28.3.09

Henrique Castriciano


Nasceu a 15 de março de 1874, na cidade de Macaíba - RN, são seus pais: Eloy Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina de Souza. Muito moço revelou seu pendor para as pugnas literárias, escrevendo artigos, crônicas e poesias de alto relevo artístico para jornais e revistas do país, notadamente de Natal. Estudou preparatórios no Atheneu Norte Riograndense, iniciando seu curso jurídico na Faculdade de Direito do Ceará, tendo concluído no Rio de Janeiro, onde bacharelou-se, em 1908.
Foi Secretário de Governo e Procurador Geral do Estado, eleito e reeleito seu Vice Governador e investido dessas funções, preside o Congresso Legislativo do Estado.
Professor emérito, tendo sido fundador, ao lado de eminentes coestadanos, da Escola Doméstica de Natal, sem dúvida uma escola renovadora no cenário brasileiro, onde o espaço feminino era de pouca participação.
Estimulou a criação dos Grupos de Escoteiros de Natal.
Em versos, publicou Iriações, Vibrações, Ruínas e Mãe, além de outros trabalhos confirmadores de seu talento e de sua cultura. Foi sócio do Instituto Histórico do Rio Grande do Norte e do Centro Polymathico.
Entre seus irmãos destacaram-se Eloy de Souza e Auta de Souza.

25.3.09

Palmyra Wanderley



Precursora do jornalismo feminino no RN

Palmyra Wanderley nasceu em Natal aos 6 de agosto de 1894. Trilhou os caminhos da poesia quando ainda criança. De uma família de intelectuais, quiçá essa condição tenha influenciado [ainda mais] na sua escrita... Casou-se com Raimundo França, funcionário do DCT, e não tiveram filhos, morreu pobre e só, no ano de 1978.
Colaborou em jornais e revista da época, do seu Estado e de outros, participando ainda da vida associativa de sua terra-natal. Em reconhecimento ao seu talento, a sua produção literária, ao seu nome, é considerada como a "poetisa oficial" da cidade do Natal.
Foi precursora do jornalismo feminino no RN que resultou, junto com poetisas e escritoras do Estado, no lançamento da revista Via Láctea, em 1914.
Publicou seu primeiro livro, "Esmeralda", em 1918. Em 1929 foi a vez de "Roseira Brava", que lhe valeu menção honrosa no Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.
No teatro também deixou sua contribuição com a opereta “Festa das Cores". Ocupou a cadeira nº 20 da Academia Norte-rio-grandense de Letras. Para seus admiradores, ficou a força da sua poesia traduzida nas palavras do escritor e crítico Tristão de Ataíde: "Palmyra Wanderley - o maior poeta feminino do Nordeste".


Que cheiro bom!

Que cheiro bom!...
Que coisa deliciosa
Cheirei, agora, como por encanto!...
Fosse, talvez, um cálice de uma rosa
Não cheiraria tanto.
De onde é que vem esse perfume assim?
Perfume novo e velho para mim,
Forte, tão forte, que me entonteceu,
Se mistura comigo e não sou eu? ...
Perfume que recorda o cheiro do teu lenço,
Mas não é,
Não é também incenso,
Mas se parece com insensação
Este perfume, a perfumar sem conta...
É que hoje cheirei de manhãzinha
A flor vermelha do teu coração
E fiquei tonta,
Tontinha....

.
(Lembro-me de Palmyra Wanderley e Raimundo França, nos anos 50/60, quando morávamos na Rua Camboim. A casa dêles tinha um pequeno jardim em frente, com uma variedade de flôres e rosas brancas, do qual nunca nunca esquecí.- Manoel Neto)

21.3.09

Lucy Garcia Maia


"Era o sonho de Ícaro vestindo saias. Atendia pelo nome de Lucy Garcia Maia e aos 24 anos ela decidiu freqüentar o curso de pilotos promovido pelo Aero Clube de Natal e se tornou a PRIMEIRA AVIADORA POTIGUAR. Filha de tradicional família natalense, desportista, aviadora pioneira, Lucy Garcia Maia nasceu em Natal em 1918. Educada na Escola Doméstica, que formava gentis senhoritas da sociedade local em administração do lar, Lucy Garcia preferiu seguir sua irresistível vocação para os esportes. Jogou tênis, vôlei, basquete e praticou até mesmo um esporte exclusivo para homens: o remo. Foi uma das fundadoras do Centro Desportivo Feminino, que incentivou a prática do esporte às mulheres natalenses. Destemida e audaciosa, enfrentou tabus e discriminações e, em 1942, conseguiu o feito de se tornar a primeira mulher norte-rio-grandense brevetada no Aero Clube. Assim como o remo, a aviação civil era um esporte exclusivamente masculino. Mas isso não intimidou Lucy Garcia que, com o apoio do pai, foi adiante no seu sonho de voar. Iniciou a instrução de vôo, em julho de 1942, cercada de homens, seus colegas e instrutores. Após treze horas de instrução de vôo, ela recebeu o comando da aeronave, um Piper Cub J-3, para fazer o solo.
Pelo regulamento do curso, Lucy Garcia dispunha de quinze minutos para fazer seu primeiro vôo. Decolou da Base Aérea de Natal, atravessou a cidade no sentido norte, cruzou o rio Potengi, fez vôos rasantes sobre a praia da Redinha, as dunas, o azul-turquesa das lagoas. Mais por encantamento do que por rebeldia, a aviadora de 24 anos rompia os limites impostos e extasiava-se nas alturas. Na volta à base, os colegas e seu instrutor a esperavam muito apreensivos.
Voou por cinco anos, chegando, inclusive, a fazer viagens para Fortaleza, Recife e João Pessoa. Repetia por aqui a audácia da norte-americano Amélia Earhart, que 10 anos antes – 1932 – tornou-se a primeira mulher a atravessar o Atlântico, pilotando um avião, em vôo solo, proeza, até então, realizada por um homem: Charles Lindbergh, em 1927. Amélia desapareceu no Pacífico, em 1937, quando tentava ser também a primeira a completar uma volta em redor da Terra.
Em 25 de outubro de 1942, com um acervo de aproximadamente oitocentas horas Lucy recebeu a carta do brevê, com autorização para pilotar aviões dos tipos Piper J-3, Culver e PT-19. Em 1947, casou-se com Evaldo Lira Maia, com quem teve quatro filhos homens.
Foi a maternidade, em 1947, que a fez desistir do sonho de trabalhar em companhias aéreas. “Eu olhava aquela criancinha no berço e ficava imaginando se alguma coisa me acontecesse durante um vôo; ela ficaria sem os meus cuidados maternos”, ponderou à época.
Em agosto de 2000, em depoimento à pesquisadora Ana Amélia Fernandes, Lucy Garcia declarou: “Sentia-me maravilhosamente dona do mundo, do espaço, e segura na arte de voar. Medo? Nunca. Nunca passou por mim esse sentimento em relação à aviação. O meu interesse mesmo era continuar a carreira e transformar-me em piloto dos aviões comerciais”.
Ao contrário de Amélia Earhart, Lucy Garcia não morreu no ar, mas em terra firme, em sua própria casa no bairro do Morro Branco. Em outubro de 2001 um câncer a sepultou no cemitério do Alecrim. Contava 83 anos de idade".
Texto e foto enviados por seu filho Marcos Maia

16.3.09

Velha Ribeira (Nilson Patriota)



Velha Ribeira boêmia como estás desfigurada!
Guardas ao menos, Ribeira, saudades do teu passado?
Foste elegante e formosa, e indiferente olhavas,
Do alto de teus sobrados, até onde a vista alcançava,
A embrionária cidade que aos poucos se estirava
Sobre planícies e dunas, elevações e charnecas,
Sem que ninguém a obstasse ou a mandasse estacar.

Quando passo em tuas ruas, ao final do expediente,
Sombria a tarde declina sobre desertas calçadas
Tornando ermos os pontos que os sonhos ainda guardam
Dos que seus ossos deixaram sob o piso da igreja,
Ou dos que se dissolveram em sete palmos de terra
Em macabros cemitérios a que foram destinados,
Já soterrados, porém, sob bairros, ruas e casas.

Então à memória me vêm janotas, almofadinhas.
Endinheirados que eram em seus Fords desfilavam,
E seus Pakards dirigindo, buzinando se mostravam.
Já na calada da noite, perambulando sozinho,
Agarro-me às lembranças das insones madrugadas
Aos amores alucinógenos e às alcoólicas fantasias
Vividas por dóceis mulheres e homens sentimentais.

Presenteados eram eles no auge de seus amores
Com trancelins de ouro e com broches de gravata.
A elas eram ofertados anéis de água-marinha,
Cremes, loções e extratos Lancaster e Royal Briard;
Outras marcas registradas, algumas até importadas,
Conforme seus interesses e suas disponibilidades,
Dependendo da paixão e do momento aprazado.

Houve tempo mais antigo, do qual ficou a história,
Quando dândis subnutridos e moças à melindrosa
Desfilavam na Tavares como se andassem em Paris,
E nos Champs Elysees daqui lançavam modas, ditados.
Em tuas ruas estreitas, trepidantes, animadas,
A Natal dos anos 40 tinha um encontro marcado.
E enfim nem chique nem mique para o povo conformado.

Ah, se não fosse o tempo, que nunca respeita nada,
Talvez tivesses fugido desse destino tão agro
De cansares a beleza antigamente louvada.
Talvez houvesses evitado os males que te consomem:
A maldição da velhice, a ingratidão do descaso,
O deplorável desprezo pelo brilho que tiveste
Como dama solidária nas festas de carnaval.

E quando a tarde declina sobre as desertas calçadas,
Eu deploro o teu presente de amante rejeitada
Que tanta riqueza teve e hoje não tem mais nada
Além do rosto encovado cobrindo faces rosadas.
Hoje me vejo rondando teus labirintos de sonhos
Onde a paixão se comprava com poesia ou pataca,
Por que sendo livre o amor e ao prazer se entregava.

Em requintados salões de senhoreais sobrados
Encantadoras mulheres suas bocas ofertavam,
Expondo os túmidos seios ao deleite se entregavam.
E então entre carícias, à meia-luz sussurravam,
Ternura e paixão fingindo na hora em que se doavam.
Ribeira velha de guerra, por que ficaste tão gasta?
Por que prolongas assim o teu impérvio caminho?

Sabemos que o teu amor provinha do coração,
Embora ao despertar com ele já não contássemos,
Pois conforme o hábito vigente tratava de evolar-se...
Velha Ribeira boêmia, agora já não és nada
Além de ruas desertas, calçadas desarrumadas,
Ruas feitas de silêncio, becos cheios de saudade.
Se não te ergues definhas, teu simbolismo se apaga.

Teus modos de cortesã, de dama sutil e devassa,
Resistiram a várias guerras feitas em terra, ar e mar.
Deste acolhida aos pracinhas da América luterana,
Que perderam sua inocência antes da morte encontrar
Na Alemanha nazista, na Itália de Mussolini,
Na Rússia dos bolcheviques, sem que jamais olvidassem
O teu doce encantamento, tua magia, tua alma.

Velha Ribeira boêmia, onde estão tuas mulheres?
Onde andam Francisquinha, Madame Chose, Odete,
Zara Pia, Maricele, Severina, China e Míria,
Ademilde, Maristela, Paulistinha e Onça Pintada,
Maria Rosa e Adelaide, Constância e Felicidade?
Já não as vejo na luz dos refratários ocasos
Que te escondem Ribeira, no sudário da saudade
(Nilson Patriota)

12.3.09

Rede de Dormir


A rede de dormir é um tipo de leito constituído de um retângulo de tecido ou malha e suspenso pelas duas extremidades, terminadas em punhos ou argolas, que são presas a armadores ou ganchos, pregados em geral nos portais ou sob árvores frondosas e em que as pessoas se deitam para dormir ou descansar.
O uso da rede para dormir é bastante antigo, é um costume herdado dos indígenas brasileiros. Eles chamavam a rede de ini. Foi em 27 de abril de 1500 que Pero Vaz de Caminha, navegante português, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, que sem procurar saber o nome já usado pelos indígenas, chamou pela primeira vez, este tipo de leito, de rede de dormir, pela semelhança com a rede de pescar.
As redes primitivas feitas pelas mulheres indígenas eram resistentes, de fiação simples e malhas grandes, por este motivo faziam lembrar a rede de pescar.
Meio século depois do descobrimento a rede já era usada por colono agricultor e pela maior parte dos jesuítas. No Brasil Colonial a rede foi muito usada também como meio de transporte para longas viagens. Eram colocadas nos ombros dos escravos que a sustentavam, por meio de uma vara. Este tipo de rede era chamada de serpentina.
Nas áreas mais pobres da região
Nordeste, era costume o morto ser transportado em redes, então chamadas de rede de defunto.
A técnica de tecer a rede, foi aperfeiçoada pelas mulheres portuguesas. A rede foi então cada vez mais usada nas vilas, povoados e engenhos de açúcar, principalmente pela facilidade de transporte. Bastava enrolá-las e colocá-la às costas, visto que as camas de madeiras eram mais pesadas e até então não eram fabricadas no Brasil.
A vinda dos teares (aparelhos para tecer) possibilitou a confecção de tecidos mais compactos, de redes com franjas, varandas, tornando-as mais confortáveis e ornamentais.
A rede foi por mais de quatro séculos um elemento presente e indispensável na vida dos brasileiros. Usava-se a rede desde o nascimento até a morte.
Gilberto Freyre em seu livro Casa Grande & Senzala diz que muitos brasileiros, quando pequenos, adormeceram ouvindo o ranger tristonho dos punhos da rede.
Hoje apenas em algumas regiões, principalmente do Norte e Nordeste, a rede é usada para dormir.
Nos grandes centros urbanos a rede é mais um objeto de decoração de residências e serve como ponto de referência aos costumes regionais. São armadas em terraços, alpendres e varandas de casas e apartamentos, casas de praia e de campo, geralmente para descansar ou sesta, mas quase nunca para dormir à noite.
A produção brasileira de redes de dormir está estimada em um milhão de unidades. Os maiores produtores são os Estados do Ceará, Pernambuco, Alagoas e Piauí.
O Brasil exporta as redes de dormir para vários países.
Há também um grande número de fábricas clandestinas, constituídas por pequenos grupos de artesanato. Todo estado nordestino tem dezenas destes núcleos fiéis ao trabalho antigo, feito em casa.
É na indústria particular que se tecem as redes de encomenda de feitura bem cuidada e lenta, bordadas em relevo, franjadas de seda. São obras primas de paciência e acabamento primoroso. O artesanato é o produtor e mantenedor destas redes, chamadas redes de presente.
Fonte: Luís da Câmara Cascudo. Rede de dormir: uma pesquisa etnográfica.

8.3.09

Meios de comunicação.

Canto do Mangue nos anos 30

Quanto menor a cidade e mais pobre, mais precários são os seus meios de comunicação. Por aí já se tem uma idéia de como seriam os veículos de comunicação na velha cidade do Natal, no fim do século XIX.
Das memórias de Lindolpho Câmara, que estamos comentando, destacam-se, nesse sentido, os sinais semafóricos, através do telégrafo ótico da Catedral e o movimento dos carretos à cabeça, em animais e carros de bois.
Esse telégrafo, por meio de bandeiras e cores, montado no alto da torre da Matriz, foi também um dos nossos alumbramentos na meninice. Muitas vezes, foi também um dos nossos alumbramentos na mesmice. Muitas vezes, ficávamos horas esquecidas sentados no telhado de casa, só prá ver os escoteiros mudar as bandeiras coloridas. Mesmo sem entender o significado dos sinais, estamos convencidos, hoje, de que aquele serviço foi, na verdade, a nossa primeira TV a cores.
Temos agora em mãos o folheto intitulado “CÓDIGO DO TELÉGRAFO ÓPTICO”, trazendo o Decreto Estadual n.º 156, de 18 de novembro de 1921, do Governador Antônio J. de Mello e Souza, que restabeleceu o serviço semafórico, sob a direção da Associação dos Escoteiros do Alecrim.
Segundo as “explicações”, o telégrafo começaria a funcionar a “um quarto antes do nascimento do sol, terminando um quarto de hora depois do ocaso”. São centenas as convenções, de acordo com o Código Marítimo Internacional, mas o nosso, da Catedral, só empregava três bandeiras – azuis e vermelhas, quadradas e em forma de quadriláteros, - e três galhardetes.
Entre outras informações, os sinais indicavam a saída e entrada dos navios; se eram de guerra ou transporte; nacionalidade; se estavam passando noutra direção ou vinham ancorar em Natal; se havia enfermo a bordo; se pediam o prático; nome da embarcação e da companhia de navegação, etc. Havia até um sinal que indicava se o navio batera na “baixinha”, a pedra famosa onde encalharam várias embarcações.
O telégrafo óptico prestou serviço real à população natalense desde o século passado até, talvez, a década de trinta.
Sobre os outros meios de comunicação, convém registrar a observação de Lindolpho Câmara quanto ao nosso primeiro carro de passeio.
Afirma que, há cem anos passados, Natal não dispunha de um só veículo para tráfego na cidade. Tudo era feito a pé ou em animais. E ninguém cogitava de adquirir nem mesmo “uma caleça ou um tilbury”.
Daí relata coisas incríveis como estas: o Presidente da Província, com o seu séqüito, partia a pé, do Palácio (na Rua do Comércio, na Ribeira), subia a ladeira e vinha abrir a sessão da Assembléia Legislativa na Cidade Alta. Diz ele: “... chegavam esbaforidos, suarentos, que quase nem podiam subir as escadas do edifício...” Finda a cerimônia, tornava pela mesma rota ao Palácio.
Os enterros eram penosos, acrescenta. Todos “chegavam deitando a alma pela boca, menos o defunto“. Os casamentos “eram ridículos”: todo mundo a pé, inclusive os noivos, na frente, subindo e descendo ladeira, dando topadas nas pedras pontudas...
Só nas proximidades da proclamação da República, o Dr. Celso Caldas, médico, adquiriu um carro usado, no Recife, nele atrelando dois cavalos magros. Fazia as visitas aos doentes nesse carro e também passeava, emprestando-o, muitas vezes, para cerimônias oficiais.
Em conclusão: foi esta a imagem que pudemos inferir de Natal há cem anos passados. Era, positivamente, uma cidade pobre, desprovida dos meios mais elementares ao desenvolvimento urbano. De certa forma, refletia a influência do plano nacional. Todavia, nestes cem anos de existência, Natal cresceu e desenvolveu-se muito mais do que poderia imaginar os já nascidos nas primeiras décadas deste século XX.
No futuro o que dirão de nós os nossos pósteros?
Possivelmente, ainda nos considerarão subdesenvolvidos como nós achamos hoje os nossos antepassados do século XIX. E assim é a vida...
Por Veríssimo de Melo

4.3.09

Carnaval do meu Tempo...

Rei Momo Paulo Maux e sua Rainha

“Ô Jardineira por que estás tão triste” Assim, começa a letra da música A Jardineira, autoria de Benedito Lacerda e Humberto Porto. Como a jardineira da música, passei um carnaval quieto, um pouco triste, pois logo na primeira noite no baile de máscara da Confeitaria Atheneu, tive a notícia da morte repentina do amigo Rodrigues. Com a minha tristeza e o meu recolhimento, tive tempo de pensar na época de menino, no carnaval daquela geração, que hoje é bem diferente. Não digo que é melhor nem pior, pois todo acontecimento alegre para um jovem sempre vai ser a melhor época, só porque éramos jovens, então para mim era melhor.

Havia as marchinhas que são cantadas até hoje. “Hindu minha linda hindu/ que nasceu em Calcutá/É melhor ser minha esposa/ Do que ser esposa do Rajá,” hoje, fazendo sucesso devido à novela da Globo. Haviam os blocos carnavalescos que mandavam um “convite” para os nossos pais e amigos, anunciando os “assaltos” em suas casas. Lembro-me do Sabalanço, Xamego, Peraltas, Jardim de Infância, Corsários do Amor, Deliciosos na Folia, Kafageste, Puxa Saco e muitos outros. “Lembro-me também de Dozinho, nosso querido Dozinho.” Mandei fazer uma linda fantasia/Bem diferente por ser toda de capim/ Sai com ela e me descuidei/ O jerico comeu toda/ E eu fiquei assim,” meu amigo Airton Ramalho que fez Natal toda cantar a sua música.” Pio Décimo praça que desapareceu/Praça de muitas recordações/ Foi lá que o nosso amor nasceu/Onde guardei meu coração/” As matinês, no América, Aero Clube, ABC, Atlântico, Alecrim Clube e outras, em que as moças (naquela época, quase todas eram) fantasiadas mostrando a barriguinha e agente olhando de soslaio, atirando lança perfume, procurando atingir o umbigo. Fio dental era usado exclusivamente para limpar os dentes. Haviam os confetes, as serpentinas e os salões ficam cheios. O corso, o corso lembro-me que era feito em um retângulo formado pelas ruas Deodoro, João Pessoa, Rio Branco e Ulisses Caldas, depois só na Rua Deodoro, ocupando as duas mãos. Começava no final da tarde indo até a meia noite. Era um desfile de carros fechados ou abertos e quem não tinha automóvel, ficava em pé nas calçadas para ver passar os blocos e também as tribos indígenas que eram blocos formados por pessoas que moravam nas Rocas e Alecrim e que vez por outra, estavam brigando entre si.

Vinha a quarta feira, e com ela na parte da tarde, as matinês nos cinemas Rio Grande, Nordeste, onde os namoros iniciados durante o carnaval eram tentados a dar prosseguimento. À noite, reuniões em baixo da luz dos postes que ficavam em frente ao Rio Grande, ou no cruzamento das Ruas Prudente de Morais e Mossoró. Naquele momento repassávamos todos os lances vividos durante este período.
Passou o tempo, o meu carnaval passou. Hoje apenas olho de longe e até me alegro, vendo o povo feliz pelo menos durante seis dias.
Por Augusto Coêlho Leal – Engenheiro Civil