21.4.09

Clodoaldo Marques Leal - Cloro da Farmácia


A Farmácia Natal, nas décadas de 40 a 70, ficava na esquina das ruas Ulisses Caldas com a Vigário Bartolomeu. Nas outras esquinas as Lojas Singer, os Cafés Magestic e Nações Unidas. Era seu proprietário o Sr. Clodoaldo Marques Leal, conhecido como Cloro ou Cloro da Farmácia.
Cloro tinha um estilo de vida muito especial. Usava quase sempre camisa branca, com uma gravata de borboleta preta (daquelas que tinha que dar o laço mesmo) e um charuto na boca. Não tinha formação superior, mas conhecia tudo de farmácia. Algumas pessoas confiavam mais em sua opinião quanto ao uso de uma medicação correta para determinadas doenças do que a opinião de um médico. Mas, ele sempre dizia - “Não sou médico só entendo de remédio”. Disto ele realmente entendia.
A sua alegria, juntamente com a dos seus amigos, fazia do estabelecimento comercial em ponto de encontro diário. Senhores de várias classes sociais iam lá para prosear. Confirmavam presença: Iderval Medeiros, Paulo Brandão, Gentil Nesi, Omar Lopes Cardoso, Juvenal Faria, Rui Lucena, Lourival Pereira, Ovídio Vale, Jeno e Jairo Tinôco. Geraldo Fernandes, Miguel Dantas, Túlio, Carlos e Marcelo Fernandes, Prof. Sérgio Santiago, Professor Celestino Pimentel, Veríssimo de Melo, Luiz Cortez, Antônio Cortez, Manoel Procópio de Moura, Paulo dos Santos, Manoel Varela, José Varela, Salviano Gurgel, Osvaldo Ribeiro, Jofre e Jaime Ariston, Inamar Dantas, Seu Pacheco (Hotel Tirol), Emídio Fagundes, Prof. Coutinho, Protásio Melo, Jurandir Costa, Geraldo de Paula e outros. Juntos, transformavam aquele local em papos sérios e também em brincadeiras constantes.
Conta-se que determinado senhor, com idade avançada, solicitou a Cloro um remédio para melhorar a sua potência sexual, pois tinha encontro marcado com uma mulher bastante jovem e estava com medo de não dar conta do recado. Cloro pediu-lhe para passar pela farmácia dez minutos antes do encontro acertado. Preparou um laxativo (purgante) violento e deu ao Dom Juan para beber (que não sabia, obviamente, o que estava a ingerir). Não deu outra, o homem borrou-se na presença da mulher. Só não matou Cloro porque este se escondeu com a conivência dos amigos.
De outra feita, chegou um homem bastante embriagado conhecido de Cloro, querendo um remédio para morrer, pois estava desgostoso com a vida. Depois de muita insistência Cloro resolve dar o veneno solicitado. Foi no laboratório pegou duas cápsulas amiláceas, feitas de trigo e sem nada dentro. Mas exigiu que o cidadão assinasse um documento dizendo que gostaria de se suicidar e doar seu montepio para os amigos.
O suicida assina o papel e logo foi deitar-se no chão da farmácia para morrer, com quatro velas acesas e os amigos rezando para a alma do futuro morto. Depois de esperar mais de uma hora pela morte, o suicida levanta-se e diz: - É o negócio parece que não é pra hoje não. O riso foi geral.
Contava Veríssimo de Melo que o plantão da Farmácia era uma verdadeira festa. Depois que o último bonde passava, por volta das 22h, a Rua Ulisses Caldas era fechada na altura da Prefeitura e então os donos dos cafés colocavam as mesas nas ruas. Cloro mandava chamar um sanfoneiro na Ribeira, e convidava algumas “senhoras” que eram inquilinas das boates do mesmo bairro e aí a festa ia até o sol raiar.
Era assim Cloro, alegre, brincalhão, e gostava da sua farmácia. Onde passou quase toda sua vida ao lado de João Dias companheiro de várias décadas, que a tudo assistia com uma paciência enorme, vendo senhores alguns já bisavôs, transformarem aquele local de trabalho em um jardim de infância. Viravam meninos, muitos já se foram, mas a lembrança permanece viva para aqueles que conheceram Cloro.
Foto e Texto: Augusto Coelho Leal (alegre e brincalhão mas, diferentemente de Cloro, era meio afobado na juventude, hoje um avô coruja.)

19.4.09

Graf Zeppelin em Natal

O dirigível Graf Zeppelin sobrevoando Natal (1930)

Quando da primeira viagem do Graf Zeppelin ao Brasil, em 1930, após pousar em Recife, Rio de Janeiro, novamente Recife, seguia para os Estados Unidos e sobrevoaria a cidade de Natal.
A Empresa Luftschiffban Zeppelin G.M.B.H, construtora do Zeppelin, considerando a importância histórica de Augusto Severo para o desenvolvimento dos balões dirigíveis, resolveu, por sua própria e inédita iniciativa homenageá-lo, além de que este ato teve significativa e simpática recepção junto ao governo brasileiro e, particularmente junto ao governo potiguar, numa região política e estratégicamente importante.
A importância do trabalho de Augusto Severo foi descrita por um Almanaque Garnier da época : "O mérito do sistema consistia, particularmente, em haver o inventor conseguindo que balão e barquinha formassem um só corpo." Embora precocemente falecido em Paris, em acidente com um novo balão, teve uma fundamental importância e participação no processo evolutivo da dirigibilidade aérea e a companhia alemã não ignorou o fato, apesar de nem sempre ter tido o merecido reconhecimento em seu próprio país.
A primeira homenagem ocorreu a 28 de maio de 1930, "... o balão descreveu um grande círculo e permaneceu doze minutos em evoluções; baixou sobre a estátua de Augusto Severo e deixou cair um ramalhete de flores naturais, com a seguinte inscrição : "Homenagem da Alemanha ao Brasil, na pessoa de seu filho Augusto Severo." O troféu caiu próximo à estátua, sendo levado à mesma."
Quando novamente sobrevoou Natal, em 20 de outubro de 1933, o Zeppelin realizou nova homenagem de acordo com Paulo Pinheiro de Viveiros : " dessa feita, voava à noite, numa altura aproximada de 200 metros; eram 23 horas e 30 minutos quando alcançou a cidade, deixando cair de bordo, pendente de um pára-quedas luminoso, uma coroa sobre o monumento de Augusto Severo. O vento desviou o troféu que caiu no pátio interno da Great Western. Toda a população natalense estava desperta e acompanhou, nas ruas, as evoluções do Graf Zeppelin. A coroa tinha um laço de seda com as cores da Alemanha e do Brasil e a seguinte inscrição : "A Augusto Severo, o grande brasileiro que idealizou a aviação como fator de progresso - arma de aproximação entre os povos - homenagem do Graf Zeppelin ".
Como se pôde constatar, uma simples peça filatélica encerra, em si própria, uma longa e curiosa história, com desdobramentos diversos, se profundamente pesquisada. A peça em questão, de um simples máximo postal, passa a ter a sua importância e possibilidade de inserção em coleções de História Postal, Brasiliana, História da Aviação, História do Rio Grande do Norte, etc.
Por Geraldo de Andrade Ribeiro Jr. - Foto: Acervo do Mons. Jamil Nassif Abud.

16.4.09

Prof. Luiz Soares: Paladino do escotismo.

Banda dos Escoteiros do Alecrim desfilando no dia 7 de Setembro.
Av. Deodoro nos anos 50.

Homem simples e austero, mas perseverante e dinâmico, com uma notável vocação para educador. Era assim o professor Luiz Correia Soares de Araújo, um assuense que se tornou na maior referência do escotismo na terra potiguar.
Ele nasceu em 1888 na cidade de Açu, onde fez o curso primário. Deslocou-se depois para Recife, completando ali os cursos secundário e o pedagógico.
Quando se preparava para prestar exames para a Faculdade de Medicina, foi chamado pelo governo do Estado, para aqui empreender um programa de construção de grupos escolares no interior. No Cumprimento dessa tarefa, fundou vários grupos nas cidades do interior, dentre os quais, o Grupo Escolar Tenente-Coronel José Correia, em Açu.
Conta-se, na sua vida de educador e inovador dos métodos educacionais do Estado, a fundação da Associação dos Escoteiros do Alecrim, em 1919; Escola Profissional do Alecrim, em 1922; Grupo Escolar Frei Miguelinho. Contribuiu para a construção do Instituto Padre Miguelinho, doando o terreno ao governo do Estado. Foi patrono do Grêmio Lítero-Cultural Professor Luiz Soares, do Instituto Padre Miguelinho e do Grupo Escolar Professor Luiz Soares, que funcionava pela manhã nas dependências
do Instituto.
Foi um dos responsáveis pela fundação da Associação de Professores e seu presidente por muitos anos.
Fundou e dirigiu também a Policlícina do Alecrim, hoje Hospital Professor Luiz Soares.
Faleceu no dia 13 de agosto de 1967, vítima de ataque cardíaco, sendo sepultado no cemitério do Alecrim. Muitas pessoas compareceram ao seu sepultamento: amigos, admiradores, autoridades, escoteiros, bandeirantes, voluntárias, estudantes e professores de todos os colégios da cidade. O cortejo saiu do Instituto Padre Miguelinho, sob os acordes da Banda de Música dos Escoteiros do Alecrim. Ele dedicou praticamente 54 anos de sua vida à Escola Padre Miguelinho, onde permaneceu desde a inauguração da escola até a sua morte.
(Diário de Natal) Foto enviada por Marcos Paiva da Rocha.

12.4.09

História da Aviação em Natal - Parte II

Hidroavião Taifun que fazia a linha Frankfurt/Natal/Rio/Buenos Aires (1934)

Condor tinha vôos semanais.
Em Natal os vôos da Condor eram semanais, com o fechamento da mala postal às dezoito horas da quarta-feira e a partida na quinta, sempre às cinco da manhã.
A empresa prometia que o passageiro estaria no Rio de Janeiro em um dia e em Buenos Aires em dois dias. Já o serviço transatlântico era uma operação conjunta Condor-Lufthansa, com saídas ás dezoito horas da quinta-feira e chegada em quatro dias a Europa, com escalas em Bathust (atual Gâmbia), Las Palmas (Ilhas Canárias), Sevilha, Barcelona (Espanha) e Frankfurt (Alemanha). Muitas vezes os horários e dias de partida mudavam, onde a propaganda nos jornais locais sempre solicitava aos interessados, entrar em contato com o agente das empresas na cidade, que em 1935, tinha esta função exercida pela firma Filgueira & Cia.
Em 1939, os alemães implantaram no serviço de transporte transatlântico o avião que provou ser o mais confortável, o mais silencioso e o mais caro do mundo na sua época, o quadrimotor Focker Wulf 200. Transportava 4 tripulantes, 28 passageiros e era considerado um fantástico salto de qualidade em termos de viagens aéreas.
Para efeito de comparação seria como Natal, nos dias de hoje, fosse rota normal para o novo super-avião Airbus 380.
Alemães se mantinham à distância
Em 2 de janeiro de 1939, o piloto Ernst Wilhelm Modrow, de 30 anos, natural de Stettin (atualmente Szczecin, na Polônia), recebia a sua autorizarão de viagem para Natal.
Provavelmente este não era o primeiro pedido de ingresso de Modrow em Natal, pois desde 1930, ele já trabalhava na América do Sul, primeiramente na empresa aérea colombiana SCADTA, uma empresa de aviação com controle alemão e a partir de 1937, como responsável pelas rotas turísticas da Lufthansa. Seu trabalho na América do Sul durou até agosto de 1939.
Neste período, a aviação se profissionalizava cada vez mais. Em Natal o movimento de aviões seguindo para o sul do país, ou em direção a Europa, fazia parte do dia a dia, bem como a presença de pilotos e equipes de apoio na cidade. Muitos deles aproveitavam as benesses da cidade, principalmente às praias de águas quentes.
Lendo os jornais da época, percebe-se que os aviadores alemães, talvez pela sua própria natureza mais comedida, não interagiam tão fortemente com a população. Diferentemente dos franceses e italianos, os germânicos ficavam alojados na sua base na Praia da Limpa, mais distantes da convivência direta com a cidade.
Em relação a Modrow, poucas foram às informações sobre a estada deste piloto em Natal. Era apenas mais um, dos muitos pilotos estrangeiros de passagem pela cidade. A partir de setembro de 1939, com a eclosão da guerra, Modrow é convocado para a Força Aérea Alemã (Luftwaffe).
Segue para a Noruega, servindo em um esquadrão de transporte, o KGr. Z.B.V. 108, que utilizava o hidroavião Dornier DO 26. Primeiramente efetuou missões de reconhecimento e de abastecimento de tropas na região de Narvik. Em maio de 1940, seu avião havia amerissado para descarregar equipamentos no fiorde Rombakken, quando foi atacado por caças Spitfire, da Força Aérea Britânica (RAF), e destruído. Mesmo ferido, Modrow foi o único sobrevivente da tripulação. Após sua recuperação, passa um período como instrutor de vôo, seguindo ao encontro de sua unidade, que em 1942 se encontrava sediada na Itália. A ele é destinado o grande hidroavião de seis motores Blohm & Voss Bv 222, um dos maiores aviões de transporte da Segunda Guerra Mundial. Tinha a missão de realizar vôos para a África do Norte, no abastecimento das tropas alemãs do Afrika Korps e retirada de feridos. Modrow realiza mais de 100 missões de transporte, sendo esta quantidade de missões considerada um verdadeiro prodígio, pois devido a suas dimensões e baixa velocidade, o BV 222 era considerado um alvo fácil para os caças aliados. Devido as suas habilidades, em 1943 é transferido para um grupo de caça noturna, que tinha a função de destruir bombardeiros ingleses que atacavam diretamente o coração da Alemanha. É designado para o II Grupo do esquadrão NJG 1, baseado em bases na França ocupada. Em uma noite de março de 1944, Modrow faria sua primeira vítima sobre a localidade de Venlo, Holanda, provavelmente um caça noturno bimotor do tipo “Mosquito”. Sua segunda vitima é um bombardeiro quadrimotor britânico “Halifax”, seguido por outro bombardeiro quadrimotor do tipo “Lancaster”, também britânico.
(Carlos Rostand França de Medeiros e Fundação Rampa).

9.4.09

Tirol e Petrópolis


Foto: LAGOA MANUEL FELIPE (ANOS 30)
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A área dos atuais bairros de Petrópolis e Tirol possui origem comum. Em 1901, foi criada a Cidade Nova (correspondente aos bairros de Tirol e Petrópolis) pelo intendente Joaquim Manoel Teixeira de Moura, em uma região ocupada por vivendas, quintas e granjas. Na época, a cidade achava-se comprimida entre a Ribeira e a Cidade Alta. O local abrangia terras do sítio pertencente ao suíço Jacob Graff, por volta de 1860, cujos limites iam até a Ribeira. Quando o governador Alberto Maranhão comprou ali uma casinha para veraneio, era tão longe da cidade que se ia a cavalo.
O plano de construção da Cidade Nova foi de autoria do agrimensor e arquiteto italiano Antônio Polidrelli, e compreendia o espaço ocupado desde a Avenida Deodoro à Rua Campos Sales, abrangendo 60 quarteirões, compreendendo ruas, avenidas e praças. A criação destes bairros, concluída em 1904, constitui-se na primeira forma de ordenamento urbano de Natal. Esperava-se, com isso, retirar da cidade o aspecto colonial e induzir o seu crescimento futuro. A história do bairro do Tirol também fazia parte da vida do escritor Câmara Cascudo. Ele relata que, na sua adolescência, seu pai comprara uma casa nas terras do bairro, nas primeiras décadas do século XX. Era a "Vila Amélia", região de chácaras e quintais. A propriedade situava-se onde atualmente estão trechos das avenidas Campos Sales, Rodrigues Alves e Apodi. O ano de 1939 marcou o final de uma vida principesca para o escritor, na mansão que se destacou pelo luxo e pela convergência das mais ilustres figuras da cidade ou que por aqui passavam. Em 1939, também, foi lançada a pedra fundamental da construção do quartel do 16º Regimento de Infantaria, na avenida Hermes da Fonseca, que começou a funcionar em fevereiro de 1942, numa área de 99,84 hectares. Ao lado do quartel, foi construída a vila dos sargentos, na esquina da avenida Alexandrino de Alencar, mais conhecida como Vila São José, inaugurada em janeiro de 1949, com 60 casas projetadas.
Na década de 1940, estrada ligando Natal ao Aeroporto de Parnamirim (atuais Hermes da Fonseca e Senador Salgado Filho) representou um dos marcos de crescimento da cidade, pois constitui-se numa das mais importantes vias de circulação interna desta Capital.
No Tirol, encontra-se a Lagoa Manuel Felipe (antes conhecida como Lagoa dos Calafanges e era considerado um lugar ótimo para pic-nics mas, que posteriormente foi proibida a realização dos mesmos pelo "governador da cidade" (sic)). Já era referida, em documentos de 1646, como um pequeno lago de onde nascia o Rio da Cruz, depois chamado de Rio do Baldo, afluente do Potengi, conforme atesta Olavo Medeiros Filho em seu livro Terra Natalense. A origem do topônimo liga-se ao proprietário das terras onde a lagoa se encontra. Atualmente, a Lagoa Manuel Felipe abriga a Cidade da Criança, espaço cultural e de lazer, destinado, preferencialmente, ao público infantil.
O nome Tirol, afirmava Pedro Velho, foi apenas uma lembrança da Áustria, como era costume na época. Oficializados como bairros pela Lei n.º 251 de 30 de setembro de 1947, na administração do Prefeito Sylvio Piza Pedroza, teve seus limites redefinidos na Lei nº 4.330, de 05 de abril de 1993.
Foto:: Acervo de Stella Calafange (1900-2000).

5.4.09

História da Aviação em Natal - Parte I

Praia da Limpa - Rampa (1943) 

A história da aviação em Natal, no período anterior a II Guerra Mundial, é emocionante e inigualável. Entretanto, pouco destes fatos históricos são conhecidos do público em geral. Poucos são os livros que contam as aventuras dos aviadores durante as décadas de 1920 e 1930, cruzando os céus em suas precárias máquinas aéreas, viajando quase sem equipamentos através do Atlântico Sul e chegando a nossa provinciana capital. 

Ao realizar uma pesquisa no Arquivo Público do Rio Grande do Norte, acabei me deparando com um extenso arquivo contendo fichas de pedido de vistos, para passaportes de vários pilotos estrangeiros que vinham trabalhar em Natal. Pesquisando em outros centros de informações, descobri que um destes pilotos viria a se tornar um dos principais ases da aviação de caça noturna alemã na II Guerra, superaria a derrota da Alemanha e terminaria sua carreira como general da nova Força Aérea Alemã, na então Alemanha Ocidental. 

Esta história tem início com a chegada da aviação comercial alemã no Brasil, em 1926, quando foram iniciados estudos técnicos para implantação de linhas aéreas na região. Neste mesmo ano, um hidroavião Dornier Wall, chegava ao Rio de Janeiro, realizando o primeiro vôo comercial no país.
Diferentemente dos franceses, os alemães, pouco deram atenção à região Nordeste, tanto que a empresa Sindikat Condor, estabeleceu em 1927 linhas aéreas entre Porto Alegre e o Rio de Janeiro e outras linhas para o interior do estado gaúcho, com serviços de transportes de passageiros e cargas. Apenas em 1930, conduzido pelo diretor Fritz Hammer, o hidroavião “Guanabara” chegava a Natal e este alemão vinha com a missão de instalar uma base de hidroaviões na cidade. O então governador Juvenal Lamartine apoiou incondicionalmente o projeto, isentou de taxas a empresa e apoiou a instalação de uma base próxima à foz do rio Potengi, na conhecida Praia da Limpa (Montagem). Em fevereiro de 1930 é inaugurada a linha entre Natal e Porto Alegre, em Março deste mesmo ano tem início os planejamentos para uma ligação entre a América do Sul e a Europa.
Em abril de 1934, a Deutsche Lufthansa implanta o primeiro serviço aéreo transoceânico do Mundo, onde em dois dias e meio, um passageiro viajava entre Berlin e o Rio de Janeiro, um avanço espantoso para a época. O defeito deste sistema estava no fato dos aviões necessitarem amerissar no meio do Oceano Atlântico, ser o hidroavião içado por um navio-catapulta, abastecerem e serem catapultados em direção a Natal. Algum tempo depois este sistema foi desativado com a entrada de novos aviões.
A atuação dos alemães crescia fortemente na região, chegando a ponto de, em 1936, estarem transportando quase 16.000 pessoas. Sobre este dado é importante lembrar que a capacidade de transportes de muitos aviões neste período, não era superior a 20 passageiros.
(Carlos Rostand França de Medeiros).

1.4.09

Meios de comunicação


Quanto menor a cidade e mais pobre, mais precários são os seus meios de comunicação. Por aí já se tem uma idéia de como seriam os veículos de comunicação na velha cidade do Natal, no fim do século XIX.
Das memórias de Lindolpho Câmara, que estamos comentando, destacam-se, nesse sentido, os sinais semafóricos, através do telégrafo ótico da Catedral e o movimento dos carretos à cabeça, em animais e carros de bois.
Esse telégrafo, por meio de bandeiras e cores, montado no alto da torre da Matriz, foi também um dos nossos alumbramentos na meninice. Muitas vezes, foi também um dos nossos alumbramentos na mesmice. Muitas vezes, ficávamos horas esquecidas sentados no telhado de casa, só prá ver os escoteiros mudar as bandeiras coloridas. Mesmo sem entender o significado dos sinais, estamos convencidos, hoje, de que aquele serviço foi, na verdade, a nossa primeira TV a cores.
Temos agora em mãos o folheto intitulado “CÓDIGO DO TELÉGRAFO ÓPTICO”, trazendo o Decreto Estadual n.º 156, de 18 de novembro de 1921, do Governador Antônio J. de Mello e Souza, que restabeleceu o serviço semafórico, sob a direção da Associação dos Escoteiros do Alecrim.
Segundo as “explicações”, o telégrafo começaria a funcionar a “um quarto antes do nascimento do sol, terminando um quarto de hora depois do ocaso”. São centenas as convenções, de acordo com o Código Marítimo Internacional, mas o nosso, da Catedral, só empregava três bandeiras – azuis e vermelhas, quadradas e em forma de quadriláteros, - e três galhardetes.
Entre outras informações, os sinais indicavam a saída e entrada dos navios; se eram de guerra ou transporte; nacionalidade; se estavam passando noutra direção ou vinham ancorar em Natal; se havia enfermo a bordo; se pediam o prático; nome da embarcação e da companhia de navegação, etc. Havia até um sinal que indicava se o navio batera na “baixinha”, a pedra famosa onde encalharam várias embarcações.
O telégrafo óptico prestou serviço real à população natalense desde o século passado até, talvez, a década de trinta.
Sobre os outros meios de comunicação, convém registrar a observação de Lindolpho Câmara quanto ao nosso primeiro carro de passeio.
Afirma que, há cem anos passados, Natal não dispunha de um só veículo para tráfego na cidade. Tudo era feito a pé ou em animais. E ninguém cogitava de adquirir nem mesmo “uma caleça ou um tilbury”.
Daí relata coisas incríveis como estas: o Presidente da Província, com o seu séqüito, partia a pé, do Palácio (na Rua do Comércio, na Ribeira), subia a ladeira e vinha abrir a sessão da Assembléia Legislativa na Cidade Alta. Diz ele: “... chegavam esbaforidos, suarentos, que quase nem podiam subir as escadas do edifício...” Finda a cerimônia, tornava pela mesma rota ao Palácio.
Os enterros eram penosos, acrescenta. Todos “chegavam deitando a alma pela boca, menos o defunto“. Os casamentos “eram ridículos”: todo mundo a pé, inclusive os noivos, na frente, subindo e descendo ladeira, dando topadas nas pedras pontudas...
Só nas proximidades da proclamação da República, o Dr. Celso Caldas, médico, adquiriu um carro usado, no Recife, nele atrelando dois cavalos magros. Fazia as visitas aos doentes nesse carro e também passeava, emprestando-o, muitas vezes, para cerimônias oficiais.
Em conclusão: foi esta a imagem que pudemos inferir de Natal há cem anos passados. Era, positivamente, uma cidade pobre, desprovida dos meios mais elementares ao desenvolvimento urbano. De certa forma, refletia a influência do plano nacional. Todavia, nestes cem anos de existência, Natal cresceu e desenvolveu-se muito mais do que poderia imaginar os já nascidos nas primeiras décadas deste século XX.
No futuro o que dirão de nós os nossos pósteros?
Possivelmente, ainda nos considerarão subdesenvolvidos como nós achamos hoje os nossos antepassados do século XIX. E assim é a vida...
(Veríssimo de Melo)