28.11.09

Manifestações Literárias II


Usar a língua espanhola era comum entre os escritores portugueses do século XVI. Mas é singular a produção poética no idioma dos índios Tupi, grupo lingüístico que ocupava quase todo o litoral brasileiro no século XVI. Os jesuítas submeteram esse idioma à disciplina gramatical e ele se tornou, com a designação expressiva da “língua geral”, o principal veículo de comunicação entre colonizadores e indígenas; depois, entre os descendentes dos colonizadores, muitos deles mestiços. A obra de Anchieta e a prática extensiva da língua geral indicam que poderia ter-se desenvolvido no Brasil uma cultura paralela e um bilingüismo equivalente ao que ainda existe no Paraguai (devido também à catequese jesuítica). Essa concorrência alarmou as autoridades metropolitanas, interessadas em usar o seu próprio idioma como instrumento de domínio e homogeneização cultural, a ponto de, no século XVIII, proibirem o uso da língua geral nas regiões onde ela predominava.
Isto é dito para destacar uma das funções da literatura culta no Brasil Colonial; impor a língua portuguesa e registrá-la em escritos que ficassem como marcos, ressaltando a sua dignidade de idioma dos senhores,
ao qual todos deveriam submeter-se, como afinal acabou acontecendo.
A não ser o caso das tribos indígenas sobreviventes, e de alguma persistência da língua geral na Amazônia, os idiomas indígenas foram proscritos, assim como os africanos, que vieram com a importação de escravos. Trata-se de um verdadeiro processo de dominação lingüística, aspecto da dominação política, no qual a literatura culta, repito, desempenhou papel importante. Foi pena que a grande percepção de Anchieta não tivesse seguidores, pois ele combinava a tradição clássica, redefinida pelo humanismo do Renascimento, com certos veios mais populares da tradição ibérica, visíveis nos autos teatrais e na escolha das formas métricas de sua lírica. Além disso, acolheu e procurou dar dignidade à própria expressão lingüística do indígena, mostrando que seria possível uma cultura menos senhorial, mais aberta aos grupos dominados.
Portanto, o que aqui predominou e deu a tônica foi uma literatura de senhores, que transpôs o requinte da literatura metropolitana e nem sempre foi capaz de sentir a complexidade da sociedade nova. Mas é preciso não encará-la com espírito de compêndio ou manual, isto é, como se as listas de nomes, obras e temas, postos em sucessão no espaço da página, significassem a existência de uma verdadeira vida literária, que só ocorrerá a partir do século XVIII, quando se esboça uma “República das Letras”. Nos séculos XVI e XVII o que havia eram autores ocasionais, ou circunscritos à sua região, produzindo obras que na maioria absoluta não foram impressas, inclusive porque o Brasil só teve licença para possuir tipografias depois de 1808. Algumas dessas produções foram editadas em Portugal, mas outras de grande importância conheceram apenas a difusão oral ou manuscrita, atingindo círculos restritos e só no século XIX chegaram ao livro.
Isolados, separados por centenas e milhares de quilômetros uns dos outros, esses escritores dispersos pelos raros núcleos de povoamento podem ser comparados a vaga-lumes numa noite densa. Podia haver lugares, como a Bahia, onde se reuniam homens cultos, sobretudo clérigos e legistas. Podia haver sermões brilhantes que encantavam o auditório, ou poetas de mérito recitando e passando cópias de seus poemas.
No conjunto, eram manifestações literárias que ainda não correspondiam a uma etapa plenamente configurada da literatura, pois os pontos de referência eram externos, estavam na Metrópole, onde os homens de letras faziam os seus estudos superiores e de onde recebiam prontos os instrumentos de trabalho mental.
Texto de Antonio Cândido

27.11.09

"Almas Nuas" no Solar Bela Vista 26.11.2009


Uma bela noite no lançamento do livro de poemas "Almas Nuas"!
Zedelfino irradiando alegria e felicidade cercado dos seus anjos e demônios, todos com suas almas nuas despidas de todas suas vaidades e arrogâncias.
Os que o amam, admiram e respeitam, felizes em reencontrar aqueles que fecham os laços dessa imensa teia de relacionamentos, sem se incomodarem com a gritante ausência dos invejosos que não sabem cultuar o êxito e sucesso de alguém, porque realmente não podem deixar de ser o centro do universo, verdadeiros reis-sol, ou melhor, na realidade reis-solitários.
Alguns lá chegaram silenciosos e discretos, mas na face externando sua alegria em ali estar, brincando, soltando galhofas, mas, sobretudo se confraternizando com tiradas elogiosas ao poeta.

25.11.09

Natal Ontem e Hoje




“Os meus olhos ainda não viram nada mais encantador que o nosso Potengi, descendo para o mar, nas horas de vazante, sereno e calmo, conduzindo nas águas mansas uma porção de barcos leves, que vão e vem, que aparecem e desaparecem nas curvas dos rios, dando a perspectiva, uns tons suaves de mágica, de tela polycroma...” (Henrique Castriciano)

As ruas de Natal foram se consolidando de forma constituir uma trama viária típica de cidade colonial, com ruas estreitas, casas pequenas construídas sobre alinhamentos frontais e laterais dos lotes, sem qualquer separação entre o espaço privado e o público, e as calçadas como espaço das atividades de convivência e confraternização de vizinhança.” (Giovana Paiva de Oliveira)

“A construção da Praça Sete de Setembro, em 1914, desfigurou-a para sempre, derribando uma metade da rua. O parque do Palácio demoliu outro trecho. Hoje a Rua da Conceição possui apenas uma fila de edifícios, e está reduzida a um pequenino número, contados da esquina do Palácio do Governo até a Praça João Maria, antiga Praça da Alegria. A Rua da Conceição, entretanto, teve história sugestiva e colorida”. (Luís da Câmara Cascudo)


Fotos Superiores: Atual Pça. André de Albuquerque, Pça. João Tibúcio e vista do Potengi;
Fotos do Meio: Rua da Conceilção e Esquina da antiga Pça. da Alegria atual Pçc. Pe. João Maria
Fotos Iinferiores: Rua da Conceição e Palacio Potengi.
Fonte:Semurb

21.11.09

Dos Bondes ao Hippie Drive In


Os primeiros telefones em Natal surgiram, conforme Câmara Cascudo, entre 1908 e 1911. Em 1918 a prestação do serviço era feita pela empresa paulista Tração Força e Luz (energia elétrica, bondes e telefonia). O gerente era João batista Vasquez que residia em São Paulo e por aqui aparecia periodicamente. As ligações eram feitas através de um pool de telefonistas que trabalhavam na sede da Empresa que fiava na Avenida Tavares de Lyra na Ribeira.
Luis da Câmara Cascudo em 1979, destacava que os natalenses mais ricos faziam o gesto de combinar uma ligação telefônica simulando o giro de uma manivela, típica dos primeiros telefones da cidade. Esse gesto foi posteriormente transformado na simulação da “discagem” nos anos que antecederam os aparelhos com teclas. Os serviços públicos, de uma maneira geral, eram extremamente ineficientes e se encaminhavam para um colapso total e as reclamações foram se acumulando. Natal chegou a ficar três dias sem o serviço de bondes. Em 1921 o governador Antônio José de Melo e Souza visando atender o interesse público criou a Repartição de Serviços Urbanos com a missão de gerir a prestação dos serviços de bonde, de coleta de lixo, de produção, conservação e venda de gelo, geração e distribuição de energia elétrica e telefonia. Dessa forma os serviços públicos foram estatizados em Natal. O seu primeiro diretor-gerente foi o escriturário do Tesouro João Sizenando Pinheiro. A repartição funcionava na Avenida Tavares de Lyra.
Ao longo dos anos seguintes ocorreu melhora nos serviços, mas em 1929 o governador Juvenal Lamartine de Faria, com aprovação da Assembléia Legislativa deu o passo inverso e autorizou a privatização de parte dos serviços e foi autorizado a contratar empresa privada para voltar a prestar serviços de eletricidade e telefonia.
As ligações telefônicas públicas automáticas só aconteceram em 1942, no início da II Guerra.
Em meados dos anos 50 a Radional, Radio Internacional do Brasil, americana, foi encarregada de prestar o serviço de ligações telefônicas interurbanas em Natal. O sistema funcionava com apenas um canal e operava em baixa freqüência de rádio, normalmente muito ruidoso. Efetuar ligações interurbanas era um privilégio restrito praticamente às autoridades estaduais, e como era difícil completar uma ligação! A estação ficava na “Corrente” onde hoje é o Conjunto Potilândia em Lagoa Nova, e a conexão era essencialmente para o Rio de Janeiro (capital federal) e demorava horas para se conseguir uma condição apenas razoável de comunicação. Os usuários mais freqüentes eram o Governador Dinarte Mariz e o Deputado Djalma Marinho. Quando a ligação local não era possível era necessário se deslocar para a Radional que funcionava próxima a Estação Ferroviária, para se comunicar com o rio de Janeiro. A Telern, Companhia Telefônica do Rio grande do Norte só foi criada em 1963, no Governo Aluísio Alves, e possibilitou os primeiros passos para a integração interestadual pelas telecomunicações através da repetidora de Serra de Santana com a possível execução de ligações interurbanas entre natal, Macaíba, Ceará Mirim, Mossoró, Angicos, Lajes, Caicó, Pau dos Feros e Currais Novos.Fonte:

Dos Bondes ao Hippie Drive-In de Carlos de Fred Sizenando R. Pinheiro

17.11.09

De Natal a Manhattan - holandeses e judeus


Pero Mendes de Gouveia, Capitão-mor (espanhol, segundo alguns), ferido nos combates, muito macho, não entregou a Fortaleza. A rendição (1633) se deu por obra e graça da covardia dos subalternos. Começara mal, assim, a dominação holandesa no Rio Grande. A galegada flamenga de Olinda e Recife, cinco anos depois da conquista de Pernambuco, estava de olho no gado, no açúcar e na mandioca da terra. A Fortaleza dos Reis Magos virou Castelo Keulen, a incipiente vila de poucas palhoças, na Cidade Alta (ou nos Guarapes?), foi rebatizada: Nova Amsterdã. Começou a inhanha: a exploração, a violência, os massacres - um deles, o de Uruaçu, poucos dias depois da vitória.
Jacó Rabi (rabbi em hebraico, significando "mestre"), Conselheiro da Companhia das Índias, judeu alemão, pintou e bordou em Cunhaú (1645), matando muita gente. Esse camarada arranjou amizade com os tapuias Janduís, comandando uma uma tropa de choque, violenta longa manu dos interesses batavos. Era tão ruim que os próprios judeus, portugueses e protestantes, prejudicados com suas façanhas, forçaram o seu assassinato, a mandado do coronel holandês Gartsman, casado com uma brasileira.
Significativa, intensa até, foi a presença israelita no Nordeste durante a ocupação flamenga. Tangidos de Portugal e Espanha, acusados de heresias - vivendo outros na própria Holanda mas originários da Península, - os sefardins, ricos, chegavam aos nossos portos, atraídos pelo comércio, ganhando dinheiro, prosperando.
No Recife, fundaram a primeira sinagoga das Américas. Gilberto Freire afirmava que, desde Cabral, de dez portugueses que vinham para cá, oito eram judeus marranos (cristãos-novos).
No Rio Grande, hoje, pouca gente se dá conta da sua origem hebraica. Vencidos os holandeses nos Guararapes, liberada a Capitania, sua fortaleza e sua vila primeira (Natal), a maioria dos judeus afortunados da região - marranos ou não - se escafedeu para o Caribe e para uma outra "Nova Amsterdã", um entreposto flamengo, na ilha de Manhattan - que depois, sob o guante da espada inglesa, viria a ser chamada de Nova Iorque. Esse grupo ajudaria a fundar o império capitalista americano. Os outros, os menos bafejados pela sorte, obrigados novamente a se cristianizarem, foram palmilhar os caminhos do sertão, misturando-se às populações indígenas. Ficaram, todavia, os sobrenomes reveladores: Carvalho, Moreira, Nogueira, Oliveira, Pinheiro, Lopes, Dias, Nunes, Souza, Medeiros, Costa, Cardoso, Fonseca e tantos outros. Dos costumes e manias - afirmam, por aí -, deixaram-nos a carne de sol, o comércio à prestação, de porta em porta, a pintura das casas no final do ano, a sangria dos animais para a alimentação, o sepultamento dos defuntos envolvidos em mortalhas.
Os holandeses, por sua vez, parece (ainda bem, ainda bem!), só nos deixaram os Wanderley do Assu - salvas algumas poucas exceções, gente de brio, de prumo, de engenho e de muita arte, até nossos dias...

(Laélio Ferreira, Poeta e pesquisador - Foto: Av. Circular e Rua do Motor.

14.11.09

Os índios somos nós?


Alguns historiadores relatam que em 1497, Vasco da Gama aportou no litoral potiguar. Outros descrevem que Colombo esteve também por aqui nessa época acompanhado do navegador português Duarte Pacheco Pereira. Todavia, somente em 1501 foi fixada o primeiro Marco de Posse colonial da terra brasileira por Portugal, atualmente conhecido como o Marco de Touros.

Praticamente havia duas ramificações indígenas nas terras do RN: os índios Potiguara descendentes dos Tupis que habitavam o litoral e os Tarairiu oriundo dos Tapuias então habitantes do sertão. Atraídos pelas riquezas do Novo Mundo, chegaram ao nosso litoral os primeiros corsários franceses em busca do pau-brasil, árvore do qual se retirava corante, muito utilizado em tecidos na Europa. Os franceses tinham uma relação comercial com os potiguaras denominada escambo, os indígenas levavam a madeira para a praia na forma de tronco e em troca recebiam quinquilharias.

Preocupados com a permanência dos franceses no litoral, a Coroa portuguesa resolve dividir suas terras em 15 capitanias hereditárias, estando elas limitadas pela linha fictícia do Tratado de Tordesilhas, através do qual Portugal e Espanha haviam dividido os territórios da América. A Capitania do Rio Grande foi doada a Ayres da Cunha e seu sócio João de Barros que, em 1635 organizaram uma expedição com 10 embarcações fortemente armadas para expulsar os franceses que naquele momento tinham como aliados os índios potiguaras e juntos defenderam-se dos ataques portugueses conseguindo rechaçar a expedição. Após passarem quase 100 anos de domínio francês em nosso litoral, é que a conquista portuguesa obteve êxito, dando início à construção de um forte nas margens do Rio Grande, hoje Potengi. Em 25 de dezembro de 1599 foi fundada as margens do Rio Grande a “Povoação dos Reis” que só veio a se chamar “Cidade do Natal” em 1614.

Os Holandeses foram obrigados a fugir da Bahia em 1625, não desistiram e conquistaram Pernambuco em 1631, ocupando o Rio Grande em 1633. O forte foi denominado de Castelo de Ceulen e Natal de Nova Amsterdã. Fizeram alianças com os tapuias e conquistaram o engenho de Cunhaú, porém, em 1654 depois de 24 anos de domínio foram definitivamente banidos do Brasil.

Em meados de 1961 a população da “Cidade do Natal” chegava a 150 mil habitantes depois de 340 anos de existência, praticamente todos esses moradores, essas pessoas, tinham um vínculo familiar, um parentesco, mas a população cresceu e nos dias de hoje, alcançamos 800 mil habitantes de desconhecidos. A migração e imigração tornaram a cidade lotada de pessoas de todas as origens e credos, muito deles endinheirados comprando extensões de praias ao longo do nosso litoral a fim de construir hotéis e resort para diversão de turistas estrangeiros.

O escambo é pela moeda, os índios agora somos nós, entregamos nossas areias brancas onduladas pelo vento, as nossas dunas reluzentes banhadas por praias praticamente virgens, habitadas por pescadores e veranistas com o intuito de favorecer o desenvolvimento sustentado, aumentando a pretensa arrecadação e divisas para o nosso Estado.

A bela praia de Ponta Negra é um exemplo típico, a calvície do morro do careca expandiu a ponto de ser proibido a sua subida, ao seu arredor empreendimentos vão à justiça para edificar prédios altos, bem altos, competindo com a altura do morro, podendo modificar a paisagem, simplesmente para habitar moradores que façam escambo. A Ponta Negra de hoje jamais voltará a ser da época que conheci, com suas redes pescando cardumes de tainha e pescarias de xaréu em Alagamar. Ponta Negra não pertence mais aos moradores antigos de Natal, a vila dos pescadores não pertence mais aos antigos pescadores, a bela praia de Ponta Negra pertence aos donos de Hotéis e Pousadas que lotam de turistas estrangeiros muitos deles a fim de realizar escambo para sua própria diversão, Ponta Negra atualmente è, uma terra de ninguém.


José Eduardo Vilar Cunha - Jornalista e professor UFRN

11.11.09

Dos bondes ao Hipie Drive-in


"Dos Bondes ao Hippie Drive-in", fragmentos cotidianos da cidade do Natal, de Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro, lançado no dia 12 de novembro de 2009, às 19 horas, no Clube de Engenharia na Av. Rodrigues Alves, nº 1004, Tirol, ao lado da Cidade da Criança. Só para despertar a curiosidade, parte da introdução do livro:

"Dentre tantas fotografias interessantes, tivemos o delicioso trabalho de selecionar as imagens mais representativas, que contribuíssem para transformar a leitura num agradável mergulho no túnel do tempo, que nos transporta de forma lúdica a uma Natal que evolui entre 26 mil e 300 mil habitantes, que dava seus primeiros passos para a modernidade. Voltamos também aos anos 60, tempo das tanajuras espetadas pelo rabo, dos “lacerdinhas” nos pés de fícus que nos atazanavam os olhos, das séries do Cinema Rex, de Elvis Presley no Rio Grande. Tempo dos “aluizistas”, dos “dinartistas”, do Programa “De pé no chão também se aprende a ler” e dos nossos maiores temores infantis: a viúva Machado e Maria “Mulamanca”.


Em relação aos inesquecíveis anos 1960`s e 1970`s, destaque especial foi dado ao surgimento e evolução do Rock em Natal, com detalhamento das primeiras Bandas surgidas sob inspiração da Beatlemania e da Jovem-Guarda, dos Festivais Musicais do Palácio dos Esportes, da contra-cultura, dos Poemas-processos.


Aqueles nossos amigos e amigas que conheceram Jerônimo o Herói do Sertão, o Cinema Poti, as tartarugas da Praça Pedro Velho, o Sebo de Cazuza, os bailes no ABC , as “Anastomoses” no América, o “Seu Talão vale um Milhão”, a loja de discos de Helisom, o Juvenal Lamartine, a Rita Loura*, o Hippie Drive In, certamente não deixarão de se emocionar. E irão relembrar não apenas os fatos aqui narrados, como também inúmeros outros momentos que de tão significantes em suas vidas, facilmente se acenderão em suas mentes como um simples duplo clique para acessar algum arquivo de computador".


* Dona Rita Barroso de Carvalho, uma doce senhora - nota do blog -

Foto: Avenida Rio Branco em 1931.

8.11.09

Século XVI - Manifestações Literárias


É preciso imaginar o que era o Brasil no século XVI.
Uma vasta extensão de terras quase totalmente desconhecidas, cujas fronteiras com os domínios espanhóis eram indefinidas, habitada por indígenas que pareciam ao conquistador seres de uma espécie diferente, talvez não inteiramente humano. Uma natureza selvática e exuberante, cheia de animais e vegetais insólitos, formando um espaço que ao mesmo tempo aterrorizava e deslumbrava o europeu. Quanto ao deslumbramento, nada mais eloquente do que um dos documentos iniciais sobre a nova terra, publicado em 1504 e atribuído a um dos seus primeiros e mais capazes conhecedores, Amerigo Vespucci, onde se lê; “se no mundo existe algum paraíso terrestre, com certeza não deve estar longe deste lugar”.
Ao pequeno Reino de Portugal cabia a tarefa sobre humana de ocupar, defender, povoar e explorar essa terra incógnita, uma das muitas que faziam parte de sua prodigiosa expansão. Essa tarefa se desdobrava em vários aspectos: administrativo, econômico, militar, religioso.
Os homens que vieram para o Brasil de maneira regular e com mente fundadora, a partir de 1530, tiveram inicialmente necessidade de descrever e compreender a terra e os seus habitantes, com um intuito pragmático necessário para melhor dominar e tirar proveito. Ao mesmo tempo, precisaram criar os veículos de comunicação e impor o seu equipamento ideológico, tendo como base a religião católica. Tais homens eram administradores e magistrados, soldados e agricultores, mercadores e sacerdotes, aos quais devemos os primeiros escritos feitos aqui. Esses escritos são descrições do país e seus naturais, relatórios administrativos ou poemas de fundo religioso, destinados ao trabalho de pregação e conversão dos índios. Dessa massa de escritos destacam-se os dos jesuítas, que vieram a partir de 1549 e, sobretudo os de um natural das Ilhas Canárias, parente de Santo Inácio de Loiola, que veio muito jovem e poderia ser considerado um dos patriarcas da nossa literatura: José de Anchieta (1534-1597). Homem de boa formação clássica, profundamente identificado com o país e os índios, deve-se a ele não apenas relatórios penetrantes sobre a atuação da sua Ordem, iluminando a vida social da Colônia, mas obras especificamente literárias, em quatro línguas, algumas vezes misturadas: português, espanhol, latim e tupi.
A sua principal obra latina é um poema épico sobre os feitos militares do Governador Geral Mem de Sá. Só recentemente verificou-se que havia sido impresso em Lisboa no ano de 1563, o que lhe dá a posição de primeiro livro produzido no Brasil. Seu tradutor para o português, o Padre Armando Cardoso (1958), assinala a influência de Virgílio e a pureza clássica do latim de Anchieta, registrando a importância de uma epopéia feita no calor dos acontecimentos narrados e baseada no testemunho de protagonistas, além da própria experiência do autor, que colaborou com Mem de Sá. Hoje, impressionam a capacidade narrativa e o estranho gosto pela descrição da crueldade. Além dessa obra de maior vulto, Anchieta escreveu poesias e atos teatrais de cunho religioso, sempre com o intuito de tornar a fé católica acessível ao povo, em geral, e aos índios catequizados, em particular.

* Antônio Cândido

5.11.09

Marco de Touros


O dia 7 de agosto foi escolhido como a data do aniversário do Rio Grande do Norte, porque nesta mesma data, no ano de 1501, aconteceu, em terras potiguares, um dos mais importantes fatos históricos do país: a fixação do primeiro Marco de Posse colonial da terra brasileira por Portugal, fato que para muitos historiadores, representa o registro de nascimento do Brasil. e para muitos o mais antigo, existente, da toda colonização portuguesa, e sua fincagem foi o primeiro acontecimento histórico no território potiguar e também o evento oficial de posse do país. Outros Marcos foram deixados no litoral brasileiro, um no litoral baiano e outro na praia da Cananéia, São Paulo, sendo o de Touros o mais antigo.
A esquadra que realizara esta travessia era formada por três caravelas e tinha no comando o capitão André Gonçalves e Américo Vespúcio como cosmógrafo, após longo percurso, saindo de Lisboa.
Quando os portugueses, na sua política expansionista, chegavam às terras descobertas, deixavam o marco, oficializando a tomada de posse de territórios que descobriam como sendo exclusivamente de Portugal. Eram colunas de pedra, de altura variável, encimadas por uma cruz com inscrições em português, latim e árabe, que os portugueses passaram a usar como prova de suas descobertas e símbolos de sua fé.
O Marco de Touros é uma pedra calcária de granulação fina, provavelmente de mármore português ou lioz, medindo 1,20m de altura; 0,20m de espessura, 0,30m de largura; 1,05m de contorno.
Na parte superior, contém a cruz da Ordem de Cristo (a famosa Cruz de Malta) em relevo e, abaixo, as armas do rei de Portugal e cinco escudetes em aspas com cinco quinas, sem as bordaduras dos castelos.
O Marco de Touros é também cultuado pela comunidade de Cauã, como se fosse santo, e o chamam até de “Santo Cruzeiro”. O culto ao Marco surgiu em decorrência da falta de conhecimento das características da pedra e das inscrições nela contidas, como, por exemplo, a cruz que representa o símbolo da Ordem de Cristo. Esses fatores levaram a comunidade a crer que o Marco era realmente divino, vindo diretamente de Deus para eles. Os habitantes dessa comunidade acreditavam que tirar algumas lascas de pedra do Marco de Touros para fazer chás não se constituía como uma agressão e sim como uma cura para suas doenças.
A comunidade, mesmo na sua ignorância e pela sua obsessão religiosa, contribuiu para que o avanço do mar não viesse a destruir o precioso acervo – que foi o primeiro monumento histórico do Brasil português – pois, a cada avanço do mar, o Marco era deslocado do alvo das ondas.
Desde 1976, encontra-se nas dependências da Fortaleza dos Reis Magos, quando ele foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural. Na praia do Marco, em Touros, existe uma réplica do Marco, que mantém a tradição, os mitos, a crença do povo e reforça a idéia de que a ação religiosa dos habitantes preservou um patrimônio que, de outra forma, teria sido destruído.

* Extraído do texto de Paulo Roberto R. Teixeira e pesquisa do blog.

1.11.09

Coluna Capitolina


No dia 5 de julho de 1928 o avião Savoia-Marchetti S-64 pilotado pelos aviadores italianos Carlo Del Prete e Arturo Ferrarin alcançou a cidade de Touros, no Rio Grande do Norte, procedendo de Roma na Itália, após um vôo de 49 horas e 19 minutos, sem escalas, vencendo uma distância de 7163 quilômetros.Em reconhecimento à fidalguia, acolhimento e carinho com que o povo de Natal proporcionou aos dois famosos aviadores, Benito Mussolini, “Il Duce”, como 1º Ministro da Itália, resolveu doar à cidade uma “Coluna Romana”, mais conhecida como “Coluna Capitolina”, porque é originária do Monte Capitólio, em Roma. Evoca “na forma e na estrutura o templo de Júpiter”A instalação da referida coluna em Natal serviria ainda para eternizar a memória desse grande reide aéreo. A coluna Capitolina foi inaugurada em 8 de janeiro de 1931; foi trazida a bordo do navio”Lanzeroto Mlocello”, que participou do apoio à primeira travessia aérea do Atlântico Sul feita por um esquadrão, sob o comando do General Italo Balbo. Ás 07:30 horas do dia 8 de janeiro, foi rezada uma missa campal pelo Bispo Dom Marcolino Dantas, na esplanada do Cais do Porto, com as presenças das tripulações de todos os aviões e do navio de apoio. Depois da celebração, houve a inauguração do monumento. Dom Marcolino abençoou a coluna e o general Italo balbo pronunciou rápido discurso fazendo a doação do monumento à cidade. Ao final, o prefeito Pedro Dias Guimarães agradeceu o oferecimento de tão valioso e histórico marco. A Coluna Capitolina tem 5,80 metros de altura, apoiada numa base com cerca de 3 metros quadrados. É de mármore cinza e continha duas placas de bronze com os seguintes dizeres (traduzidos para o português): “trazida de um só lance sobre asas velozes além de toda distância tentada por Carlo Del Prete e Arturo Ferrarin, a Itália aqui chegou a 5 de julho de 1928. O Oceano não mais divide e sim une as gentes latinas de Itália e Brasil”. Na outra face do pedestal havia outra placa, também com inscrição em língua italiana, cujo significado no idioma português significa:”Italo Balbo aqui junto com o Esquadrão aéreo transatlântico na rota percorrida por Carlo Del Prete e Arturo Ferrarin a eles recordarão para sempre nesta Coluna Capitolina doada por Benito Mussolini à cidade de Natal consagrada. Em janeiro de 1931″. No dia 5 de julho de 1978, o ministério da Aeronáutica do Brasil inaugurou, em solenidade, com a presença de autoridades e de expressivo número de pessoas da colônia italiana, uma placa de bronze com as inscrições abaixo: Cinqüentenário da primeira travessia aérea Roma – Natal. Aos aviadores italianos Ferrarin e Del Prete homenagem da Força Aérea Brasileira. Observação: Primeiramente foi erguida na Esplanada do Cais do Porto, na Ribeira, no dia 8 de janeiro de 1931. Quatro anos depois, o movimento comunista de Natal derrubou a Coluna alegando que se tratava de um monumento erguido por um governo fascista. Permaneceu em lugar ignorado durante muitos anos até ser reencontrada e novamente erguida, dessa vez na praça João Tibúrcio e depois para a Praça Carlos Gomes no Baldo. Por fim foi transferida para o largo do Instituto Hitórico e Geográfico na Praça André de Albuquerque *, onde se encontra até hoje.

* Agradeço a observação do poeta e escritor Lívio Oliveira quanto ao local onde se encontra a Coluna Capitolina. Vale a visita, à Coluna e ao Instituto.