31.8.09

Primeiro aniversário do blog Natal de Ontem


Tudo começou em agosto de 2008 como uma brincadeira, mas na Internet as brincadeiras podem se avolumar e atingir grandes proporções.
Em um e-mail com frases sobre Natal de antigamente, Lélia Silveira as enviou para Antônio José Ferreira de Melo e ele para Marcos Pedroza que por sua vez repassou para mim e para outros amigos. Todos foram gradativamente acrescentando novas frases. A roda começou a girar e por sugestão de José Euber na nossa Confraria do Letra & Música criei o Natal de Ontem, que teve sua primeira postagem em 31 de Agosto de 2008 já com dezenas de frases sobre locais, pessoas e fatos de nossa Natal.
Nunca imaginei que houvesse tanta coisa para se publicar e que fossemos tão ricos em fatos que ainda se encontram perdidos, mas que com paciência e dedicação podem ser resgatados e disponibilizados para todos de forma simples e objetiva.
Os baús, armários, álbuns e gavetas das casas estão cheios de fotos, histórias e estórias que precisam ser resgatados. Como precisam ser resgatados os nomes antigos das ruas de Natal. Nas placas dessas ruas, logo abaixo do nome atual, normalmente Fulano de Tal, mesmo em tamanho menor constar o nome original, como está na postagem de ontem: Rua da Palha, Rua da Cruz e outras como Camboim, Oeste, América, Integração, Avenidas 01, 02, ....... 15, 16,etc., todas Fulano de Tal.
Espero que tenha condições de continuar desenvolvendo publicando sistematicamente por isso peço aos leitores que enviem colaborações para que tenhamos no futuro um pouco ou muito de nossa história registrada de forma simples, como é simples o natalense.
Reitero o que descrevo na coluna ao lado: o blog existe para não apagar de nossa memória pessoas, fatos e locais que não existem mais em nossa cidade.
Foram 143 publicações com o contador registrando mais de 28.000 visitas, o Natal de Ontem, uma coletânea feita por este escrevinhador natalense, sempre contou com dezenas de colaboradores, aos quais agradeço de coração.

30.8.09

Rua da Palha e as Festas Juninas


Rua da Palha * - Vê-se na foto brincadeira do São João, com as pessoas cobrindo a roda enquanto que outros apenas olhavam. Naquele tempo, a rua era chamada Rua da Palha hoje Rua Vigário Bartolomeu, na Cidade Alta. O significado do seu nome: Rua da Palha era porque as casas eram feitas ou cobertas com palhas de coqueiros. Nesse mesmo local, bem antes, quando Natal se resumia apenas a Catedral de Nossa Senhora da Apresentação, que ainda não tinha nem essa Santa para cultuar, e as ruas próximas, como a Rua Santo Antônio, Rua da Conceição, e outras ruas como a Rua da Cruz, depois Rua Junqueira Aires e hoje Câmara Cascudo a cidade vivia em uma tranquilidade que fazia dó.
Quando se tirou essa foto, a cidade já mostrava certo progresso, tendo até o 1º Cartório de Natal, pertencente ao Sr. Miguel Leandro, o velho. Porém era uma rua de casas residenciais, algumas um pouco mais altas que as outras ou casarões chamadas "cachorro de cócoras", pois tinham o seu telhado caindo para frente. De qualquer jeito era uma rua, com as moradias, algumas com quatro janelas e uma porta do meio, separando as janelas em duas e duas. Outros casarões com apenas uma porta e três janelas, enquanto que outras tinham apenas duas janelas separadas por uma porta. Algumas casas, só tinham uma porta, não tendo janelas. Na foto vemos que a rua já era pavimentada, vendo-se muito bem as calçadas das residências, todas em um só prumo, bem diferente do que se vê agora na cidade, em desalinho e em diferentes níveis em desrespeito aos transeuntes. No alto da foto, do lado esquerdo de quem olha, do lado do sol, como se chama, vê-se a sede da Maçonaria 21 de Março. Hoje, esse prédio não existe mais. No entanto, a Maçonaria ainda está no mesmo local, em um edifício com o mesmo nome. Na foto, vemos as pessoas brincando em uma Festa Junina com a rua enfeitada com bandeirinhas. A foto foi tirada logo do seu inicio, perto da Rua Ulisses Caldas.
As Festas Juninas ou de santos populares são celebrações brasileira, portuguesa e de outros países europeus. Historicamente se relacionam com a festa pagã do solstício de verão (no hemisfério norte), que era celebrada no dia 24 de junho, segundo o Calendário Juliano e cristianizada na Idade Média como "Festa de São João". Elas festejam no Brasil em homenagem a importantes santos católicos, como Santo Antônio, São João, São Pedro e São Paulo. No Brasil, recebeu o nome de Junina (antes era Joanina, de São João), porque acontece no mês de junho. A festa foi trazida para o Brasil pelos portugueses e logo foi incorporada aos costumes das populações indígenas e afro-brasileiras. A tradição também veio de outros países europeus cristianizados através de imigrantes, chegados a partir de meados do século XIX.
As Festas Juninas são ainda celebradas em alguns países católicos, protestantes e ortodoxos. As fogueiras e a celebração de casamentos reais ou encenados são costumes ainda hoje praticados em festas européias.
As festas Juninas são típicas da Região Nordeste. Por ser uma região árida, os nordestinos agradecem anualmente a São João, Santo Antônio e São Pedro pelas chuvas caídas nas lavouras.
As comemorações eram alegres e descontraídas, com o espocar de fogos de artifício, durante todo o mês de junho, o que hoje praticamente não se vê mais, mesmo nos bairros periféricos.Em razão de coincidir com a colheita do milho, as comidas são feitas à base deste cereal integrando à tradição comidas como a canjica e a pamonha. A festa de São João se encaixou, porque o inverno já não é tão intenso nos fins de junho e são comemoradas em todas as cidades nordestinas em maior o menor grau destacando-se as danças típicas como a Quadrilha Junina e o Forró Pé de Serra.
(* Alderico Leandro - Jornalista, poeta, crítico, literário e escritor – com pequenas alterações do texto original.)

28.8.09

O desembarque holandês em Areia Preta.



8 de dezembro de 1633
(Olavo Medeiros Filho *)

Os cronistas portugueses e holandeses são unânimes em afirmar que o desembarque de parte das tropas invasoras, da Capitania do Rio Grande, foi efetivado em PONTA NEGRA, aos 8 de dezembro de 1633,
Com a finalidade de cercar o Forte dos Reis Magos, uma parte das tropas neerlandesas penetrou no rio Potengi, sob o comando de Jan Cornelissen lichthart. Outros combatentes, em número de 600 homens comandados pelo tenente-coronel Balthasar Bymae e representando seis companhias, desembarcaram de suas naus para outras embarcações menores, dirigindo-se à terra firme, ou mais precisamente à Ponta Negra, de onde procurariam se reunir àquelas outras tropas já desembarcadas no Potengi. O desembarque teve início às 7 horas da manhã, concluindo-se às 11. Os cronistas da época informam que o fato ocorreu, em “uma pequena angra ao norte da Ponta Negra”; “na enseada atrás do lado norte do Ponto Negro”.
Os holandeses depararam-se com a angra, fortificada, pois “em volta de toda a angra estava levantada uma trincheira assente no topo dum renque do colinas muito íngremes, de dois piques de altura, que a circundavam”. Outra descrição é mais minuciosa: “a praia é cercada por uma terra elevada de dois piques de altura, íngreme para escalar-se e ascendendo dali para os montes mais altos”.
Antes de ocorrer o desembarque os holandeses divisaram dois ou três portugueses a cavalo, com alguns negros, os quais fugiram do local, tão logo viram desembarcar os inimigos flamengos. Os invasores flanquearam aquelas trincheiras, debaixo das quais haviam desembarcado, e sem nenhuma resistência marcharam para o seu objetivo.
Tem-se considerado a atual praia de Ponta Negra, distante umas 3 léguas do Forte dos Reis Magos, como tendo sido o local onde desembarcaram os flamengos. Todavia, analisando-se certos mapas holandeses, contemporâneos dos episódios a que nos referimos, verificamos que a Ponta Negra considerada à época, correspondia à nossa tradicional PONTA DO PINTO. O mapa de João Teixeira também nos fornece tal indicação.
De tal modo, o local onde o desembarque flamengo ocorreu foi na angra existente ao norte da referida Ponta, no trecho sul da atual praia de Areia Preta. Nesta encontram-se as barreiras íngremes descritas pelos cronistas, por detrás das quais existe o chamado Morro de Mãe Luiza. Aquelas barreiras já receberam a proteção representada por um muro de arrimo, construído de cimento, e medem aproximadamente 6 metros de altura.
A distância de dois tiros de mosquete do ponto de desembarque, os invasores foram informados de que a dita praia por onde caminhavam (Areia Preta), “além de muito estreita, na preamar ficava alagada”, de modo que se dirigiram “para o interior por um passo, que também estava entrincheirado”.
Quando se caminha cerca de 900 metros, vindo da praia de Areia Preta em direção à fortaleza, chega-se ao início de uma ladeira, que possivelmente seria aquele mesmo passo mencionado pelo cronista, e que hoje corresponde ao trecho final da Rua Pinto Martins. Através de tal passo, os neerlandeses alcançaram o planalto, possivelmente onde hoje acha-se a avenida Getúlio Vargas.
“O dia era extremamente cálido, caminho muito penoso, devido à areia solta, e na maior parte conduzindo através dum vale fechado de altas dunas de areia, que impediam fosse ventilado pela aragem marítima, de sorte que no decurso das duas primeiras horas de marcha em parte alguma encontramos água potável”.
Pela descrição, verificamos que os flamengos estavam à procura do precioso liquido. Pelas nossas deduções, caminhavam eles em direção à atual lagoa de Manuel Filipe, talvez por um caminho correspondente às atuais avenidas Nilo Peçanha e Prudente de Morais. A referida lagoa dista cerca de 3,8km daquela praia, onde ocorrera o desembarque das tropas. Como somente atingiram a lagoa após duas horas de marcha, constatamos a lentidão do seu deslocamento.
À época, a lagoa formava um riacho chamado TIURU, correspondente ao atual riacho do Baldo. Caminharam acompanhando o curso do riacho, em direção a cidadezinha do Natal. “Chegaram até próximo à pequena povoação, onde havia uma casa sobre uma eminência, da qual nos fizeram alguns tiros, para desgraça sua, pois se não nos houvessem agredido, teríamos passado avante sem atacá-la. À vista da ofensiva, porém, foi mandada atacar por um sargento à frente de 20 ou 30 soldados, que a tomaram e fizeram boa presa, não tendo os portugueses tido tempo de retirar os seus bens”.
O mapa de Marcgrave (1643) nos dá idéia de certo caminho, ligando o riacho Tiuru à povoação, o qual passava também por detrás da matriz de Nossa Senhora da Apresentação do Rio Grande. Um trecho do caminho corresponde à nossa atual rua Santo Antônio, de percurso enladeirado. A casa atacada pelos flamengos deveria ficar localizada na dita ladeira.
“Em seguida, pelas três horas da tarde, chegamos à povoação ou aldeia de Natal” O tiroteio ocorrido, a que já nos referimos, provocou um atraso na marcha dos invasores, que teriam dispendido cerca de duas horas, para caminharem da lagoa ao local da Cidade do Natal.
Depois as tropas invasoras marcharam em direção ao Forte, provavelmente nas proximidades das atuais Junqueira Aires, Dr. Barata e Hildebrando de Góis, percurso em que levariam uma hora. “Em caminho passamos uma ponte lançada sobre um riacho, a qual o Tenente-Coronel mandou ocupar”.
Duas gravuras de procedência holandesa, intituladas VEROVINGE VAN RIO GRANDE IN BRASIL ANNO 1633 e AFBEELDINGHE VAN T´FORT OP RIO GRANDE ENDE BELEGERINGHE, nos mostram uma certa ponte, existente sobre um riacho provindo da atual Lagoa do Jacó. Tal riacho corta os trechos finais das avenidas Januário Cicco e Engº Hildebrando de Góis, no bairro das Rocas.
Pouco depois as tropas se reuniram àquelas outras, desembarcadas, no mesmo dia, no Potengi e acampadas junto às dunas próximas ao Forte, no mesmo local hoje ocupado pelo Círculo Militar de Natal.
(* Gravuras holandesas VEROVINGE VAN RIO GRANDE IN BRAZIL ANNO 1633 e AFBEELDINGHE VAN T´FORT OP RIO GRANDE ENDE BELEGERINGHE )

22.8.09

Os americanos e os hábitos do natalense


(Minervino Wanderley*)
A vinda das forças americanas para Natal se deu ainda antes de fechados os acordos diplomáticos.
De forma disfarçada, os pousos e decolagens feitos por aeronaves americanas no aeroporto de Parnamirim começaram por volta de junho de 1941.
Sobre essa discreta chegada, Pinto relata que no "dia 26 desse mesmo mês, é assinalada, em Parnamirim, a passagem dos primeiros aviões de guerra dos Estados Unidos camuflados de transportes comerciais. Dirigiam-se à Ilha de Ascensão, de onde passavam à Bathurst, no Gâmbia, imediações de Dakar. Nada mais que um lance discreto sobre o tabuleiro atlântico, visando estancar, na hora precisa, a irresistível vocação de sucessos do III Reich".
Com o acirramento da guerra e a presença das divisões alemãs no norte da África, mais crescia a preocupação dos aliados com relação a uma possível investida das forças nazistas à América do Sul, e, por sua localização, Natal seria a "ponte" ideal para uma provável invasão. Natal, definitivamente, estava no fogo cruzado e passou, por isso, a merecer grande atenção dos Estados Unidos, maior potência das Américas.
Assim, dentro dessa forma ainda disfarçada, o Brasil, através do Decreto 3.642, de 25 de julho de 1941, permitiu que a Panair do Brasil, subsidiária da Pan American World Airways System, começasse a aparelhar o aeroporto de Parnamirim, de maneira que pudesse receber aviões de grande porte.
A partir de então, começou a chegada dos americanos a Natal. Apesar de discretamente vestidos como técnicos, os militares norte-americanos logo despertaram a atenção da população natalense. Primeiro, pela etnia, louros, altos, até então praticamente desconhecida pelos nativos. Em segundo lugar, pelo crescente contingente de forasteiros que passaram a fazer parte do cotidiano da cidade.
Como não poderia deixar de ser, a cidade do Natal modificou-se de maneira muito significativa com a presença do grande número de militares estrangeiros aqui sediados. Natal perdia aos poucos suas características de cidade pequena. Seus habitantes que até então levavam uma vida modesta e tranqüila, passaram a fazer parte de um local que passou a tomar, inclusive, um aspecto cosmopolita, com a passagem pela cidade de pessoas de outras nacionalidades, com direito a figuras importantes, como D. Francis J. Spellman (arcebispo de Nova York), Bernard (príncipe da Holanda), Higinio Morringo (presidente do Paraguai), Sra. Franklin D. Roosevelt (Primeira dama dos Estados Unidos), Sr. Noel Cherles (embaixador do Reino Unido no Brasil), madame Chiang Kai Chek (primeira-dama de Formosa), T. V. Soong, ministro das Relações Exteriores da China, os atores Humphrey Bogart, Clark Gable, o músico Glenn Miller, o cantor Al Johnson, entre outras personalidades.
Surgiram associações recreativas como, por exemplo, os 'Clubes 50'. Tanto o Aero Clube como igualmente o Clube Hípico foram alugados com o objetivo de realizar bailes. A finalidade principal, certamente, era promover uma maior integração dos militares norte-americanos com a população natalense. Houve, por causa disso, uma invasão de ritmos estrangeiros: rumba, "conga, "bolero.
A influência norte-americana se fez sentir também na linguagem, com a introdução de algumas palavras e expressões inglesas, exemplificadas por Smith Junior: "change money" (troque dinheiro), "drink beer" (beba cerveja), "give me a cigarrette" (dê-me um cigarro), "blackout" (blecaute), ente outras.
As moças passaram a agir com mais autonomia tendo incorporado modos e modismos americanos. Com a conivência das mães, que assumiram um novo comportamento, muitas começaram a fumar (Chesterfield era a marca predileta) e a beber "Cuba Libre", uma mistura de rum com coca-cola.
Interessante lembrar que do entrosamento entre americanos e jovens natalenses resultaram alguns casamentos. Dessa mistura de raças, a historiadora Flávia Pedreira, que acertadamente chamou de 'Chiclete eu Misturo com Banana', faz o seguinte relato: "Consultando-se os cartórios da cidade, pode-se ver que a quantidade de casamentos entre os estrangeiros e as brasileiras nesse período foi bastante expressiva; entre os anos de 1942 e 1946, houve um acréscimo nos registros de nomes em línguas estrangeiras e principalmente em inglês, como por exemplo: David Eugene Reynolds e Josefa Miranda Reynolds, Darci Hoffmann e Eva Baraúna Moura Hoffmann, Frank Willian Knabb e Thais Vieira Knabb, entre outros".
Mas nem tudo era um mar de rosas. Se, por um lado, o relacionamento entre os americanos e moças natalenses fluía dentro de grande harmonia, ocorria o oposto com a população masculina local. As disputas pelas damas comumente terminavam em brigas que só paravam com a chegada das polícias brasileira e americana.
Vale a pena registrar que nem só pelas "moças de família" os desentendimentos aconteciam. Na zona do baixo meretrício, localizada no bairro da Ribeira, não era diferente. Principalmente no Wonder Bar, o mais famoso ponto de encontro local, as querelas advindas pelas preferências das prostitutas levavam a brigas e confusões, com algumas, inclusive, chegando a sérias conseqüências. "Aqui foi assassinado um americano, que não era militar, mas um embarcadiço, sujeito que trabalha em navios estrangeiros", conta Pedreira.
Essas diferenças perdurariam por bem mais tempo, sendo motivo de grandes preocupações, principalmente para o governo americano, que, diante da sua necessidade, procuravam encontrar formas de um convívio entre os dois povos. Encontramos na obra Trampolim para a vitória, de Smith Júnior um depoimento do General Dwight Eisenhower, Comandante Supremo das Forças Aliadas, que sintetiza o valor de Natal: “Tive muita satisfação de pisar no solo no qual tanto pensei durante a guerra. Natal teve, como todos sabem, uma influência decisiva na guerra, possibilitando às Nações Unidas as principais condições para alcançar seus objetivos".
Em decorrência da guerra e, diante da impossibilidade, naquele momento, de se fazer translado de corpos, 146 americanos foram sepultados no Cemitério do Alecrim. Segundo Smith Júnior "no dia 10 de abril de 1947, um navio da Marinha americana chegou sob a missão denominada "Glory Operation" para remover os corpos dos soldados americanos [...] Cada tumba tinha uma inscrição onde se lia "Morto próximo a Natal em serviço ativo". Os restos mortais dos americanos foram devolvidos aos Estados Unidos". De acordo com o historiador "o corpo de um militar americano permaneceu enterrado em Natal. Era o sargento Thomas N. Browning, do "22 Army Air Force Weather Squadron". Segundo Smith Júnior "também estava enterrada no Cemitério do Alecrim a tripulação de um C-47 da Royal Air Force (Força Aérea Britânica que caiu nas proximidades de Açu, no Rio Grande do Norte. [...] dois eram ingleses e um australiano. [ ...] Por alguma razão, suas famílias concordaram que seus corpos permanecessem no Cemitério do Alecrim".
E assim, Natal passou de uma pequena cidade sem importância, localizada no nordeste do Brasil para ser conhecida por pessoas de todo o mundo, tendo desempenhado um papel preponderante no mais amplo e sangrento conflito já registrado na História.

(* Jornalista) - Foto: Propaganda dos Anos 40

17.8.09

Sobre uma Tradição


Quanto à fundação da Cidade
Quanto à fundação de Natal há uma controvérsia que envolve três aspectos: Quem é o fundador, a data da fundação e o nome da cidade.
Em relação à fundação, há três hipóteses: uma tradicional, que atribui a fundação a Jerônimo de Albuquerque; uma baseada no princípio da autoridade que atribui a fundação de Natal a Manoel Mascarenhas Homem; e uma terceira, pois o historiador Luiz Câmara Cascudo considera em seu livro “Rio Grande do Norte”, que o provável fundador da capital do nosso estado tenha sido João Rodrigues Colaço.

Quanto à data da fundação da cidade
Grande parte dos historiadores afirma que a cidade de Natal foi fundada no dia 25 de dezembro de 1599, como é o caso do estudioso Hélio Galvão, que afirma não haver prova documental. Além desta data, a hipótese levantada por Olavo de Medeiros Filho, diz: ‘’A Cidade dos Reis pode ter sido fundada no dia 6 de janeiro de 1600 no dia de Reis...’’(Medeiros Filho, Olavo de – 1991:32).
Quanto ao nome de Natal
O nome cidade do Natal ou simplesmente Natal, antes teve vários locativos, nos seus primeiro anos de existência. Frei Vicente Salvador chama de ‘’Cidade dos Reis, como já foi citado acima. Em outro momento foi chamada de Nova Amsterdã, Rio Grande e Santiago, esse último para homenagear o padroeiro da Espanha. Na realidade, este vocativo não criou raízes porque, apesar de Portugal estar subordinado ao domínio espanhol de então, a nossa colonização era totalmente portuguesa.
No entanto o nome Natal, veio surgir no ano de 1614, no Auto da Repartição das Terras do Rio Grande do Norte, realizado pelo Capitão-Mor de Pernambuco, Alexandre Moura, aos 21 de fevereiro de 1614.

Três séculos de lentidão

Século XVII
Os primeiros anos de vida da cidade de Natal, foram anos difíceis, paupérrimos.
Os holandeses governaram o Rio Grande do Norte entre 12 de dezembro de 1633 até fevereiro de 1654. Ao se retirarem em 1654, deixaram um legado de exploração, de massacre religiosos e destruição.
É importante lembrar que oito anos depois da retirada dos holandeses, Natal elegeu o primeiro senado da câmara em 16 de Abril de 1662, conforme relata Câmara Cascudo na “História da cidade do Natal”

Século XVIII
Somente neste século foi que Natal, começou a adquirir sua fisionomia urbana tradicional. Os dois primeiros bairros foram: Cidade alta e Ribeira – se consolidaram assim as primeiras ruas.
Ao logo do século XVIII se construíram três igrejas, sendo uma na cidade alta e outra na Ribeira.
Câmara Cascudo informa que em 1759, a cidade tinha ‘’quatrocentas braças de comprimento e de largo cinqüenta, com cento e dezoito casas.

Século XIX
A partir de meados do século XIX, a paisagem urbana de Natal começou a crescer, com a construção de vários prédios.
Antônio Bernardo de Passos, para socorrer as vítimas da cólera-morbos, construiu o prédio do Hospital de Caridade, imóvel ocupado pela Casa do Estudante. Construiu, também, o cemitério do Alecrim, inaugurando–o em Abril de 1856.
Três anos depois surgiu na paisagem da cidade, o edifício Atheneu Norte Riograndense.
O bairro da Ribeira ganhou no ano de 1869, o Cais 10 de Junho, chamado depois de Cais Pedro de Barros e somente no século XX, passou a ser chamado Cais Tavares de Lira.
Enfim no ano de 1896, o governador Joaquim Ferreira Chaves proporcionando um status de metrópole à cidade de Natal, iniciou a construção do Teatro Carlos Gomes, chamado atualmente de Teatro Alberto Maranhão.
(Jornal Ribeira Cultural - nº01 - Foto: Bonde na Tavares de Lyra - 1943)

13.8.09

Pedágio da Ponte de Igapó



Há alguns anos atrás, meu saudoso amigo, Daniel Victor de Hollanda, trouxe-me uma cópia de um recibo de Autorização para Passagem na Ponte de Igapó, no valor de Cr$ 5,00 (cinco cruzeiros), emitido pela Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, vinculada ao Ministério de Viação e Obra Públicas. Ele mesmo, de próprio punho, acrescentou alguns dados.
O Recibo de nº 7930, datado de 28 de Julho de 1946, autorizava a passagem do veículo de placas 427-Natal-RN de propriedade de Joaquim Victor de Hollanda, pai de Daniel.

9.8.09

Cine Polytheama

Praça Augusto Severo e o Polytheama.

Cine Polytheama
(Alderico Leandro*)
Em Natal, funcionou, nos anos 20 (1920) um cinema que levava o nome de Cine Polytheama, o primeiro cinema da cidade que exibia os filmes vindos do Rio de Janeiro que eram importados pelas Companhias norte-americanas que montaram sucursal na Capital da República. Na verdade, o cinema teve início, aqui, na cidade, pelos idos de 1915, na Rua Chile. Porém, os filmes demoravam a chegar pela falta de produção suficiente para um mercado bem pouco aberto, como era o de Natal. Mesmo assim, ocupando prédios da Rua Chile ou abrindo sessões no Teatro Carlos Gomes, o cinema resistia com as produções americanas-do-norte. Passado certo tempo, esse cinema já estava em um prédio bem maior e arejado, com sorveterias para os seus clientes, servindo taças de sorvete de deliciosos sabores para uma dileta platéia, na Praça Augusto Severo com os bondes passando logo em frente. O Cine Polytheama ficava onde mostra a foto acima, com duas portas arcadas e quatro janelas iguais às portas. Era um delírio para as senhorinhas tomar sorvete no cinema de Natal, trocar idéias, contar o que se passava e depois assistir ao filme que, para o gosto de cada um, inspirava suspiro.
Na porta do cinema, engraxates faziam o gosto do jovem rapaz ou do homem já feito, passado a graxa, a escova e a flanela, terminando com uns pingos de álcool para dar maior brilho ao eles tinham feito. Depois, um níquel era o pagamento. Quem engraxasse, e todos queriam se sobressair, entrava no cinema com um ar de pompa, sendo jovem, para as moças da cidade. Sendo adulto para mostrar as senhoras muito ricas que ele não cabia de contentamento, desfilando de braço dado com a sua senhora e levando a filha e o filho de lado, procurando uma mesa onde os quatros se sentavam. O chapéu de coco, ele tirava da sua cabeça e colocava na ponta da mesa da sorveteria. Alguém que passasse, o cumprimentava e, todo garboso, ele fazia um aceno de boa tarde ou boa noite.
As sessões eram bem mais concorridas aos finais de sábado e domingo. Porém, tinha aqueles que preferiam assistir, também, às quartas-feiras. Não raro, um filme passava uma semana inteira, mudando apenas no sábado quando tudo recomeçava. No salão, escuro com as cortinas fechadas, um piano se ouvia, tocando uma valsa e se a platéia exigia, um fox, um charleston ou um begin. Havia de tudo para cativar os que estavam presentes. As senhoras, emplumadas e com seus vestidos de tafetá, meias de seda e sapatos de salto altos e uma correia passando no peito do pé, usavam o leque para se abanar e para dar o charme da elegância as outras senhoras que também faziam o mesmo gosto. Para os homens, todas aquelas atitudes deixavam eles cheios de brios. Não se fazia fé nas plenas atitudes de cada um dos casais com os seus filhos queridos, ali, muito sóbrios até a sessão de cinema começar.
Era assim que vestia Natal. Homens de paletó, mulheres de organdi, rapazes e moças alinhados, de roupas que chegavam dos pescoços ao meio da perna, sendo moças, e calça comprida, sendo rapazes. O Polytheama era todo em festa em dia de sábado e domingos. Os barmens atendiam a todos, na sorveteria, pois ali, também eles se sentiam reconhecidamente agradecidos pela gentileza de cuidar de uma mesa. Trajando roupas a rigor, esses rapazes não cabiam em si. Afinal, aquelas ilustres personalidades, assíduas como demonstravam ser, eram os que sustentavam a fama do cinema de Natal.
As damas davam um colorido de tom macio e aveludado, encimado por cordão de ouro abotoado com um enfeite em forma de rosa que se passava em seus pescoços. As mocinhas deixavam cair em seu rosto uma pequena mecha de cabelos enquanto os rapazes untavam a cabeleira com o célebre gumex, uma pomada própria para fixar o cabelo na cabeça. Eles ainda puxavam um pouco para frente a cabeleira, de formas a fazer uma trunfa. Os homens, com ternos de duque, misturavam a tantas belezas esfuziantes das mulheres que ostentavam brincos, anéis e pulseiras. Os rapazes vestiam caças cor de chumbo ou creme claro, sapatos de duas cores e meias de seda como as senhoras, cuidadosamente estiradas por ligas. Era assim o Cine Polytheama. Ao final, os casais, se era tarde, procuravam guardar uma lembrança daquela festa, com uma foto tirada do coreto da Praça Augusto Severo.
(* Jornalista e escritor - artigo publicado no Blog Asa Morena)

5.8.09

Lucy Garcia Maia

A Primeira Aviadora Potiguar



















Em 21 de março de 2009, publicamos um artigo sobre Lucy Garcia Maia, a Primeira Aviadora Potiguar. Através de seus filhos Marcos e Maurício Maia, consegui fotos do seu Brevet de Piloto ainda com seu nome de solteira: Lucy de Amorim Garcia e algumas fotos de sua turma de 1942/43.

1.8.09

38 anos sem Djalma Maranhão


38 anos sem Djalma Maranhão
(Alexandre de Albuquerque Maranhão*)

Ele foi o mais progressista dos prefeitos de Natal. Possuía um amor indescritível por essa cidade. O Grande Ponto (centro da cidade), era a sede do seu reino. Ali, ele brincava o carnaval, as festas juninas, dançava o bumba-meu-boi, pastoril e fandango. Nessa época, a periferia recebia orquestras e grupos folclóricos. A população revivia as lapinhas, cheganças, ararunas e serestas.

Esse gosto e apreço pelas coisas do povo, Djalma Maranhão adquiriu logo cedo. Seu batismo nas lutas sociais foi aos 15 anos de idade, quando participou da Revolução Liberal de 1930. Estava filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), do qual se desligou em 1946, após desentendimentos com dirigentes da sigla.

Sua rebeldia política estende-se ao ano de 1932, quando segue para São Paulo como voluntário para participar da Revolução Constitucionalista. Em 1935, ainda em São Paulo, envolveu-se com a Insurreição Comunista, quando é preso, juntamente com outros companheiros do partido. Em 1937 volta para Natal e trabalha no comércio (**) e ao mesmo tempo é nomeado redator do jornal A República, pelo senador Eloy de Souza. Em 1939 ajuda a fundar o Diário de Natal, jornal que defendia a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial para derrotar o nazi-fascismo.

Após dezesseis anos de militância política no PCB, Djalma Maranhão é convidado pelo então deputado federal Café Filho, considerado de centro-esquerda e nacionalista, para ingressar no Partido Social Progressista (PSP). Ao assumir a Presidência da República, Café Filho distancia-se de seu passado de lutas em favor do povo e alia-se à classe dominante da época. Rebelde, coerente, questionador e firme em suas decisões, Djalma Maranhão passa a lutar internamente dentro do PSP, para que este volte a ser um partido comprometido com as causas sociais.

Com o Partido Social Progressista dividido, Djalma Maranhão retomou e liderou o “cafeísmo dos pobres”. Nas eleições de outubro de 1954, aos 38 anos de idade, elegeu-se deputado estadual, na coligação Aliança Social Progressista, formada pelo PSP e o Partido Social Trabalhista (PST). Era o começo da brilhante e curta carreira política de um dos maiores e honrados homens públicos do Brasil. Em suas atividades parlamentares foi uma voz firme e um grande defensor do tungstênio, da pesca artesanal, da cultura do algodão e de idéias genuinamente nacionalistas, como a defesa do petróleo brasileiro e de outras riquezas espalhadas pelo nosso país.

Nas eleições para governador, em 1955, as esquerdas não se unificaram. Djalma Maranhão permaneceu em sua trincheira política em organizar e fortalecer o PSP. Ocorre então, a aliança partidária entre a União Democrática Nacional (UDN) de Dinarte Mariz com o PSP. Isso fez com que Djalma Maranhão fosse nomeado prefeito de Natal (1956-1959), deixando marcas significativas de sua administração: credibilidade, competência e reconhecimento da população.

Honrar e ser fiel aos compromissos políticos assumidos, jamais trair a confiança do povo que o elegeu foram características marcantes da vida de Djalma Maranhão. No episódio que ocorreu contra Juscelino Kubitschek, para este não assumir a presidência da República, quando fora eleito em outubro de 1955, Djalma Maranhão defendeu a legalidade, a posse do candidato eleito nas urnas, contrariando frontalmente a vontade de Café Filho, um dos mais fervorosos opositores de Juscelino. A amizade de Djalma Maranhão com Café Filho fragilizou-se completamente.

Concorreu às eleições de outubro de 1958, obtendo a primeira suplência de deputado federal, pelo Partido Trabalhista Nacional (PTN). Exerceu o mandato de 27 de maio de 1959 a novembro de 1960.

Mas a campanha política que o consagrou como verdadeiro líder político da esquerda nacionalista potiguar, foi a de outubro de 1960, quando se elegeu prefeito da cidade do Natal com 21.942 votos, contra 11.298 de Luiz de Barros (UDN). A inversão de prioridades começou a ser posta em prática, colocando em primeiro lugar o interesse social. O audacioso plano de obras implantado em Natal por Djalma Maranhão foi interrompido em 2 de abril de 1964, quando ele foi preso por tropas do Exército.

Em novembro do mesmo ano é libertado através de Habeas Corpus, conseguindo asilo político no Uruguai, onde veio a falecer na cidade de Montevidéu, em 30 de julho de 1971.
(* Historiador e dirigente sindical).
(** Nota do Blog: Nesta época trabalha por algum tempo no IFOCS juntamente com José Vicente de Araújo, Mário Arcoverde e José Vinício na cidade de Carnaúba dos Dantas)