28.10.09

1935 - Ação Comunista e o Domínio de Natal

Quartel da Policia Militar 1935 - Atual Casa do Estudante


As raízes do movimento comunista de 1935 no Rio Grande do Norte possuíram, sem dúvida alguma, causas locais e que podem ser apontadas como resquícios da campanha eleitoral de 1934, quando predominou um clima de violência.

Mário Leopoldo Pereira da Câmara, apesar do mérito de algumas realizações efetuadas durante sua administração, foi responsável pela implantação de um clima favorável ao aparecimento de movimentos armados.

O substituto de Mário Câmara, Rafael Fernandes Gurjão, continuou perseguindo seus adversários políticos, a exemplo de seu antecessor. Rafael Gurjão contribuiu com o aumento do número dos descontentes, engrossando o grupo dos revoltosos. Chegou, inclusive, a extinguir a Guarda Civil, um órgão completamente descomprometido com a política, só porque havia sido criada por Café Filho, inimigo político do novo governante... Dentro desse contexto, as divergências arrastaram para o movimento pessoas que desconheciam a ideologia comunista, mas viam na ação armada uma maneira de derrubar o governo...

A mobilização comunista foi iniciada na noite de 23 de novembro de 1935, ocasião em que no Teatro Carlos Gomes - hoje Alberto Maranhão - estava acontecendo uma solenidade de colação de grau do Colégio Marista. O governador Rafael Fernandes Gurjão e o secretário geral do Estado, Aldo Fernandes, abrigaram-se na residência de Xavier Miranda, nas proximidades do teatro, e depois foram para o Consulado da Itália, sob os cuidados do cônsul Guilherme Lettieri. O prefeito Gentil Ferreira, também presente à solenidade, foi para o Consulado do Chile, sob a proteção do cônsul Carlos Lamas.

Coube ao major Luís Júlio, da Polícia Militar e ao coronel Pinto Soares, do 21º BC, a organização da resistência. Os combates estenderam-se por várias horas, até acabar a munição, quando as forças legais se renderam. As comunicações telefônicas foram cortadas, resistindo apenas a estação telegráfica de Macaíba, através da qual os legalistas pediram socorro à capital federal.

Durante os combates, o quartel da polícia militar resistiu, lutando contra um inimigo "muitas vezes superior em número", relata João Medeiros Filho. A resistência durou várias horas, terminando quando os policiais gastaram a última bala. Os legalistas fugiram pelo Rio Potengi.

Os rebeldes dominaram Natal e, no dia 25 de novembro de 1935, organizaram um Comitê popular Revolucionário, composto por Lauro Cortês, ex-diretor da Casa de Detenção, como ministro de Abastecimento e Quintino de Barros, 3º sargento, músico do 21º BC, como ministro da Defesa. O comitê se instalou na Vila Cinanto, até então residência oficial do governador.

Durante a vigência do governo revolucionário, a população da Cidade do Natal atravessou momento de grandes dificuldades, principalmente para a aquisição de gêneros alimentícios, uma vez que foram saqueados muitos armazéns e lojas que abasteciam a cidade. Entre os estabelecimentos saqueados figuram os seguintes: M. Martins & Cia.m Viana & Cia., M. Alves Afonso etc. O comércio de diversas cidades do interior também não escapou. Por onde os rebeldes passavam, implantavam o pânico.

No tempo em que os comunistas estiveram no poder, circulou um jornal intitulado "Liberdade", que publicou as seguintes palavras, transcritas por João Medeiros Filho: "Enfim, pelo esforço invencível do povo, legitimamente representado por Soldados, Marinheiros, Operários e Camponeses, inaugura-se no Brasil a era da Liberdade, sonhada por tantos mártires, centralizados e corporificados na figura legendária de Luís Carlos Prestes, o "Cavaleiro da Esperança".

Observação enviada por Laélio Ferreira de Melo: "O texto citado do jornal "A Liberdade" foi da lavra do Jornalista e Poeta Othoniel Menezes, meu pai. O autor não era e nunca foi comunista. Era, sim, um socialista-cristão e, na época, correligionário e amigo pessoal de Café Filho. Pelo que escreveu (quase todo o jornal) foi perseguido e punido com quase três anos de cadeia.


* Tribuna do Norte: História do Rio Grande do Norte

3 comentários:

Lívio Oliveira disse...

Uma revista de história belíssima. Isso é que é o blog NATALDEONTEM.

Abração.

Anônimo disse...

O texto citado do jornal "A Liberdade" foi da lavra do Jornalista e Poeta OTHONIEL MENEZES, meu pai. O autor não era e nunca foi comunista. Era, sim, um socialista-cristão e, na época, correligionário e amigo pessoal de Café Filho. Pelo que escreveu (quase todo o jornal) foi perseguido e punido com quase três anos de cadeia.
Laélio Ferreira de Melo
oileal@oi.com.br

Anônimo disse...

Esta foto do então QG da PM não foi tirada em 1935 e sim em 30 de maio de 1953,por ocasião da solenidade de transferência do comando para a nova sede da Av. Rodrigues Alves no Tirol. Existe uma, aliás, mais de uma foto do antigo "Quartel da Salgadeira" (atual Casa do Estudante)tiradas poucos dias depois do enceramento da intentona comunista de 1935. A fachada do prédio apresenta inumeras perfurações de "fogo pesado". Em breve, estarei lançando "SOLDADO LUIZ GONZAGA: MITO OU HERÓI? - a verdadeira história de Luiz Gonzaga de Soouza.
Aguardem. Muitas novidades e fatos inéditos serão revelados nesse livro.
Angelo Mario de Azevedo Dantas - pesquisador (dantas.angelo@ig.com.br)