Cine Polytheama
(Alderico Leandro*)
(Alderico Leandro*)
Em Natal, funcionou, nos anos 20 (1920) um cinema que levava o nome de Cine Polytheama, o primeiro cinema da cidade que exibia os filmes vindos do Rio de Janeiro que eram importados pelas Companhias norte-americanas que montaram sucursal na Capital da República. Na verdade, o cinema teve início, aqui, na cidade, pelos idos de 1915, na Rua Chile. Porém, os filmes demoravam a chegar pela falta de produção suficiente para um mercado bem pouco aberto, como era o de Natal. Mesmo assim, ocupando prédios da Rua Chile ou abrindo sessões no Teatro Carlos Gomes, o cinema resistia com as produções americanas-do-norte. Passado certo tempo, esse cinema já estava em um prédio bem maior e arejado, com sorveterias para os seus clientes, servindo taças de sorvete de deliciosos sabores para uma dileta platéia, na Praça Augusto Severo com os bondes passando logo em frente. O Cine Polytheama ficava onde mostra a foto acima, com duas portas arcadas e quatro janelas iguais às portas. Era um delírio para as senhorinhas tomar sorvete no cinema de Natal, trocar idéias, contar o que se passava e depois assistir ao filme que, para o gosto de cada um, inspirava suspiro.
Na porta do cinema, engraxates faziam o gosto do jovem rapaz ou do homem já feito, passado a graxa, a escova e a flanela, terminando com uns pingos de álcool para dar maior brilho ao eles tinham feito. Depois, um níquel era o pagamento. Quem engraxasse, e todos queriam se sobressair, entrava no cinema com um ar de pompa, sendo jovem, para as moças da cidade. Sendo adulto para mostrar as senhoras muito ricas que ele não cabia de contentamento, desfilando de braço dado com a sua senhora e levando a filha e o filho de lado, procurando uma mesa onde os quatros se sentavam. O chapéu de coco, ele tirava da sua cabeça e colocava na ponta da mesa da sorveteria. Alguém que passasse, o cumprimentava e, todo garboso, ele fazia um aceno de boa tarde ou boa noite.
As sessões eram bem mais concorridas aos finais de sábado e domingo. Porém, tinha aqueles que preferiam assistir, também, às quartas-feiras. Não raro, um filme passava uma semana inteira, mudando apenas no sábado quando tudo recomeçava. No salão, escuro com as cortinas fechadas, um piano se ouvia, tocando uma valsa e se a platéia exigia, um fox, um charleston ou um begin. Havia de tudo para cativar os que estavam presentes. As senhoras, emplumadas e com seus vestidos de tafetá, meias de seda e sapatos de salto altos e uma correia passando no peito do pé, usavam o leque para se abanar e para dar o charme da elegância as outras senhoras que também faziam o mesmo gosto. Para os homens, todas aquelas atitudes deixavam eles cheios de brios. Não se fazia fé nas plenas atitudes de cada um dos casais com os seus filhos queridos, ali, muito sóbrios até a sessão de cinema começar.
Era assim que vestia Natal. Homens de paletó, mulheres de organdi, rapazes e moças alinhados, de roupas que chegavam dos pescoços ao meio da perna, sendo moças, e calça comprida, sendo rapazes. O Polytheama era todo em festa em dia de sábado e domingos. Os barmens atendiam a todos, na sorveteria, pois ali, também eles se sentiam reconhecidamente agradecidos pela gentileza de cuidar de uma mesa. Trajando roupas a rigor, esses rapazes não cabiam em si. Afinal, aquelas ilustres personalidades, assíduas como demonstravam ser, eram os que sustentavam a fama do cinema de Natal.
As damas davam um colorido de tom macio e aveludado, encimado por cordão de ouro abotoado com um enfeite em forma de rosa que se passava em seus pescoços. As mocinhas deixavam cair em seu rosto uma pequena mecha de cabelos enquanto os rapazes untavam a cabeleira com o célebre gumex, uma pomada própria para fixar o cabelo na cabeça. Eles ainda puxavam um pouco para frente a cabeleira, de formas a fazer uma trunfa. Os homens, com ternos de duque, misturavam a tantas belezas esfuziantes das mulheres que ostentavam brincos, anéis e pulseiras. Os rapazes vestiam caças cor de chumbo ou creme claro, sapatos de duas cores e meias de seda como as senhoras, cuidadosamente estiradas por ligas. Era assim o Cine Polytheama. Ao final, os casais, se era tarde, procuravam guardar uma lembrança daquela festa, com uma foto tirada do coreto da Praça Augusto Severo.
(* Jornalista e escritor - artigo publicado no Blog Asa Morena)
Na porta do cinema, engraxates faziam o gosto do jovem rapaz ou do homem já feito, passado a graxa, a escova e a flanela, terminando com uns pingos de álcool para dar maior brilho ao eles tinham feito. Depois, um níquel era o pagamento. Quem engraxasse, e todos queriam se sobressair, entrava no cinema com um ar de pompa, sendo jovem, para as moças da cidade. Sendo adulto para mostrar as senhoras muito ricas que ele não cabia de contentamento, desfilando de braço dado com a sua senhora e levando a filha e o filho de lado, procurando uma mesa onde os quatros se sentavam. O chapéu de coco, ele tirava da sua cabeça e colocava na ponta da mesa da sorveteria. Alguém que passasse, o cumprimentava e, todo garboso, ele fazia um aceno de boa tarde ou boa noite.
As sessões eram bem mais concorridas aos finais de sábado e domingo. Porém, tinha aqueles que preferiam assistir, também, às quartas-feiras. Não raro, um filme passava uma semana inteira, mudando apenas no sábado quando tudo recomeçava. No salão, escuro com as cortinas fechadas, um piano se ouvia, tocando uma valsa e se a platéia exigia, um fox, um charleston ou um begin. Havia de tudo para cativar os que estavam presentes. As senhoras, emplumadas e com seus vestidos de tafetá, meias de seda e sapatos de salto altos e uma correia passando no peito do pé, usavam o leque para se abanar e para dar o charme da elegância as outras senhoras que também faziam o mesmo gosto. Para os homens, todas aquelas atitudes deixavam eles cheios de brios. Não se fazia fé nas plenas atitudes de cada um dos casais com os seus filhos queridos, ali, muito sóbrios até a sessão de cinema começar.
Era assim que vestia Natal. Homens de paletó, mulheres de organdi, rapazes e moças alinhados, de roupas que chegavam dos pescoços ao meio da perna, sendo moças, e calça comprida, sendo rapazes. O Polytheama era todo em festa em dia de sábado e domingos. Os barmens atendiam a todos, na sorveteria, pois ali, também eles se sentiam reconhecidamente agradecidos pela gentileza de cuidar de uma mesa. Trajando roupas a rigor, esses rapazes não cabiam em si. Afinal, aquelas ilustres personalidades, assíduas como demonstravam ser, eram os que sustentavam a fama do cinema de Natal.
As damas davam um colorido de tom macio e aveludado, encimado por cordão de ouro abotoado com um enfeite em forma de rosa que se passava em seus pescoços. As mocinhas deixavam cair em seu rosto uma pequena mecha de cabelos enquanto os rapazes untavam a cabeleira com o célebre gumex, uma pomada própria para fixar o cabelo na cabeça. Eles ainda puxavam um pouco para frente a cabeleira, de formas a fazer uma trunfa. Os homens, com ternos de duque, misturavam a tantas belezas esfuziantes das mulheres que ostentavam brincos, anéis e pulseiras. Os rapazes vestiam caças cor de chumbo ou creme claro, sapatos de duas cores e meias de seda como as senhoras, cuidadosamente estiradas por ligas. Era assim o Cine Polytheama. Ao final, os casais, se era tarde, procuravam guardar uma lembrança daquela festa, com uma foto tirada do coreto da Praça Augusto Severo.
(* Jornalista e escritor - artigo publicado no Blog Asa Morena)
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