26.9.09

1904 - Obra da Ribeira (*)


Augusto Tavares de Lyra assumiu o Governo do Estado em 25 de março de 1904, ficando no poder até 05 de novembro de 1906. A sua administração foi marcada, inicialmente, por um período de seca que assolou todo o Rio Grande do Norte. Em conseqüência disso, retirantes migraram em grande quantidade para Natal, preo0cupando as autoridades administrativas locais – da mesma forma que ocorreu no final do século XIX. A aglomeração dessas pessoas nas ruas da cidade seria apontada, pelos inspetores de Higiene, como responsável das condições sanitárias da capital, registrando-se o retorno da varíola, nesse mesmo ano de 1904, fazendo muitas vítimas em Natal. De forma dramática, Câmara Cascudo expôs a situação daquele momento “... com a cidade inteiramente repleta de sertanejos que a seca atirara pelas estradas, morriam uns vinte por dia”.

Segundo o censo demográfico, Natal possuía, em 1900, 16.056 habitantes. Em 1904, no entanto, esse número foi praticamente duplicado com a migração de cerca de 15.000 flagelados à procura de trabalho, de comida e de melhores condições de vida. A descrição do engenheiro Sampaio Correa, quando de sua chegada a Natal, em 12 de março de 1904, para Chefiar uma Comissão de Estudos e Construção de Obras contra os efeitos da seca no Rio Grande do Norte, confirma o estado de calamidade na cidade em decorrência das migrações;

“Natal estava invadida por cerca de 4.000 retirantes, a dormirem ao relento nas ruas mais afastadas do centro, quase sem vestes e sem alimentos, que não lhes podiam fornecer a pequena população da cidade, em geral pobre, de 10 a 12.000 habitantes no máximo. Vezes várias, em famílias dos engenheiros hospedados no hotel, situado no centro comercial, tiveram acudir, com um prato de sopa ou com uma fatia de carne, os retirantes, caídos nas proximidades, exaustos de fome”.

O ano de 1904, embora referido nas mensagens de governo como um período de poucas finanças, registra a realização de uma importante obra pública; o aterro e ajardinamento da antiga Praça da República na Ribeira que, por meio de uma Resolução da Intendência Municipal, passou a se denominar Praça Augusto Severo, em maio de 1902. Reclamava-se a urgência da intervenção nesse espaço, pois – em períodos de inverno – vivia constantemente inundado pelas águas do rio, o que suscitaria os vapores miasmáticos, fator pelo qual era apontado como foco de “pestes”. A proximidade com o Teatro Carlos Gomes e a ameaça contínua de epidemias justificaram a execução desse serviço, muito requestado pelos médicos e pelas administrações passadas.

A obra, iniciada em 01 de junho de 1904, ficou a cargo do arquiteto Herculano Ramos – o mesmo responsável pela construção do Teatro Carlos Gomes (local cada vez mais valorizado para uso da classe abastada). Essa ação, além de se constituir em uma medida de higiene pública, representou uma importante modificação na estrutura física da Cidade do Natal. A obra passava a interligar fisicamente os seus dois bairros consolidados: Cidade Alta e Ribeira – Xarias e Canguleiros -, antes separados por uma “campina pantanosa”, agora transformada em praça. Os recursos foram federais para obras contra a seca, sendo os próprios retirantes utilizados como mão-de-obra.

(*) Uma Cidade Sã e Bela - Angela Lucia Ferreira, Anna Rachel Baracho Eduardo, Ana Caroline Dantas Dias e Geoge Alexandre Ferreira Dantas. - Foto: Pontilhão na Praça Augusto Severo.

Um comentário:

Lívio Oliveira disse...

Mais um resgate histórico do NATAL DE ONTEM. Mais um arquivo da memória de uma cidade especial. Mais um tento para o blog.
Abraço, Neto!