26.9.08

Com Cuscuz e Munguzá (Texto)

Mais uma página da história de Natal ...

CUSCUUUUZZZ!!!!! Gritando a plenos pulmões, lá iam em disparada pelas ruas de Natal, os vendedores do famoso cuscuz Café da Mata em seus tabuleiros de alumínio! Era uma das cenas mais comuns nas manhãs e tardes natalenses com o barulho da batida nas tampas dos tabuleiros e o vozerio atroante dos que apregoavam o produto!

Naqueles tempos da minha juventude e, de muitos habitantes desta Cidade dos Reis Magos, despertávamos, sim, ao som estridente daqueles gritos, chamando a gente, para comprar cuscuz e munguzá! O café matinal, feito ainda no coador, bem quente e exalando aquele cheirinho agradável que lhe era característico, acompanhado com aquele cuscuz, era uma festa em casa!

Creio que, grande parte da população de Natal era freguesa assídua desses alimentos! Penso que, aquelas iguarias deviam ter um algo mais nos seus ingredientes e feitio, para serem tão apetitosas! Nem as nossas mães, com toda aquela sabedoria culinária, conseguiam fazer pratos tão gostosos como aqueles!
Onde andam aqueles fazedores de cuscuz e munguzá? Qual foi o motivo que os fez desaparecer?! Por que parou? Parou, por quê?

Não consigo entender como esses produtos que entravam nas nossas casas pela manhã e, às vezes, também, à tardinha, com a mesma freqüência que entram hoje nas novelas, não tenham sobrevevidos e que se mantivessem até os nossos dias! Lambendo os lábios, digo: é uma lástima!

Natal ficou mais pobre na sua alimentação, por falta do cuscuz Café da Mata de cada dia, ingerido por nove, entre dez habitantes da cidade do Natal, daquela época! Os produtos alimentícios mudaram sim, mas, só que, para pior!

Metamorfosearam-se com uma pseuda capa de modernidade que tirou aquele sabor delicioso e natural, existente nos pratos servidos em tempos passados e, me parece que, não voltarão jamais! E, na nossa alimentação, estávamos certos ou não? Que julguem os especialistas no assunto!

De qualquer forma, certo ou errado, vem-me água à boca quando, relembro com muita saudade aquelas iguarias, freqüentes, em quase todos os cardápios matutinos, das residências desta minha querida cidade! Passou rápido o tempo daquelas comidas, contudo, como “o que é bom dura pouco”, mais uma vez, se confirmou o adágio popular!

O certo é que, a sofisticação trazida e a nós imposta pelos chamados tempos modernos, tomou conta de tudo, e, nesse embalo, fomos prejudicados, em parte, pois, nem aquele cuscuz, nem a correria e os gritos dos seus vendedores, algumas vezes, nos acordando ainda cedo da manhã, nada disso, temos mais!

Acabaram-se os “despertadores” humanos que acordavam os moradores da cidade e com eles, se foram, também, as nossas lembranças e o complemento delicioso dos nossos cafés matinais!

“Oh! dias da minha infância!
Oh! Meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!”

A beleza e sensibilidade das palavras de Gonçalves Dias expressam a minha opinião, isso já me é o bastante! (Odilon Alves da Rocha)
.

Nenhum comentário: