a infra-estrutura econômica de Natal.
A rodoviária movimentava um grande comércio ao seu redor com a venda dos mais diversos produtos. Perto dela ficava a estação ferroviária. O trem não se limitava a levar pessoas, transportava, também, mercadorias e cargas, de Natal para cidades do interior do Estado. Do mesmo modo vinham no trem, do interior, produtos para a Capital. Além disso, fazia o transporte interestadual indo para os Estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba.
Desde meados da década de 1950, o Porto de Natal é até hoje um local de embarque e desembarque para embarcações oriundas de outros Estados brasileiros e do Exterior, porém não comporta grandes embarcações por motivos estruturais. Muitos investimentos foram feitos para retirar a “Pedra da Bicuda” na boca da barra do Rio Potengi. Os principais produtos que movimentam o Porto são frutas e camarão. Hoje ainda se encontram algumas lojas de artigos para barcos e pesca na Ribeira.
O comércio da Ribeira iniciou-se com a venda de cereais e depois se diversificou. O horário de funcionamento era de 7 às 11:30 e de 13 às 17:30 entre 1950 e a década de 1980, que foi um período muito auspicioso para o bairro.
Havia um sério problema de alagamento nas proximidades da rodoviária e do Teatro Alberto maranhão, causando sérios transtornos aos moradores e ao comércio. O entorno da Praça Augusto Severo era área úmida e para os moradores e freqüentadores, na época de chuvas, principalmente, tornava-se necessário tirar os sapatos e levantar as bainhas das calças ou as saias, para poder caminhar sem molhar suas vestes.
Apesar de provinciano, o bairro, um dos principais da cidade, não poderia de deixar de acompanhar sua evolução estrutural, com os principais comércios e órgãos públicos. Por ser um bairro predominantemente comercial, a Associação Comercial não poderia ter surgido noutro local, assim como o Clube de Diretores Lojistas. A Junta Comercial também estava localizada na Rua Dr. Barata.
O Teatro era um espaço reservado à “elite”, e por longo tempo era impeditivos aos mais humildes que não faziam parte da “cultura da elite” e era através da música e da religião que eles davam sua rica contribuição para a cultura da Ribeira através de diferentes manifestações artísticas e culturais.
O prédio do Grupo Escolar Augusto Severo, antiga escola Modelo, foi transformado posteriormente na Faculdade de Direito. Diante da mesma Praça está localizado o prédio da antiga Escola Doméstica de Natal.
Nos primórdios, a área da praça e seu entorno eram ocupados por uma tribo Potiguara e ao lado passava um riacho que foi aterrado e como lembrança restou uma pequena ponte, hoje descaracterizada.
O atual prédio do Colégio Salesiano foi a residência de Juvino Barreto, sendo doada após sua morte a Ordem dos Salesianos com o intuito de se implantar um projeto social para a comunidade. Em frente, onde hoje é uma agência da Caixa Econômica funcionava a fábrica de tecidos de Juvino Barreto.


(*) Extraído do trabalho: Ribeira por Marcelo B. M. Tinoco, Maria Dulce P. Bentes Sobrinha e Edja B. F. Trigueiro.

20.10.09

O GALO da Torre da Igreja de Santo Antônio e seu doador (*)



No alto da torre, em volta do poleiro de azulejos, roda e vento doce do galo de bronze secular. Pertence a fisionomia do bairro e possui sua história, relembrada pelos velhos moradores da rua Santo Antonio, ainda em recordação nas palestras sereneiras, noite de lua cheia.
Lourival Açucena dedicou-lhe versos. Creio que não são únicos. Datam de mais de sessenta anos. Vamos ressussitar os versos, que dedicavam os nossos natalenses de outrora.

Caetano da Silva Sanches,
Governador português,
Foi quem aqui colocou-me,
Há mais de um século talvez

Cocorocó! Vou cantando
A minha bela toada,
Louvando com outros galos
A serena madrugada!...

Por todos os quatro ventos
Me vereis sempre emproado. . .
Não tenho “Gogo” e meu canto
Solto bem atenoado!

Cá do alto lobrigado,
Traquinadas do demônio
Vos mandarei telegrama
Da torre de Santo Antonio!...


Esse versinho devem ser posteriores a 4 de agosto de 1878, dia em que se inaugurou em Natal o “telégrafo-elétrico”.
É esse Caetano da Silva Sanches? O “governador português” era natural de Cascais, em Portugal, filho do capitão Francisco da Silva Sanches e de D. Maria Joaquina Sanches. Fez vida militar e era sargento-mór, reformado do Regimento do Recife, ao ser nomeado Governador da Capitania do Rio Grande do Norte, em 12 de agosto de 1791. Efetivado no posto a 27 de março de 1797, ratificada a posse a 7 de fevereiro de 1798, tornou-se muito estimado em Natal.
Casara em Recife com D. Maria Francisca do Rosário Lages, filha do sargento-mór Francisco Gonçalves Lages. Teve dois filhos: Pedro morto ainda criança e Micaéla Joaquina Sanches que se casou com o capitão-mós Manoel Teixeira de Moura.
Quando Caetano da Silva Sanches chegou a Natal já a igreja de Santo Antonio existia. Em julho de 1763 menciona-se, em documentos, em documentos, a rua da Igreja de Santo Antonio. Na fachada principal, por cima da porta, há, muito apagada, a data de agosto de 1766.
O Capitão-mór era devoto de Santo Antonio, santo nacional português. Ajudou por todas as formas, a construção da Torre. Esta ficou terminada em janeiro de 1798.
Em 23 de agosto de 1799, Caetano da Silva Costa Sanches fez testamento. Era um homem robusto e ainda moço. Dele partira a idéia de mandar buscar um galo de bronze e presentear a Igreja, colocando no cimo da torre, nova e bonita. É um costume europeu e rara é a igreja portuguesa, especialmente do interior, que não tenha o Galo, símbolo de vigilância e de fé, arauto da claridade, Gallo canente spesredit. . .
Havia uma lenda de que o capitão-mór falecera no dia da primeira missa na Igreja de Santo Antonio. Não é possível crer-se. A igreja estava entregue ao culto sagrado, vinte e oito anos antes de Caetano da Silva Sanches chegar a Natal.
No dia 14 de março de 1800 o Capitão-mór falecera de ataque apoplético, estrupor, como se dizia.
Sepultou-se na Matriz, vestindo o hábito de Santo que era o orago da Igreja onde doara o galo de bronze.
Em 1864, nasceram uns arbustos na cúpula da Torre. O Galo ficou cercado de vegetação. Parecia viver e abrir o bico, para o apelo metálico aos seus distantes companheiros de capoeira.
O tempo foi rolando sem maiores sucessos. Na noite de 6 de março de 1897, às oito e trinta e cinco minutos, uma faísca, com trovão atordoador, caiu sobre a Torre de Santo Antonio. O galo ferido pelo choque, ficou dependurado, até a madrugada de 21 de junho, quando despencou e bateu na calçada do templo.
Depois, desapareceu, esquecido, nos desvãos escusos e escuros da igreja. Em janeiro de 1917, um “constante leitor” da A REPÚBLICA lembrou-lhe o exílio e sugeriu descobrimento. Monsenhor Alfredo Pegado, então Governador Geral do Bispado, explicou ter encontrado o Galo, danificado e feio, e o mandou consertar.
E, aos quatro ventos do Setentrião do Brasil, voltou o Galo de bronze, cinco anos depois, desta vez, imóvel e grave, assistindo, do alto da Torre, a ronda melancólica dos anos. . .

(*) Luis da Câmara Cascudo - República, 15 de outubro de 1939.

17.10.09

Natal - Geração 70 (*)


Existiram gerações que pareciam fervilhar de ideias, em favor de um futuro melhor. A geração 1970, ou simplesmente "geração 70", foi uma dessas, que marcaram época. Novos costumes foram sendo incorporados à cidade, que começava a perder sua função provinciana. Natal era, na boca de todos, uma Rio de Janeiro pequena, com todas as modas e trejeitos de cidade pequena, metida à grande, não tenhamos a menor dúvida. Então, como dizia Jair Rodrigues em Disparada: "prepare o seu coração para as coisas que eu vou contar..."
Foi o início dos hot-dog\'s, então vendidos na Kyxou, em primeira mão. Lembro-me das portas dos clubes, com as carrocinhas de Big-Dog, Ki-Dog, Xis-Dog. Cachorro-quente de carne que se prezava era o de "Pelé", que ficava, durante a semana, na Quinze, em Lagoa Seca, perto do Feijão Verde e do Bar do Tetéu, onde hoje existe o Midway.

Saboreávamos os refrigerantes: Coca-Cola, Crush, Grapette e Guaraná Rocha ou Champagne. No Galo Vermelho, os rapazes da época compravam frango assado, para tira-gosto das bebidas, como: Rum Montilla, cerveja, whisky, Drink Dreher, etc. Nos restaurantes, os abstêmios bebiam água mineral Santos Reis, em garrafinhas de vidro, com ou sem gás. Nas ruas podia-se tomar um sorvete Maguary ou Big Milk. O resto era din-din!

As rodinhas eram formadas, no fim da tarde, na Kyxou, para tomar sundae/ milk-shake ou um hot-dog. Lá se reuniam as moças e os rapazes da sociedade que assistiam, indiferentes, aos desfiles de moda e dos carrões equipados (Fuscão, Maverick, Opala, Karmann-ghia) e rebaixados, ao som de toca-fitas Rodstar ou Clarion de última geração. Natal sem tatuagens, drogas ou violência urbana, problemas tão comuns, hoje em dia. Aquele sim era tempo bom! Natal do Xique-xique... lá no Posto São Luiz da Av. Salgado Filho.
Já existiam os pegas que, na maioria das vezes, eram feitos no "barródromo", em Capim Macio. Não cito nomes para não fazer injustiças. Ainda sofria-se certa influência de James Dean, no filme Juventude Transviada. Hoje, felizmente, essa perigosa moda entre os jovens acabou. Depois dos "pegas" nos reuníamos no Teco-Teco, o bar de Geraldo em Capim Macio. Gasolina azul! Ingrediente ativo no tanque dos carangos dos boys da época estava à venda no Posto Pitombeira/ Tamarineira/ Miguel Barra, pelo que me lembro.
Ouvia-se bossa nova com a mesma frequência do rock. As radiolas Hi-Fi, Telefunker e Phillips tocavam freneticamente LP\'s e compactos de Roberto Carlos, Jerry Adriani, Ronnie Von, Wanderley Cardoso, Wanderléa, Martinha, Celi Campelo, Nelson Gonçalves, Beatles, The Fevers, Renato e seus Blue Caps, Credence e Santana. Também escutávamos no rádio, às 18 h, Jerônimo, o Herói do Sertão, o eterno noivo de Aninha, que, ajudado pelo fiel moleque Saci, fazia qualquer valente tremer.
Nos sábados a tarde, quem ficava em casa assistia os programas de auditório do Chacrinha. Quem quer bacalhau? À noite, as meninas assistiam na televisão a novela "O Bem Amado" de Dias Gomes, na Rede Globo.
No dia 29 de outubro de 1970 era inaugurada a "Casa de Hóspedes de Ponta Negra", com apenas 14 apartamentos. Um mês depois foi inaugurado o Balneário do Sesc, Ponta Negra, que logo se tornou o local preferido para o banho de mar de vários grupos de rapazes e moças.
A partir dos anos 70 começou a expansão urbana de Ponta Negra, com a construção dos primeiros conjuntos residenciais. Os compositores eram responsáveis pelas partituras das músicas que os maestros conduziam e os músicos executavam. A geração 70 reunira tudo isso harmonicamente, num só lugar: no Festival de Woodstock (1969).
A profusão de conjuntos de rock em Natal era crescente, lembro-me do The Jetsons, Impacto Cinco, Os Terríveis e Apaches.
Estava aumentando o número de hippies, darks e punks, que, antes dispersos, passam a agrupar-se na Praça Padre João Maria ou na Praia do Meio, em frente ao Salva-Vidas da Praia dos Artistas.
Liam-se muitos gibis: Bolinha, Luluzinha, Capitão Marvel, Tarzan, Jim das Selvas, Pato Donald, Batman, Zorro e outros. As revistas mais lidas eram: O Cruzeiro, Manchete, A Cigarra.
Alguns autores que se destacavam: Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade. Na Livraria Universitária, da Av. Rio Branco - Centro, batia ponto a fina flor dos escritores potiguares, recebidos cordialmente pelo Sr. Walter Pereira.
No Rio, o colunista Ibrahim Sued; em Natal, Jota Epifânio e Adalberto Rodrigues apresentavam, em suas colunas, o jet set da "capital espacial" do Brasil.
Assistíamos na TV programas como: A Praça da Alegria, J. Silvestre, Família Trapo, etc.

Nos cinemas Rex, São Luiz e São Pedro, domingo pela manhã, era onde se assistia os seriados de Zorro, Rin-tin-tim, Roy-Rogers e degustava-se o irmão mais velho do Baton: o Leite e Mel, ao lado dos torrones, das balas gasosas e dos Drops Dulcora, de cevada, anis e coca, sem esquecer dos Toffees Déa, muito populares na época. Tivemos o privilégio de assistir bons filmes em Tecnicolor, como: Mobby Dick, Os que Sabem Morrer, Love Story e outros, no Rio Grande, Rex ou Nordeste, pois não mais existia o cine Poty em Petrópolis, nem o Polytheama na Ribeira.
Nos domingos à noite, a partir das 19:30h, íamos para o ABC, animado ao som do Impacto Cinco. Os garçons eram Perneta e Bem-Te-Vi, entre outros, e as bebidas pedidas eram cuba libre e hi-fi, mais consumidas do que as cervejas, estas em casco escuro ou claro. A cerveja em casco escuro já era mais apreciada do que a de casco claro.

Alguns preferiam ir ao Hippie Drive-in, na estrada de Ponta Negra, com luz negra e outros babados. Outra pedida também era uma esticadinha à Tenda do Cigano, Peixada Potengi ou, quando sem dinheiro, a opção era o cachorro-quente do Souza, no beco da Casa Rio.
As noites eram tocadas pelo Hippie Drive-in, Piri-Piri e Girassol. Existia o bar Barreirinha, outro ponto de encontro da mocidade. O acesso a Ponta Negra era pela antiga estrada, construída pelos americanos, até a altura do velho Posto Planalto. Daí, prosseguia-se pelo calçamento, chegando à orla marítima e seguindo adiante, até Pirangi, onde tínhamos o caranguejo do Pinoca.

Em Petrópolis, frequentava-se a Confeitaria Atheneu, o Gramil e o Kazarão.
Na Praia do Meio, O Jangadeiro, depois da boate do Hotel Reis Magos, para uma noite de serestas com o inesquecível Expedito. Também éramos clientes assíduos do Aeroclube e do América, onde se comiam as refeições mais sofisticadas, com a mesma naturalidade que se tomava um caldo de feijão na Tenda do Cigano.

No Tirol, o Stop era frequentado por uma porção de jovens, vindos do bairro e adjacências, que nos dias em que na AABB ou no América tinha baile (não show) fazia a alegria dos garçons. Quem atendia eram os garçons: Bem-Te-Vi e Perneta. Depois da festa ou arrastão (época de São João), lanchava-se lá pelas 3 da madrugada no Dia-e-Noite, lanchonete com bastante movimento, localizada no Centro. Posteriormente, veio o Passaporte Lanches, de Peninha, na Praça Pedro Velho.
Dos carnavais inesquecíveis lembramos os do América, Aero, AABB, ABC, Iate Clube e Assen, valendo a pena lembrar que os carnavais do América eram sempre tocados pela orquestra de Waldemar Ernesto.
Em Natal, tudo era charmoso, na década de 70, quase sem violência urbana.

(*) Elísio Augusto de M. e Silva, empresário, escritor - Transcrito de O Jornal de Hoje

13.10.09

"Reclames de Ontem" - Propagandas










12.10.09

Dos Bondes ao Hippie Drive-In (*)


Recebi de Fred Sizenando alguns tópicos sobre o livro: Dos Bondes ao Hippie Drive-In a ser lançado no próximo mês de novembro, no Clube de Engenharia. (Manoel Neto)


A idéia surgiu do desejo de registrar e compartilhar as histórias e fatos pitorescos envolvendo o cotidiano de pessoas da cidade do Natal, narradas oralmente pelo nosso pai, João Sizenando Pinheiro Filho, funcionário público, ex-remador do Centro Náutico Potengí, e que viveu quase um século na nossa capital, convivendo com figuras humanas que caracterizaram a alma da nossa província.
Naturalmente evoluímos na concepção do livro e passamos a pesquisar e escrever abrangendo os períodos em que nós mesmos vivenciamos ou participamos da história.
A nossa infância e adolescência nos anos 1960 e 1970 em Natal, os vizinhos, o ambiente estudantil, as peladas de rua, a turma da praia, as matinês do ABC, o Hippie Drive In, a SCBEU, as paqueras. Como na música de Oswaldo Montenegro, fizemos um esforço de memória para relacionar uma lista nossos amigos mais próximos desde a infância até o período inicial na Universidade. A partir desta lista, passamos a recapitular os detalhes da nossa vida em diferentes fases. Para garantir uma maior amplitude nos conteúdos dos relatos, nós procuramos ao longo de oito anos, localizar e conversar com esses velhos amigos, alguns deles não tínhamos contato desde 1959. Pesquisamos nos jornais, livros e revistas da primeira metade do século XX e localizamos pessoas que viveram em Natal antes e até a II Guerra Mundial.
O resultado disso tudo é a concretização do livro “Dos Bondes ao Hippie Drive In”, a ser lançado no próximo mês, onde abordamos de forma leve e curiosa a evolução do cotidiano da nossa cidade cobrindo o período desde 1915 até 1975. As mais de 350 fotografias inseridas - com contribuição de diversos colaboradores - consolidam o diferencial da publicação.
“Dos Bondes ao Hippie Drive In” contém uma série de crônicas que descrevem episódios curiosos, figuras humanas marcantes, hábitos e costumes, tendo como pano de fundo os principais fatos históricos ocorridos na cidade. São sete capítulos, cada um contendo uma média de 10 textos distintos. Os capítulos são: “Natal dos Bondes”, “Natal dos voos transatlânticos e dos primeiros cinemas”, “Natal dos comunistas e dos americanos”, “Natal dos nossos pais”, “Natal da nossa infância”, “Natal dos gibis e do cinema Rex” e “Natal Pop”.
Na parte inicial é abordada a cidade no início do Século XX quando os bondes puxados a burros começavam a ser substituídos pelos bondes elétricos. Os hábitos da população, curiosidades, as formas simples de lazer e diversão. Vale à pena conferir também uma síntese apresentada das edições do ano de 1916 do pasquim “apimentado” denominado “O Parafuso” com editoriais, fofocas, enquetes, anúncios de filmes e notícias que ilustram bem o cenário cultural e político da época.
Figuras populares que caracterizavam o dia a dia dos anos 1920 e 1930 são descritas com apresentação de causos. Figuras como Gonçalo Pé de Pato, um mulato feio, cheio de bichos de pé, que era metido a bonito e namorador. Outra pessoa resgatada no livro é Sinfronio Barreto, considerado a figura mais popular e caridosa de Natal depois do padre João Maria. As aventuras na juventude de Paulo Lira (1903 -1979) - o mais famoso pianista da cidade - e sua turma no início do século XX são lembradas. As inaugurações do Estádio Juvenal Lamartine, do Cais do Porto e do primeiro sinal de trânsito na cidade são descritas e documentadas com fotografias.
Um capítulo especial com muitas informações cobre a história do cinema em Natal, desde a primeira exibição em um Depósito de Açúcar na Ribeira no final do século XIX passando pelas exibições do Polytheama e Royal Cinema.
Na sequência uma cobertura interessante sobre os voos transatlânticos dos hidroaviões provenientes da Europa e Estados Unidos. A recepção e detalhes curiosos dos aviadores pioneiros. Também são relatados: o incrível “raid” Natal-Rio numa pequena iole; os antigos carnavais; o surgimento da telefonia e as primeiras obras de saneamento da cidade.
O episódio do Levante Comunista de 1935 nós ilustramos a partir da apresentação de fatos pitorescos envolvendo pessoas comuns. Segue ainda um passeio sobre a vida em Natal durante a II Guerra Mundial e resumo de alguns arquivos secretos da Base Aérea de Natal.
Chegando ao período pós-guerra, o livro alcança o prefeito Djalma Maranhão, o programa “De pé no Chão também se aprende a ler”, a participação da “Aliança para o Progresso” no governo Aluísio Alves, a revolução de 64, com destaque para as agitações dos estudantes do Atheneu.
Quem era garoto ou adolescente nos anos 1950 e 1960 em Natal vai se deliciar com as crônicas envolvendo nossas recordações sobre a infância na Cidade Alta, Praça Pedro Velho, Jardim de Infância Modelo, escolinha da professora Janoca e “Jerônimo o Herói do Sertão”. Destaque especial para os jovens “cientistas” da Rua Felipe Camarão que montavam pequenos foguetes para serem lançados na Praia do Forte e em Mãe Luísa. Mais interessante ainda recordar os tempos dos seriados no cinema Rex, a curtição dos gibis e das peladas de rua.
O capítulo denominado “Natal Pop” cobrimos principalmente a Natal da geração “paz e amor”, o primeiro biquíni na cidade, a Sociedade Cultural Brasil - Estados Unidos (SCBEU), os primeiros surfistas, os festivais de música Popular. Destaque maior para a história do Rock em Natal, com muitas curiosidades - como o Irmão Marista que financiou a primeira banda da cidade - e detalhamento dos principais conjuntos que fizeram a trilha musical de toda uma geração.
Aqueles que conheceram Jerônimo o Herói do Sertão, o Cinema Poti, as tartarugas da Praça Pedro Velho, o Sebo de Cazuza, as matinês no ABC, as “Anastomoses” no América, o “Seu Talão vale um Milhão”, a loja de discos de Helisom, e o “Hippie Drive In”, certamente não deixarão de se emocionar. E irão relembrar não apenas os fatos narrados, como também inúmeros outros momentos que facilmente se acenderão em suas mentes como um simples duplo clique para acessar algum arquivo de computador.

(*) Carlos e Fred Sizenando, biólogo e engenheiro, respectivamente. Foto: Cidade da Criança - Lagoa Manoel Felipe atualmente completamente abandonada cerceando neste 12 de Outubro as crianças de lá comemorarem o seu dia.