.
Por uma questão do antigo, o nostálgico me atrair a tal ponto de me envolver num clima saudosista. Divaguei no artigo sobre a Ribeira, bairro ao qual cheguei aos três anos de idade quando o meu pai ferroviário José Canuto passou a residir, já que vários setores da rede ferroviária- REFESA ficavam a poucos metros do nosso quintal na Rua General Glicério.
E naqueles prédios de grandes dimensões tive juntamente com meus onze irmãos, contato direto com locomotivas e vagões. O cheiro da lenha queimando nas caldeiras ficou impregnado nas minhas narinas. O saudoso apito do trem jamais saiu dos meus ouvidos, quando ao cair da tarde era recolhido aos galpões que hoje se encontram em decomposição, matando lentamente um passado. A Ribeira vivia o progresso com um comércio diversificado ocupando suas ruas estreitas, o porto num entra e sai constante de navios fazendo surgir firmas de despachos aduaneiros. O teatro era palco de apresentações de grandes espetáculos e dos maiores astros e estrelas do cancioneiro brasileiro.
À noite, quando as famílias se recolhiam e o comércio cerrava suas portas, um outro mundo alegrava o bairro com suas vitrolas ecoando bregas que se expandiam além das janelas das boates e cabarés iluminados pelo brilho do lamê dos vestidos e o vermelho dos batons e esmaltes complementado o look da época. Um cenário “caliente, a media luz” e embriagador, onde jovens da sociedade cursavam a universidade do prazer com direito a diploma e tudo mais.
A minha rua era cercada por uma paisagem bucólica. À frente se deslumbrava um imenso terreno com variadas árvores frutíferas e ao fundo a Lagoa do Jacó, hoje aterrada e transformada em vários blocos de apartamentos. Esta paisagem interiorana terminava ao pé da ladeira da Rádio Poti. Dali em diante, o acesso aos bairros aristocráticos do Tirol, Petrópolis e a Cidade Alta. Acompanhei passo a passo, a derrocada do bairro. O comércio literalmente naufragando, o êxodo dos antigos moradores e o manto de tristeza e abandono que cobriu as noites alegres da Ribeira. Agora, é torcer para que a revitalização do bairro realmente se instale.
(Salésia Dantas)
.
3.11.08
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário