30.9.09

O Início do Rádio no Rio Grande do Norte (*)


Várias emissoras marcaram da radiodifusão no Rio Grande do Norte, mas foi com a REN-Rádio Educadora de Natal, onde tudo começou.

Até 1939, eram os amplificadores de som ou divulgadoras, espalhados pelas ruas e praças de Natal, transmitindo músicas, dramas e notícias a uma população com cerca de 50 mil habitantes. Destacava-se, à época, o serviço da Agência Pernambucana, de propriedade de Luís Romão de Almeida, com vinte e dois aparelhos de alto-falantes, espalhados pela cidade. Além da programação comum, “jornais falados com notícias oriundas do comando de guerra em Natal, dando conta da movimentação provocada pelas operações militares ligadas à Segunda Guerra Mundial”. A sede da Agência Pernambucana era localizada no bairro da Ribeira, ali na Avenida Tavares de Lira.

A Rádio Educadora de Natal foi fundada por Carlos Farache no início dos anos quarenta. Em dezembro de 1940 foi instalada sua torre para melhorar as transmissões, mas somente em 30 de novembro do ano seguinte é que a rádio foi levada ao ar, com o prefixo ZYB-5. O radialista Genar Wanderley foi quem primeiro ocupou o microfone, lendo Ave Maria escrita por Luís da Câmara Cascudo em solenidade de inauguração.

Segundo os jornais da época, do ato solene, presidido pelo interventor Rafael Fernandes, participaram a grande orquestra da REN, sob a batuta do maestro Maurilo Lira e constituída dos professores e dos elementos mais destacados do movimento musical desta capital (...), tendo a Sr.ª Alba Garcia de Azevedo concorrido para o brilhantismo da solenidade catando uma formosa canção mexicana. ( O Diário, 01 de dezembro de 1941).

A Rádio Educadora de Natal era presidida por Gentil Ferreira de Souza e tinha como diretor técnico e superintendente, respectivamente, Carlos Lamas e Carlos Farache.

A história da REN tem continuidade com a Rádio Poti, nome definitivo da emissora a partir de sua incorporação aos Diários Associados em 16 de fevereiro de 1944. Passou a chamar-se Rádio Poti porque todas as emissoras associadas representavam tabas indígenas características do Estado onde estavam localizadas. Tupi, Tamandaré, Farroupilha, Tamoio, Poti, etc. seus diretores eram conhecidos como “caciques”. O “cacique” da Rádio Poti era Genar Wanderley. Depois da Poti surgiram a Rádio Nordeste, fundada em 1954 pelo ex-Governador Dinarte Mariz, conquistando o público potiguar com uma programação diversificada, a Rádio Cabugi, fundada em dezembro do mesmo ano, pelo Senador Giorgino Avelino, e, posteriormente, vieram às emissoras, Difusora de Mossoró, de educação Rural de Natal, Mossoró e Caíco, Rádio Trairi, etc.

Da Rádio Poti, com seus programas de auditório, ficaram conhecidos nomes ainda hoje consagrados nacionalmente, como é o caso de Aguinaldo Rayol. A referência bibliográfica, Diário de Natal (30.11.83) cita Ademilde Fonseca como tendo iniciado sua carreira nessa emissora. Sua transferência para o Rio de Janeiro se deu em 1938, tendo aí se profissionalizado, conforme o depoimento pessoal gravado em 19 de março de 2001.

Os programas de auditório eram muitos disputados pela juventude da época, e fazia a alegria do Rádio e da cidade do Natal. Dentre eles, destacavam-se Domingo alegre, criado por Genar Wanderley, Vesperado dos Brotinhos, comandado por Luís de Cordeiro. A Estrela Canta, por Glorinha de Oliveira, Alegria na Taba, por Vanildo Nunes, Sabatina da Alegria, por Ruy Ricardo e Turbilhão de novidades, por Edmilson Andrade.

Uma grande audiência antiga atingida pela Rádio Poti era com as radionovelas. O setor de radio teatro era dirigido por Genar Wanderley. Todos eram muito unidos chorávamos de verdade, quando o papel necessitava de emoção, quando não, fingiam. Era um por todos e todos por um. Atualmente as pessoas do meio artístico não são mais unidas, se puderem puxar o tapete uma das outras, elas puxam, afirmava Glorinha de Oliveira. Quase todos os profissionais que trabalhavam em Rádio na década de 40 e 50, no Rio Grande do Norte, começaram na Rádio Poti. De lá saiam para trabalhar em outras emissoras, como a Nordeste, Cabugi e em outros estados. Dentre as mulheres que se destacaram na Poti, como radialistas, podem ser citadas, além de Glorinha Oliveira, Eunice Campos, conhecida no meio radiofônico como Sandra Maria, Marly, Zilma e Selma Rayol, Terezinha Maia, Eliete Regina, Nice Fernandes, Lourdinha Lopes, Waldira Medeiros.

Na Nordeste se destacavam programas como Bom Dia Natal, Aguardando o Futebol, Eu, Você e a Noite e etc. As radionovelas também ganhavam audiência nesta emissora. Algumas eram feitas ao vivo contando com a participação de vários atores norte-rio-grandenses. Muitos artistas também passaram pela Rádio Nordeste como Aguinaldo Rayol, Marli Rayol, Sandra Maria, Nilson Freire, entre outros. Eliete Regina teve sua carteira assinada pela Nordeste durante várias décadas.

Na Rádio Cabugi, o primeiro locutor a utilizar o seu microfone foi Arnóbio Toscano. Entre os programas se destacavam Histórias fantásticas, Hora Sertaneja, Data Querida, Música para Um Dia Feliz, e muitos outros. Merece ser ressaltada, como participação feminina, Gilvanise Moreira, a primeira locutora mulher, e Nice Fernandes.

Numa sociedade machista, como a que concretizou o Brasil até bem pouco tempo, a mulher sempre foi mantida em segundo plano, se comparada ao homem. Ainda pequena a menina devia ser educada para ser a esposa perfeita, mãe e dona de casa exemplar, possuidora de características próprias da feminidade, como o instinto materno, a resignação, a inocência e a meiguice.

Na família ideal, a mulher era submissa ao homem. Este tinha autoridade sobre a mulher e ra responsável pelo sustento da casa. Os deveres que a cercavam eram muitos, mas os direitos praticamente inexistiam. Atualmente, essa história vem mudando. Segundo a reportagem elas venceram”... está em andamento um processo de equiparação entre os sexos em casa, no trabalho, na escola, e na política brasileira. Em alguns campos a mulher já livrou uma pequena vantagem sobre o homem. (Revista Veja 08.11.2000).

Se o resultado da luta feminina vem se consolidando e aparecendo agora, imaginemos como não seria audaciosa a mulher, por volta das décadas de 40 e 50, deixar os “afazeres femininos” tradicionais, impostos pela sociedade da época, para buscar a igualdade com o homem no campo profissional.

A Audácia parecia maior ainda em pequenos centros urbanos, onde, normalmente, o preconceito contra a mulher, especialmente a que trabalhava fora de casa, era evidente. Por ser uma pequena cidade de hábitos e costumes provincianos, onde praticamente todas as pessoas se conheciam, Natal fugia a regra nesse contexto.

Eunice Campos, em depoimento gravado no dia 15 de novembro de 2000, afirma que, ao ser convidada para trabalhar na Rádio Poti, no início dos anos cinqüenta, passou a usar o pseudônimo de Sandra Maria para que seu pai não descobrisse e a proibisse de trabalhar. “Quando ingressei na rádio, o preconceito era muito grande, (...) o meu pai só veio saber uns seis meses depois”, dizia Eunice.

(*)- Texto por José Eduardo Vilar Cunha, publicado no blog O Teorema da Feira.
Foto: Radio RCA (1942) Superheterodino, 5 Válvulas, 3 faixas de ondas Médias e Curtas. Alto-falante de 5" e Caixa de baquelite.

2 comentários:

Mary disse...

Olá! gostei do texto, estou pesquisando sobre a história do rádio em Natal e o texto veio esclarecer algumas dúvidas. Lembro do Giliard cantando na sabatina da alegria, eu tinha um enorme desejo de assistir o programa ao vivo, mas meus pais não deixavam, nem novelas eu podia assistir, só qdo eles saiam de casa. Será que vc poderia fornecer os nomes das novelas que passaram na rádio poti? eu ficaria mto grata. Lembro tbm do Liênio Trigueiro, pois foi era casado com uma grande amiga minha. atc. Marysegy@yahoo.com.br

Mary disse...

Será que poderias enviar-me os nomes das novelas que passaram na rádio poti nos anos 60 e 70? atc mary