28.2.09

Natal em 1909

Quando da realização da conferência Natal Daqui a Cinqüenta Anos, em 1909, Natal ainda era uma cidade muito pequena, cuja população se distribuía pelos bairros da Ribeira e Cidade Alta. Os bairros das Rocas e do Alecrim ainda se encontravam em formação. E o Plano da Cidade Nova, que hoje compreende os bairros de Petrópolis e Tirol estava apenas iniciando a sua implementação.
Naquela época, para muitos, Natal estava agonizando e já se vislumbrava o nascimento de uma nova cidade, que seria construída pelos jovens, e que realizaria sonhos de bondade e de civilização.
Natal era uma cidade provinciana, ligada aos folguedos folclóricos e à devoção religiosa, mas estava passando por um profundo processo de transição. As transformações abrangiam tanto os aspectos sociais quanto os de comportamento. O espaço físico e as formas da cidade também se transformavam. O momento era difícil, pois Natal estava perdendo seus costumes mais arraigados, para os quais ainda não encontrava substitutos à altura. Natal não dispunha das mais elementares condições de higiene. Parecia que os nossos jardins “foram construídos para revelarem a apatia da cidade, a nossa moleza tropical, a falta de cordialidade nas relações pessoais”.
Mas este quadro, pouco a pouco, começava a se transformar. A cidade estava sendo limpa e as pessoas se conscientizavam da necessidade de se proteger os jardins e as árvores das vias públicas. “As árvores já podem crescer na santa paz do senhor, e a natureza completará certamente o esforço do homem”.
A situação existente se entusiasmava com as perspectivas de mudanças que estavam sendo criadas. Este entusiasmo se justificava pela abertura e calçamento de avenidas da Cidade Nova e pela articulação da Cidade Alta com a Ribeira, através de melhorias da Avenida Junqueira Aires, hoje Avenida Câmara Cascudo, onde também se instalava uma linha de bondes; pelo saneamento das áreas alagadiças, na Ribeira e no Baldo, onde foram construídos, respectivamente, uma praça e um balneário; e pela construção nos morros de habitações amplas e arejadas dominando o vasto oceano.
Tudo isso representava, simultaneamente, uma visão da agonia da velha Natal e o nascimento de uma nova cidade. “A cidade desperta do seu sono três vezes secular e se sente bem a alegria de ver que a estão vestindo de novo, para a alegria de uma vida nova”.
De fato, nas primeiras décadas do século XX, Natal passou por grandes transformações. Estribada no sucesso da cultura algodoeira, a economia do estado se desenvolvia. Esse dinamismo econômico proporcionava, e ao mesmo tempo exigia investimento na infra-estrutura e nos serviços da capital. Nesse período foram construídas as primeiras ferrovias no esado, com a função, principalmente, de transportar algodão do interior do Rio Grande do Norte para Guarapes e, depois, para Natal. A primeira ferrovia, operada pela empresa inglesa Imperial Brazilian Natal and Santa Cruz Railway Company Ltd., havia sido inaugurada em 1883. Em 1906, entrou em funcionamento a Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, e seis anos depois (1912), a Companhia Estrada de Ferro de Mossoró S.A.
Nesses anos, que marcaram a passagem do século XIX para o século XX, Natal foi aos poucos se aparelhando com as inovações que, então, caracterizavam a vida moderna. Já em 1895, a população conhecera o fonógrafo, exposto como uma novidade para a população. Em 1904, foi inaugurada a iluminação à gás de acetileno na Cidade Alta e, em 1906, na Ribeira. Dois anos depois, em 1908, entrou em funcionamento a primeira linha de bondes, puxados por animais, ligando a Cidade Alta à Ribeira. As linhas de bondes elétricos só foram instaladas em 1911, ano em que foi inaugurado o primeiro cinema de Natal, o Politeama. Na ocasião, foi ampliada a rede de telefones, e foi construído um balneário público na praia de Areia Preta; também se verificou, na ocasião, a construção de uma usina de eletricidade, o que permitiu a substituição da iluminação à gás pela a iluminação elétrica.
Completando esse quadro, cabe ainda registrar a criação, em Natal, da Junta Comercial (1900), do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (1902), da Sociedade Agrícola (1905), do Banco de Natal (1906) e, em 1909, do Liceu Industrial.
No plano cultural, o governador Alberto Maranhão (1901-1904 e 1908-1913) incentivava as letras e as artes, promovendo recitais, premiando autores e publicando livros.
Nas primeiras décadas do século XX, a população de Natal teve um crescimento significativo, passando de 16.059 em 1900, para 30.696 em 1920. Ao longo desse período, foram implementadas diversas ações higienistas, que contribuíram de modo decisivo para melhorar as condições de vida da população de Natal, ainda muito precárias. Além da Praça Augusto Severo na Ribeira e do balneário no Baldo, já citados, também foram realizados melhoramentos, entre 1908 e 1913, nas condições de saneamento e nos serviços de abastecimento de água que, inaugurado em 1882, teve então suas tubulações substituídas; durante o período, quando já ocorria a asseio noturno das ruas, também foi reorganizada a coleta de lixo, tendo sido instalado um forno para sua incineração. Acrescente-se ainda que os fiscais da Inspetoria de Saúde Pública visitavam todos os prédios particulares antes de eles virem a ser habitados.
Estes eram os principais elementos que se conjugavam para criar um clima de transformações vivido por Natal, na primeira década deste século.
Certamente Manoel Dantas, autor de Natal Daqui a Cinqüenta Anos, tinha consciência da impossibilidade para as muitas previsões que fazia. Eram obstáculos concretos decorrentes das condições sociais e econômicas, não apenas de Natal ou do Rio Grande do Norte, mas do próprio Brasil. Por isso sua narrativa não deve ser lida e interpretada ao pé da letra. Ao contrário, deve ser entendido como uma alegoria ou como uma metáfora da aspiração de modernização e de modernidade que as elites preconizavam para o futuro de Natal.

Fontes: Pedro de Lima, Elói de Souza e Manoel Dantas (Natal Daqui a 50 Anos-1909).

24.2.09

O Carnaval em Natal há cinquenta anos.

Prefeito Djalma Maranhão e D. Dária.

O domingo de carnaval se deu no dia 8 de fevereiro. O Rei Momo de 59 foi o fotógrafo-folião ‘José Seabra’ – (1922/1978) e a Rainha do carnaval a jovem - ‘Joana D’arc Pinheiro Luz’. O Prefeito, ‘Djalma Maranhão’ – (1915/1971) participou de ensaios, festas, bailes e do desfile oficial: ‘O Corso’.
Prévia: Uma semana antes do carnaval acontecera a grande ‘batalha’ entre as agremiações na ‘Vila Naval’, do bairro do Alecrim.
Baile: A ‘Associação dos Cronistas Carnavalescos’ promovera o seu segundo baile, sob a presidência do jornalista ‘Celso da Silveira’. A presidência da Federação carnavalesca estava com o senhor ‘Omar Pimenta’.
Orquestra famosa: O jornal ‘A República’ de 25 de janeiro, ainda comenta outras novidades, como a vinda da famosa orquestra ‘Tabajara’, de Severino Araújo, para tocar publicamente no dia 6 de fevereiro no palanque oficial da então ‘Federação Carnavalesca’ e depois num baile fechado no ‘Clube América’.
História musical: E quem fazia enorme sucesso por essa época com suas músicas carnavalescas no Rio de Janeiro e em Natal, era o nosso compositor-cantor Dosinho.
Protesto real: O Jornal ‘A República’, de 27 de janeiro, anuncia que alguns comerciantes da Ribeira tentaram eleger o folião ‘Zé Areia’, nosso Rei Momo a revelia do oficial ‘José Seabra’, já devidamente eleito. Chabú: Ao que parece, o plano golpista dos capitalistas ribeirenses não deu certo para levar ao trono o seu candidato ‘canguleiro anarquista’.
Democracia e participação: Anunciou-se também pela imprensa que um vereador iria entrar com um projeto na Câmara em que as nossas antigas majestades momescas formariam um ‘Conselho Carnavalesco’, com o intuito de melhorarem os festejos. Deste fariam parte os ex: ‘Zé Areia’, ‘Severino Galvão’, ‘Luís Morais’, ‘Zé Seabra’ e ‘Luizinho Doblecheque’, entre outros mais antigos.
Inaugurações e surgimentos: O Clube Social do ABC, na Avenida Afonso Pena é inaugurado no dia 31 de janeiro, com a presença do então Governador ‘Dinarte Mariz’, Prefeito ‘Djalma Maranhão’ e outras autoridades. No citado Clube social esportivo aconteceram incontáveis e memoráveis bailes carnavalescos. Em 06 de janeiro, foi inaugurado o ‘Iate Clube’ de Natal. Nesse ano é fundado o Bloco de Elite - ‘Apaches’, composto só de homens e com suas vistosas fantasias inspiradas na tradição indígena norte-americana.
Desfiles: O palanque oficial fora armado na Rua João Pessoa para o Corso oficial. Santo de casa: A colunista social ‘Anna Maria Cascudo’, no dia 13 de fevereiro, no jornal ‘A República’, tece elogiosos comentários a respeito do nosso famoso cantor e compositor carnavalesco ‘Dosinho’.
As principais agremiações segundo a Imprensa de 1959 foram: ‘A Plebe’, ‘Bloco Satélite’ e ‘Karfajestes’ – este último com seu baile tradicional onde escolhia a nossa Rainha do carnaval.
Tradição: Um outro Bloco de muito sucesso popular nesse ano era o - ‘Pingüins do Amor’. A referida agremiação, segundo o escritor e memorialista do nosso carnaval, ‘Ticiano Duarte’, era comandada pelo carnavalesco - ‘Xixico’, proprietário do antigo Cinema Rex.
Lembrança: E no começo de 1960, o folião natalense começou a cantarolar o refrão do Bloco – Cão Jaraguá: “‘Ô menino, olhe o cão/ olhe o cão, olhe o cão/olhe o Cão Jaraguá... Ele é bonitinho/ Olhe o cão/ olhe o cão/ Ele quer vadiar...”. Ou então outro de seus tantos hinos criados pelo Yoyô: “Minha rolinha Sinhô/ Sinhô nunca fez mal/ sinhô, sinhô é bonitinha/ Sinhô, sinhô no carnaval...”.
1950/1959: Fim de uma era alegre e de aguerridos e saudosos carnavalescos!
Por Gutenberg Costa (Tribuna do Norte)

23.2.09

Rodrigues, o seu fotográfo.


Cada cidade tem suas figuras especiais, excêntricas e quase sempre somente nos damos conta de que assim se comportavam quando elas saem do circuito, seja por habitar outro lugar ou por morte. Então, recorremos à lembrança, como se estivéssemos revendo um filme. E como é triste, sabermos que elas se foram para sempre, algumas vezes de maneira tão inexplicável.
Foi o que aconteceu com a notícia da morte de Rodrigues dia 18 deste fevereiro, quando a cidade entrava no período carnavalesco, do qual ele era folião ativo. Fotógrafo de tantas gerações, pois muito jovem iniciou na profissão com instantâneos na então Praça Pedro Velho, onde era sempre encontrado com sua máquina a tiracolo. Não dispensava opinião, quando alguém ficava em frente às suas lentes em busca da melhor pose. Agrupava de maneira toda especial, as famílias que, ao término dos desfiles estudantis e militares escolhiam os arborizados e ajardinados recantos do local para registro do momento. Ou casais de namorados, cuja foto iria para o tradicional álbum de recordações. E logo Rodrigues passaria a registrar os eventos sociais mais badalados de Natal, como os tradicionais carnavais de clubes, os blocos de elite desfilando na avenida, os arrojados casamentos e 15 anos.
Mas, o auge profissional aconteceu quando montou estúdio na Avenida Deodoro, década de sessenta, tornando-se ponto de convergência e de irreverência da juventude rock n`roll, coca-cola, cuba libre e outras “cositas” mais. A calçada do foto ficava repleta de lambretas e vespas. E em conseqüência, alunas dos colégios 7 de Setembro e Imaculada Conceição faziam questão de circular em frente, a fim de curtir umas paquerações e ouvir o que na época se chamava galanteios. E Rodrigues clicando, clicando, inovando na maneira de fotografar, sem mais aquelas poses em que as pessoas mais pareciam estátuas. E foto 3x4 tinha que ser também em Rodrigues, o seu fotógrafo, o chique da época.
Muito tempo depois, mudou-se para a Rua Ulisses Caldas, onde permaneceu até ser encontrado morto, solitário, esquecido pela sociedade que ele tanto prestigiou, deixando como marca dos tempos áureos, um acervo de muitas e muitas fotografias que merecem ter um destino digno, pois fazem parte da história de Natal.
Por Salésia Dantas

22.2.09

Jacques Riffault - Refoles

Caravela Portuguesa Vera Cruz do Século XVI - Réplica

Antes da "descoberta" de Natal pelos portugueses, havia nesta cidade caravanas de corsários fazendo contrabando, principalmente de pau-brasil e muitas outras madeiras, além de pássaros silvestres e de até mesmo de tabaco. Para tanto os corsários, na totalidade, franceses firmaram um acordo com o povo índio recebendo o que queriam em troca, presentes como espelhos, tintas além de outros objetos sem valor. Para os indígenas, aqueles "presentes" eram coisa de suma importância para eles. Para os franceses, não valia nada. Dentre os corsários que por esses lados estiveram, estava Jacques Riffault que, com o passar do tempo o local onde ele ancorava a sua nau passou a ser chamado de Refoles ou mesmo Rifoles. Esse homem negociou madeiras, como o pau brasil, que existia em abundância na margem esquerda do rio Potengi e, principalmente pelo lado direito onde havia a chamada Mata Atlântica. Os corsários levaram madeiras daqui, do Rio Grande do Norte até ao Rio de Janeiro. Jacques Riffault foi um deles.Em termos de expansão marítima, os franceses, mesmo perdendo a corrida, buscaram terras sem colonização para poder explorar. O Tratado de Tordesilhas, assinado por Portugal e Espanha, não era respeitado pela França. Os corsários recebiam apoio do governo francês, com financiamento, para explorar as riquezas das Américas. É tanto que Jacques Riffault, depois de Natal foi para São Luis, no Maranhão. Em Natal, a boa amizade que Riffault tratava com os índios, dava-se à falta de colonização efetiva do território. É tanto que a denominação Riffault perdura até hoje sendo que se chama então de Refoles, onde está, nos dias atuais, a Base Naval de Natal. E com os contatos entre europeus e potiguares surgiu, então, a miscigenação da raça potiguar bem a de outros lugares por onde os europeus passaram. Eram europeus da Normandia e da Bretanha que andavam em íntima promiscuidade com grupos indígenas, de modo especial, as mulheres índias. Um mapa francês datado de 1579 identifica a terra do Rio Grande do Norte. Nele, se identifica acidentes geográficos, das tribos e de produtos econômicos. Desse modo, fica provado que os franceses tinham maiores conhecimentos dessa terra que os próprios portugueses. Porém, só no final do século XVI os portugueses se armaram e expulsaram os franceses de Natal que nem tinha ainda esse nome. O nome de Natal só veio com a sua "descoberta", em 25 de dezembro de 1599 que, por coincidência, o território foi tomado e sendo o dia 25 de dezembro um Natal, o que estaria por a cidade também seria Natal, em homenagem ao nascimento de Jesus. Dai por diante, os portugueses iniciaram a construção do Forte que levou o nome dos Três Reis Magos. Com a retomada do Rio Grande, que já se fazia até no interior do Estado, Portugal passou a também perseguir os franceses do território do Maranhão.
Texto: Alderico Leandro

18.2.09

Xarias e Canguleiros


Em Natal, na segunda metade do século retrasado, aconteciam grandes batalhas campais, instigadas, acima de tudo, pela rixa das classes sociais e pelo bairrismo belicoso de Canguleiros (comedores de cangulo e peixe seco), moradores dos "bairros de baixo" (Rocas e Ribeira) e pelos Xarias (comedores de xaréu e peixe fresco), habitantes do bairro burguês da Cidade Alta.Durante a noite (depois das 18 hs) ecoavam as provocações e o grito de guerra dos contendores exaltados:

- "Canguleiro não sobe!"

- "Xaria não desce!".

Obviamente, as tropas de choque de cada lado desafiavam esses ultimatos e o pau cantava entre as partes. Fazendo uma releitura de tal fato histórico, apresento...


"A Pinimba de Xarias e Canguleiros".

Xaria nunca se manca
Só vive fazendo festa
Quero ver a sua banca
Lá na Rua da Floresta.

Eita cangulo fuleiro
Não chega no Alecrim
Apanha de marmeleiro
Da turma da Vaz Gondim.

Sou do Alto da Castanha
Me criei no Maruim
Eu não abro pra meganha
Quanto mais pra Mauricim.

Você não sobe a ladeira
Fedorento a pituim
O povo da Salgadeira
Não gosta de cabra-ruim.

Xaria só diz besteira
Lá na praça João Maria
Trepado numa cadeira
Recitando poesia.

O cangulo da Ribeira
Acredita ser artista
Sua nega é maloqueira
Vive de roubar turista.

Mané do Beco da Lama
Pensa que é valentão
Acabo com sua fama
Lá no Poço do Dentão.

Cangulo da Jordanês
Comedor de porcaria
Troca cueca por mês
E depois joga na pia.

Xaria deixe a frescura
Conheço seu ganha-pão
Só vive de sinecura
No ofício de babão.

Cangulo cabra-de-peia
Lavou convés de navio
Era chave de cadeia
No outro lado do rio.

***** Por Graco Medeiros

11.2.09

Ontem em Natal

Linha 01 - Rocas Quintas

Lendo Salésia Dantas no blog Natal de Ontem, do meu amigo irmão Manoel Neto, lembrei-me de imediato do seu irmão e grande amigo José Canuto. Fizemos parte do Natal dos anos 60. Canuto como assim era conhecido, sempre foi um “gentleman” e juntamente com os irmãos Lawrence e Klaus Nóbrega eram os “lambreteiros” da turma.
Na nossa época o chick eram as Lambretas e Vespas, motocicletas nem pensar, os mais pobres teriam que se contentarem com as bicicletas das marcas Monarq, Caloi e Merckswiss. Era uma gloria quando conseguimos colocar uma garota para passear no quadro destas bicicletas. Mais tarde, apareceram os Fuscas, DKW, Dauphine e Gordini.
Lembro-me bem o primeiro Dauphine que chegou a nossa cidade pertencia a Iberê Ferreira de Souza, atualmente vice-governador do RN.
Os “lambreteiros” eram os mais curtidos pelas meninas, pois tinham um status bem mais elevado do que o nosso, que vez por outra pegava nos carros dos nossos pais para passear nos dias de domingo à tarde e começo da noite. Tinha hora para ir e para voltar, e ainda correr o risco de levar uma carreira de um Jeep do DETRAN, dirigido por dois “cavalheiros” conhecidos como Repuxo e Eufrásio.
Infância e juventude feliz, curtidas sem maldades. As reuniões eram feitas embaixo dos postes. Na nossa turma em frente ao Cine Rio Grande ou no cruzamento da Rua Mossoró com a Av. Prudente de Morais. Para variar tinha que ter uma briguinha de bofetes, e neste departamento se destacava, eu, Carlos Limarujo, Antonio Ferreira, (Toinho Miniatura) sempre foi pequenininho mais uma grande figura humana, um grande amigo, Jomar Monteiro, Flávio Azevêdo, Carlos Dumaresq (Careca), Ivanildo Lins, Aldacir Vilar e Silvio Procópio. Era uma turma boa, depois dos bofetes ficávamos de mal e logo depois fazíamos as pazes, era uma comemoração. Tinha um soldado corneteiro da polícia militar que o apelido era Maribondo, então quando ele passa tocando a sua corneta na banda da Polícia, a gente acompanhava na calçada gritando, Maribondo Caboclo e de pronto ele respondia
- Sair daqui, vou pegar “tudinho” viu magote de felas da puta.
Nunca pegou ninguém, no outro dia passava rindo e brincando com a gente.
Tinha uma brincadeira, esta “mais pesada” que era tirar as calças ou calção do colega e pendurar no poste. Certa vez Silvio tirou as calças do nosso Aldacir Vilar, nosso querido Cabo Goya, que quase valeu uma missa de sétimo dia. Silvio arranjou uma maneira de sair, vestido de mulher. Senão teria que ficar em casa por várias semanas. Silvio que carinhosamente chamo de Silvinho, ao contrário do seu irmão Claudio, era “arengueiro”. Certa vez, me nomeou prefeito da Rua Mossoró, titulo ostentado até hoje, embora com “domicílio eleitoral” em outra rua. Quando nos encontramos é uma festa, sempre falamos na nossa infância, nossa juventude e no Natal do nosso tempo.
Texto de Augusto Coelho Leal (Guga) - Foto enviada por Marcos Paiva da Rocha (Arquivo de Francisco de Assis Barros).

5.2.09

O desembarque holandês no rio Potengi.


Gravura flamenga do Livro de Barléu
No mesmo dia em que ocorreu o desembarque holandês na antiga praia de Ponta Negra (hoje correspondente a Areia Preta) – 8 de dezembro de 1633, um dia de 5ª feira, cuja maré cheia verificou-se às 10 e meia da manhã - , parte das tropas dirigiu-se à barra do Rio Grande (Potengi), embarcada em diversos navios sob o comando de Jan Cornelissen Lichthart, conduzindo também os senhores Van Keulen, ten.cel. Balthasar Bymae e Carpentier. A esquadra veio impusionada pelos ventos leste e norte, pretendendo a conquista do Forte dos Santos Reis, situado na barra daquele rio.
Quando os navios holandeses demonstraram a intenção de penetrar a barra do rio, a artilharia do Forte dos Santos Reis Magos passou prematuramente a atirar com os seus canhões, o que não impediu a manobra dos invasores. Chegados à distância conveniente do forte, os navios flamengos passaram a responder ao fogo português, com fúria e precisão.
Os holandeses encontraram junto ao forte duas caravelas fundeadas, cujos tripulantes portugueses as abandonaram, ante a aproximação da esquadra flamenga. O comandante Lichthart, já tendo penetrado no rio, determinou então fossem cortadas as amarras que retinham as duas caravelas abandonadas, tendo-as aprisionado e incorporado à esquadra flamenga.
Era plano dos invasores desembarcar a companhia que vinha a bordo, em certo local à margem esquerda do rio, com a finalidade de cortar o abastecimento d`água dos defensores do forte. Tal manancial de água potável correspondia ao rio da Redinha, cujas águas desembocavam na praia do mesmo nome, no Potengi. Todavia, verificaram ser desnecessária tal providência, pois os próprios botes dos navios poderiam impedir a aproximação dos portugueses, que pretendessem procurar aquele manancial d`água.
Ocorreu então o desembarque das tropas, que formavam uma única companhia, na margem direita do Potengi. Vieram-se-lhes juntar cerca de 150 marinheiros armados de mosquetes e sabres. Marcharam então em direção ao forte, chegando a uma duna de areia nas proximidades da fortificação, onde existia um poço d`água, que à época, abastecia do precioso líquido as tropas aquarteladas no Santos Reis. Ali acampou o comandante, ficando no aguardo das outras tropas flamengas que haviam desembarcado naquele mesmo dia, na Ponta Negra.
Logo em seguida começaram os combates entre os invasores e as tropas da fortaleza, em que foram utilizados canhões e mosquetes. Pelas três horas da tarde, chegaram àquela duna as tropas vindas da Ponta Negra, as quais se aquartelaram por detrás do médão, devidamente protegidas do fogo proveniente do Santos Reis.
Deixaremos de lado os diversos episódios ocorridos entre os dias 8 a 12 de dezembro de 1633, período em que decorreu o assédio do forte, culminado com a rendição do lado português e a vitória dos flamengos. Tal descrição fugiria ao nosso objetivo, ou seja, identificar a parte geográfica relacionada com o desembarque flamengo no rio Potengi.
Desenhos holandeses, um deles de Commelyn e o outro apresentado no livro de Laet, descrevem a paisagem e a conquista do Rio Grande, documentos de que nos utilizaremos para completar o quadro já descrito.
Em uma das gravuras vêem-se alguns navios holandeses fundeados no oceano, ao nascente da fortaleza. À altura do rio da Redinha, então navegável (Versche Riever), aparecem duas caravelas portuguesas, aprisionadas, subindo o Potengi rebocadas por duas canoas flamengas movidas a remo. À frente das duas canoas, segue uma outra embarcação similar. O grosso da esquadra flamenga achava-se ancorada em um ponto, à margem direita do Potengi, no local onde desembocava um certo riacho provindo da antiga Lagoa do Jacó, no porto hoje denominado de Canto do Mangue.
Ao sudoeste do forte havia um renque de dunas, aquelas mesmas em que os holandeses colocaram os seus canhões. Segundo informações coevas, as dunas tinham a altura de 60 pés (19,8m), superando o nível do forte: “Este forte está sujeito às dunas que lhe ficam a tiro de arcabuz, e são tão elevadas que delas se pode ver pelas canhoneiras o terrapleno, e daí fuzilar os do castelo, que se dirigem para as muralhas”.
Na gravura intitulada Verovinge van Rio Grande in Brasil Anno 1633 (Assédio do Rio Grande no Brasil Ano 1633), divisam-se os alojamentos flamengos, por detrás e ao sudoeste das dunas.
Na gravura holandesa executada por Commelyn, intitulada Afbeeldinghe van T´Forte op Rio Grande ende Belegeringhe (Planta do Forte do rio Grande e arredores), já figura o Fort Tres Reys convertido no Fort Ceulen. Sobre as dunas três baterias, uma delas de morteiros.
Exatamente ao sudoeste do Fort Keulen, existia o Het Quartier van ous volck, o quartel do nosso pessoal, vizinho e ao poente do qual, via-se o Logement vande K. Mathias van Ceulen, o alojamento do comandante Van Keulen.
No livro de Barléu figura um mapa, intitulado Castrum Ceulanium, de alto valor informativo: ali vêem-se o Castellum e as pedras que as marés altas inundam, os arrecifes, a típica vegetação do terreno arenoso, as pedras submersas junto à entrada da barra.
Também as instalações de uma indústria de cal, Fornax conficiendae calcis, no terreno hoje ocupado pelo 17º G.A.C. Ademais, o canal de navegação do rio Potengi, as indicações exatas sobre a profundidade da barra, e alguns poços d’água doce, aquae dulces.
Na parte correspondente à atual praia da Redinha, vêem-se algumas casinhas à beira do Potengi, pertencentes a pescadores. À esquerda da gravura, havia os Montes Excelsi, abaixo dos quais corria um riacho, antigamente chamado de riacho da limpa, hoje desaparecido completamente.
Por Olavo de Medeiros Filho.

3.2.09

Notas sobre a Cidade do Natal - II


Praia da Redinha nos Anos 30.

1810 – Henry Koster, viajante inglês autor do livro “Viagem ao Nordeste do Brasil” informa que três ruas convergiam para a praça da matriz, inexistia calçamento e a população era em torno de seiscentos ou setecentos habitantes.
1813 – Inauguração do Quartel de Companhia de Linha.
1844 – A Lei Provincial nº 118, de 09/11/1844 delimitou o quadro da cidade: do Baldo à Gamboa de João da Costinha e da margem do rio até a Estrada Nova depois Rua da Aurora; O censo apresenta uma população de 6.454 habitantes.
1846 – A resolução 140 aprovou o contrato feito para o aterro do rio Salgado (Potengi).
1847– Plano Topo-Hidrográfico realizado pelo capitão-tenente F.J. Ferreira.
1852 – A Câmara Municipal proíbe a construção de casas cobertas de palhas, capim ou junco nas principais ruas da cidade.
1855 – A Resolução nº 323, de 02 de agosto de 1855 autorizava ao Presidente Passos a construir um cemitério concluído no ano seguinte.
1856 – Inauguração da feira pública criada pela Lei Provincial nº 74, de 11.11.1841.
1870 – O art. 24 da Lei 635 autorizava o Presidente contratar o abastecimento d´água da capital.
1878 – Inauguração do telégrafo elétrico no dia 04 de agosto.
1892 – Inauguração do primeiro mercado público no dia 07 de fevereiro.
1901 – Criação do bairro Cidade Nova através da Resolução Municipal nº 15, de 30.12.1901.
1902 – Inauguração da primeira fábrica de gelo no bairro da Ribeira no dia 28 de janeiro.
1903 – A Intendência Municipal inicia a colocação das placas de ágata com os nomes das ruas e praças da cidade.
1904 – Início da execução de projetos de urbanização e paisagismo de autoria do Arquiteto Herculano Ramos: Inauguração do Teatro Carlos Gomes no dia 24 de março.
1905 – Inauguração do primeiro trecho iluminado a gás acetileno no bairro da Ribeira em 27 de junho.
1906 – Inauguração do primeiro trecho iluminado a gás acetileno no bairro da Cidade Alta em 15 de novembro.
1907 – Início de perfurações de poços respondendo pelo abastecimento da cidade até 1938.
1908 – Circulam os primeiros bondes à tração animal (burros) da Companhia Ferro-Camil inaugurando o primeiro trecho da Rua Silva Jardim à Praça Padre João Maria.
1911 – Criação do quarto bairro da cidade – Alecrim: Inauguração da iluminação elétrica na cidade e residências particulares: Instalação do primeiro telefone de Natal na residência da Sra. Sinhá Galvão: Inauguração do serviço de bondes elétricos no dia 02 de outubro, circulando até 1955; Inauguração do primeiro cinema – Politeama – no dia 08 de dezembro: Demolição da antiga cadeia pública na Praça André de Albuquerque e instalação da Casa de Detenção no Monte Petrópolis.
1915 – A empresa Força e luz estende o serviço de bondes até a praia de Areia Preta.
1916 – A ponte metálica sobre o Rio Potengi é entregue ao tráfego no dia 20 de abril.
1922 – Inauguração do edifício da Prefeitura Municipal no dia 07 de setembro.
1926 – Confecção da Planta Topográfica da cidade registrando os serviços de saneamento existentes.
1928 – Inauguração do Estádio Juvenal Lamartine no dia 12 de outubro.
1929 – A Resolução nº 304, de 06.04.1929 autorizou o Prefeito Omar O Grady a contratar o Plano de Sistematização da Cidade sendo responsável pelo projeto o arquiteto Giacomo Palumbo.
1935 – O Plano Geral de Obras – contratado junto ao escritório Saturnino de Brito – abrangendo projetos e execução de serviços de águas e esgotos inaugurados em 1939.
1946 – Inauguração da Avenida Circular, atual Avenida Presidente Café Filho, na administração do Prefeito Sylvio Piza Pedroza.
1947 – O Decreto-Lei nº 251, de 30 de setembro de 1947 promoveu a divisão das áreas urbanas e suburbanas em onze bairros.
1951 – Inauguração do Farol de Mãe Luiza no dia 15 de agosto.
1963 – Construção da estação rodoviária no bairro da Ribeira em 15 de dezembro.
1964 – Construção do primeiro conjunto habitacional – Cidade da Esperança.