1.4.10

O porto do Passo da Pátria



O local que veio a ser conhecido como Passo da Pátria já no período colonial servia como importante porto de integração da cidade com o rio. Um dos primeiros registros de reformas desse logradouro aparece em um documento escrito pelo Senado da Câmara em 29 de maio de 1805, onde o Capitão Mór Lopo Joaquim era julgado em razão dos maus tratos e de sua maneira despótica de governar a capitania. Um dos argumentos da defesa eram os melhoramentos empreendidos por ele durante sua administração. Uma dessas obras empreendidas pelo acusado demonstra claramente que já antes de 1805 havia uma clara preocupação da administração colonial em colocar a cidade do Natal em conexão fácil e plena com o Rio Salgado.
Em 1847, a ladeira e o Porto do Passo da Pátria, então chamados de “Caminho Novo do Dr. Sarmento”, aparece no Plano Hydro-topográfico do Rio Potengi. Sua demarcação no Plano é bastante específica e denota sua importância como ponto de desembarque de mercadorias desde datas remotas. Segundo Cascudo, em 1856 o Presidente da Província Bernardo de Passos auxilia com recursos um morador das cercanias, Manoel Bofe, para melhorar a ladeira. O morador alargou e rebaixou a ladeira, “desbastando o matagal, batendo a rampa que era áspera e quase a pique”. Já nesse período, Macaíba e São Gonçalo despontavam como importantes praças comerciais, enviando seus gêneros pelos Rios Jundiaí e Potengi até o Porto do Passo da Pátria, conhecido então como Porto da Cidade. A intensa movimentação nesse local determinaria a fixação de casas nos arredores da ladeira e do porto, além de uma feira muito concorrida responsável pelo abastecimento interno da Cidade Alta.
Em 1866, o Presidente da Província José Meira resolve calçar o Caminho Novo do
Dr. Sarmento, antiga Ladeira da Cadeia, visto a extrema importância desta para a integração
da cidade com o rio. Só que decide investir em outra ladeira, que passava ao lado do Hospital de Caridade, 15 segundo o Presidente um local mais próximo e com maiores vantagens.
O local foi rebatizado como Passo da Pátria. O contratado, Roberto Francisco da Silva Barros devia encarregar-se de calçar a ladeira para que melhorasse o trânsito da cidade alta para o rio. Segundo o presidente, essa obra não era apenas um simples embelezamento, era uma importante obra de integração da cidade com o rio.
Em 1867, o Presidente pede recursos ao Governo Imperial para a construção de um cais no Passo da Pátria, já que a obra era um complemento indispensável para a ladeira.
Em 1870 o cais do Passo da Pátria e o da Praça da Alfândega estão bastante deteriorados, o que faz com que o Presidente autorize orçamento para as despesas necessárias para o conserto dos dois. O cais da Alfândega desempenhava também um importante papel de integração - no caso do abastecimento interno - da cidade com o rio. Tanto que é proposto em 1873 o prolongamento deste até o Passo da Pátria, obra que não foi realizada pela falta de recursos da Província.
Ainda em 1873, são feitos os seguintes melhoramentos: construção de um telheiro para abrigo das mercadorias, construção de sarjetas para desviar as águas das chuvas e conserto dos degraus que ligavam o telheiro ao rio.
Em 1878, o Passo da Pátria foi palco de uma contenda que demonstrou a rivalidade entre o bairro baixo e o bairro alto da Capital. Na verdade, esses locais funcionavam praticamente como duas cidades, com funções e valores bem distintos. A cidade alta, núcleo original da cidade e centro do poder administrativo e religioso da Capital, reivindica para o Passo da Pátria o novo local da “Passagem do Salgado”, já que o antigo Aterro do Salgado estava bastante deteriorado e estava sendo construído um novo aterro, também na margem esquerda do rio, mas dessa vez “á partir do rio de fora até a Cambóa do Achado, confronte ao Passo da Pátria”.
A passagem, que partia do lado esquerdo do rio em direção ao Cais da Tavares de
Lyra trazia movimento para o bairro baixo e, conseqüentemente, lucros consideráveis para os comerciantes ali residentes. Os principais comerciantes da Ribeira logo manifestaram seu descontentamento com a mudança, enviando um abaixo-assinado para o presidente Manuel Januário Bezerra. Na falta de um engenheiro o presidente pediu um parecer da Câmara Municipal do Natal, que foi categórica em dar razão à cidade alta.
Os argumentos da Câmara a favor da transferência da passagem para o Passo da Pátria são convincentes. Segundo o parecer do documento, os comerciantes do interior que vêm vender os seus produtos (gêneros de abastecimento interno) na capital não encontram um local fixo e com as devidas acomodações para expor seus produtos na Ribeira. Sabendo-se que já havia um mercado público na cidade alta e um telheiro com uma feira já estabelecida no Passo da Pátria, e na impossibilidade financeira da província construir outro mercado na Ribeira era mais viável transferir a passagem para o local com estrutura mais adequada.

Enviada por Jarbas de Oliveira Cavalcanti
Fonte: Dos Caminhos de Água aos Caminhos de Ferro(Wagner do Nascimento Rodrigues)

Foto: Feira do Passo da Pátria, início do SéculoXX (Acervo de Giovana Paiva) - Croqui mostrando como era Natal em 1847

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