7.7.09

Ainda sobre Zé Areias

Rampa em 1942
BALÕES VERMELHOS

Eu estava sentado na minha cadeira, em frente ao birô de madeira, do tempo antigo, mais que isso, quando Zé Areias, que estava sentado numa cadeira do escritório, lendo uma revista de um número atrasado, disse que, na China antes daquele tempo, era comum os comerciantes pendurarem balões vermelhos com velas no seu interior, nas salas das casas de negócio para vender a quem quisesse comprar. Com certeza, Zé Areias estava lendo tal artigo na revista, pensei eu. Ele falou aquilo para quem quisesse ouvir. Zé Areias, cujo nome era José Antonio Areias Filho, era um homem dos seus 50 anos ou mais. Quando os soldados norte-americanos estiveram aquí, no tempo da IIª Guerra, ele esteve por todo o tempo lá pelo Campo de Parnamirim, no Rio Grande do Norte, fazendo a barba, cortando o cabelo dos gringos e mesmo vendendo urubu como se fosse peru. Ele era um homem vivedor como ninguém sabia. Depois da Guerra, veio o perído de recessão para Zé Areias. Quando não tinha nada o que fazer, ele vendia rifas de qualquer coisa: bode, burro ou carneiro. Dava gosto de ouvir o que o homem contava em suas façanhas dos dias e das noites e, de quando em vez, com seu corpo cheio de gorduras, peitos caídos até a barriga enorme por sinal, ele parava a conversa com um tradicional "plutzz" que costumava fazer entre os lábios carnudos. Com relação aos balões vermelhos, dizia Zé Areias, era uma tradição do povo a colorir suas moradias, principalmente no final de ano, quando eram recebidos os parentes para tomar um chá em meio da conversa, não raro, para acertar um casamento entre seus familiares. Com relação ao chá, contava o barbeiro gozador, que foram os chineses os seus inventores. Certa vez, um cidadão da aldeia fazia uma poção de água quente com folhas de ramos de alguma coisa que ele chamava de "agua quente". Estava o homem a mexer a água quente quando não sabe bem porque, a poção derramou sobre seus braços, busto e corpo a baixo. Indignado com o incidente mal acontecido o chinês gritou: "CHÁ", como forma de desespero e malcriação. Não se sabe ao certo, a verdade é que daquele dia em diante quem procurasse a água quente com gravetos finos de árvores saberia dizer que estaria procurando tomar um "chá" para beber, pois foi assim que se passou a chamar a tradicional de água com gravetos. Tal fato, Zé Areias contava enquanto o meu tio Zeca, sorria, baixinho, gordo como era, com as alfinetadas do barbeiro natalense. Era frequente a visita de Zé Areias ao escritorio de José Leandro, o tio Zeca, pois havia uma enorme afinidade entre os dois homens. Ze Leandro era mais moço sete anos que Zé Areias. Mas, nas alfinetadas da vida, apesar da diferença de dinheiro, não havia nada a temer. Zé Areias, por certo tempo, quando os norte-americanos estiveram por aqui, ele era um homem cheio de dólares e costumava ir aos bares da Ribeira onde gastava tudo o que levava em uma noite. Se alguém perguntasse a ele o que havia feito para gastar tanto dinheiro assim, ele respondia: "Dólares em alta!!!". E assim continuava a beber à noite toda. Com relação aos balões vermelhos, ele dizia sempre: "Um dia eu ainda vou lá!!!". Logo a seguir. mudava de assunto, pois a China era longe demais, apesar das chinesas serem mulheres cheias de candor. E por uma mulher de qualquer tipo ou preço, seja lá como fosse, que fosse gorda, rechonchuda, ele estava pronto para ir até à China. (Alderico Leandro Blog Asa Morena)

Um comentário:

Bartolomelo disse...

Mote:

“Findou-se a velha Ribeira...
Nem quenga se encontra mais!”

Glosa:

Nas noites de lua inteira,
estórias vagas e frias
calam nas ruas vazias;
findou-se a velha Ribeira...
Sem boêmios imortais,
poesia anda vasqueira,
pois, da Quarentena ao cais,
resta uma saudade feia
dos tempos de Zé Areia...
Nem quenga se encontra mais!

Bartolomeu Correia de Melo