23.2.09

Rodrigues, o seu fotográfo.


Cada cidade tem suas figuras especiais, excêntricas e quase sempre somente nos damos conta de que assim se comportavam quando elas saem do circuito, seja por habitar outro lugar ou por morte. Então, recorremos à lembrança, como se estivéssemos revendo um filme. E como é triste, sabermos que elas se foram para sempre, algumas vezes de maneira tão inexplicável.
Foi o que aconteceu com a notícia da morte de Rodrigues dia 18 deste fevereiro, quando a cidade entrava no período carnavalesco, do qual ele era folião ativo. Fotógrafo de tantas gerações, pois muito jovem iniciou na profissão com instantâneos na então Praça Pedro Velho, onde era sempre encontrado com sua máquina a tiracolo. Não dispensava opinião, quando alguém ficava em frente às suas lentes em busca da melhor pose. Agrupava de maneira toda especial, as famílias que, ao término dos desfiles estudantis e militares escolhiam os arborizados e ajardinados recantos do local para registro do momento. Ou casais de namorados, cuja foto iria para o tradicional álbum de recordações. E logo Rodrigues passaria a registrar os eventos sociais mais badalados de Natal, como os tradicionais carnavais de clubes, os blocos de elite desfilando na avenida, os arrojados casamentos e 15 anos.
Mas, o auge profissional aconteceu quando montou estúdio na Avenida Deodoro, década de sessenta, tornando-se ponto de convergência e de irreverência da juventude rock n`roll, coca-cola, cuba libre e outras “cositas” mais. A calçada do foto ficava repleta de lambretas e vespas. E em conseqüência, alunas dos colégios 7 de Setembro e Imaculada Conceição faziam questão de circular em frente, a fim de curtir umas paquerações e ouvir o que na época se chamava galanteios. E Rodrigues clicando, clicando, inovando na maneira de fotografar, sem mais aquelas poses em que as pessoas mais pareciam estátuas. E foto 3x4 tinha que ser também em Rodrigues, o seu fotógrafo, o chique da época.
Muito tempo depois, mudou-se para a Rua Ulisses Caldas, onde permaneceu até ser encontrado morto, solitário, esquecido pela sociedade que ele tanto prestigiou, deixando como marca dos tempos áureos, um acervo de muitas e muitas fotografias que merecem ter um destino digno, pois fazem parte da história de Natal.
Por Salésia Dantas

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