“Ô Jardineira por que estás tão triste” Assim, começa a letra da música A Jardineira, autoria de Benedito Lacerda e Humberto Porto. Como a jardineira da música, passei um carnaval quieto, um pouco triste, pois logo na primeira noite no baile de máscara da Confeitaria Atheneu, tive a notícia da morte repentina do amigo Rodrigues. Com a minha tristeza e o meu recolhimento, tive tempo de pensar na época de menino, no carnaval daquela geração, que hoje é bem diferente. Não digo que é melhor nem pior, pois todo acontecimento alegre para um jovem sempre vai ser a melhor época, só porque éramos jovens, então para mim era melhor.
Havia as marchinhas que são cantadas até hoje. “Hindu minha linda hindu/ que nasceu em Calcutá/É melhor ser minha esposa/ Do que ser esposa do Rajá,” hoje, fazendo sucesso devido à novela da Globo. Haviam os blocos carnavalescos que mandavam um “convite” para os nossos pais e amigos, anunciando os “assaltos” em suas casas. Lembro-me do Sabalanço, Xamego, Peraltas, Jardim de Infância, Corsários do Amor, Deliciosos na Folia, Kafageste, Puxa Saco e muitos outros. “Lembro-me também de Dozinho, nosso querido Dozinho.” Mandei fazer uma linda fantasia/Bem diferente por ser toda de capim/ Sai com ela e me descuidei/ O jerico comeu toda/ E eu fiquei assim,” meu amigo Airton Ramalho que fez Natal toda cantar a sua música.” Pio Décimo praça que desapareceu/Praça de muitas recordações/ Foi lá que o nosso amor nasceu/Onde guardei meu coração/” As matinês, no América, Aero Clube, ABC, Atlântico, Alecrim Clube e outras, em que as moças (naquela época, quase todas eram) fantasiadas mostrando a barriguinha e agente olhando de soslaio, atirando lança perfume, procurando atingir o umbigo. Fio dental era usado exclusivamente para limpar os dentes. Haviam os confetes, as serpentinas e os salões ficam cheios. O corso, o corso lembro-me que era feito em um retângulo formado pelas ruas Deodoro, João Pessoa, Rio Branco e Ulisses Caldas, depois só na Rua Deodoro, ocupando as duas mãos. Começava no final da tarde indo até a meia noite. Era um desfile de carros fechados ou abertos e quem não tinha automóvel, ficava em pé nas calçadas para ver passar os blocos e também as tribos indígenas que eram blocos formados por pessoas que moravam nas Rocas e Alecrim e que vez por outra, estavam brigando entre si.
Vinha a quarta feira, e com ela na parte da tarde, as matinês nos cinemas Rio Grande, Nordeste, onde os namoros iniciados durante o carnaval eram tentados a dar prosseguimento. À noite, reuniões em baixo da luz dos postes que ficavam em frente ao Rio Grande, ou no cruzamento das Ruas Prudente de Morais e Mossoró. Naquele momento repassávamos todos os lances vividos durante este período.
Passou o tempo, o meu carnaval passou. Hoje apenas olho de longe e até me alegro, vendo o povo feliz pelo menos durante seis dias.
Por Augusto Coêlho Leal – Engenheiro Civil
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