18.10.08

Queda do Avião... (Texto)


Era década de 60, não lembro a data. Estava eu na minha casa, na Rua Oeste, passando a última mãozada de brilhantina Glostora nos cabelos porque iria para Ribeira assistir Aluizio Alves pagar ao Banco do Estado 19 milhões.
De repente escutei um roncado estranho passando por cima das casas, sai para olhar, ainda avistei a cauda de um avião, e uma listra de fumaça preta acompanhando, sai correndo, passei pela Av. Getúlio Vargas e Rua Pinto Martins, passei em frente a Igreja São Francisco, em Areia Preta, chegando a Pracinha da Jangada, ainda vi a ponta da asa do avião afundando.
A essa altura os filhos de Caindão e Dona Nenêm, que tinham uma Peixada em frente ao Posto de Salva Vidas da Praia de Areia Preta, já estavam nadando em direção do avião, Walmir, Ivan e Galego.
O avião já tinha afundado, Walmir mergulhou e conseguiu salvar o Sargento, o Piloto e o Co-piloto desapareceram. A beira da praia virou um formigueiro. Ali mesmo peguei a marinete de Alaô que fazia a linha Areia Preta, Cidade Alta via Radio Poti. Saltei na esquina em frente ao prédio do Saneamento, vizinho à Radio Poti e desci a ladeira.
De longe era um mar de galhos verdes e bandeiras verdes, no cruzamento da Rua Tavares de Lira com a Avenida Duque de Caxias, estava repleto de adeptos do cigano feiticeiro. Fiquei em frente à Socic que vendia geladeiras novas e de segunda mão.
Só se via entrar sacolas verdes recheadas de dinheiro dado pela gentinha para pagar a dividida de 19 milhões do Sr Aluizio Alves, e a gentinha ainda gritava: ''Pagou e não roubou, ainda sobrou para enterrar o velho fechador''. Todas as ruas estavam engarrafadas de carros vindo do interior do estado, e a balaustrada do Grande Hotel repleta, inclusive o Majó Theodorico Bezerra.
Passados três dias, eu e alguns amigos fomos pescar nas locas de pedra na Praia de Areia Preta, quando de repente um dos colegas, o Bira, saiu correndo com os olhos arregalados, tinha encontrado o corpo do co-piloto em uma fenda dos lajedos. Fomos avisar na Delegacia da Praia do Meio, que rapidamente chamou a Aeronáutica que levou o corpo numa bolsa de borracha preta cheia de um pó branco. O piloto foi encontrado na Praia do Forte.
Walmir que vendia o Diário de Natal, ganhou uma medalha por bravura em Parnamirim e uma bicicleta, e foi manchete de primeira página do Diário de Natal.
Isso aconteceu naquela década, eu acredito que ainda tenha o registro no Diário de Natal.
(Manoel Julião Neto)
.

Um comentário:

Graças Carlos disse...

Nossa, finalmente encontro alguem que presenciou aquela aterradora cena, também não lembro a data mas acho que foi pelo ano de 1965 ou 66.
Nunca esquecerei, estava sentada na janela e eram mais ou menos 14:30hs quando ouví esse horrível ronco a que o sr. se refere, não sei porque mas meu coração de criança presentiu que ele ia cair e eu só tinha 8 ou 9 anos. Chorei muito pois ví aquele imenso pássaro de ferro passando sobre a minha casa caindo e sendo engolido pelas águas. Heroicamente entrem em cena os filhos do sr. Caindão. E minutos depois a praia ficou repleta de aeronautas, todos com suas fardas azul cinza e azul celeste, teria sido uma bela imagem, se não fosse a tragédia que acontecera. Jamais esquecerei, aquela cena me amedrontou por muitos anos e sempre que lembrava era como se fosse um filme na minha cabeça.
Graças Carlos, 21/11/2012
grace_gagah@hotmail.com