8.1.10

Palácio do Governo e Boate Plaza.



Este aqui foi o Palácio do Governo e findou sendo a Wunder-bar, onde funcionava um cabaré denominado Plaza*, de gente mais ou menos rica. O Palácio do Governo funcionou nesse prédio em junho de 1869. O prédio pertencia a Domingos Henrique de Oliveira, comerciante rico de Natal. O Governador era Pedro Barros Cavalcanti de Albuquerque. A rua não era a Chile, mas a Rua do Comércio, visto que alí se concentrava a grande parte dos comerciantes da época. O prédio era um sobrado e o Governador morava na parte de cima. Pelo que se tem visto na História do Rio Grande do Norte, aquele era o sobrado mais caro, mais imponente e mais alto que existia em Natal. Foi uma época intensa na vida da política do Estado.
Com o passar do tempo, o Palácio virou em uma casa de comércio, na parte de baixo, com um vasto sortimento de secos e molhados pertencente a um verdadeiro homem de visão, Aurino Suassuna que deu emprego a uma ou duas dezenas de operários. Os consumidores que frequentavam o armazém eram recebidos e tidos como alguém de alta classe, pelos atendentes que sempre estavam a esperade mais um consumidor As pessoas mais ricas de Natal sempre se dirigiam àquele Armazém para fazer as suas compras de mercado. Isso, no ano de 1950, antes e depois. O sobrado tinha dois andares e as pessoas que alí frequentavam sentiam-se orgulhosas de estar fazendo as suas compras naquela casa de comércio, a mais ilustre da capital. No prédio em que ficava a casa de negócios, quem fosse ali, passava por montes de sacos e de bebidas finas que existiam na época na capital. Na verdade, era um assombro se ouvir dizer que se fez as compras naquela casa.
O tempo foi passando e o lugar foi alugado pelo dono de uma boate chamada Plaza*. No local, tinham vitrolas, bailes, bebidas, comidas e muitas mulheres semi-vestidas fazendo o afago a seus namorados por um instante. Para se chegar até o palácio das ilusões fortuitas, entrava-se por uma porta nos fundos do edifício que dava para o rio Potengi. Todas as noites eram de prazer e de muito amor. As damas da noite, sorridentes, convidavam o seu amante para beber e lhe pagar também, um drinque e um cigarro americano. Homens já velhos, charutos na boca, se agasalhavam entre os seios da mulher amada e dava a ordem que ela podia pedir o que quisesse. Sorrisos em desalinhos, uma pintura de uma deusa em um lugar da parede, salão grenat e todo o recinto era tomado de perfumes de mulheres em seu investigativo olhar para o seu amante da noite. Fervorosos gritos suaves acompanhavam o parceiro na dança em meio a roda que se formava entre os dois. Com um pouco, três e mais além, todos os homens que ainda se aguentavam de pé.
O tempo, inexorável, foi passando e de cabaré só a lembrança dos homens mais velhos. No vetusto edifício, a água escorria como um ébrio que balança em uma imaginária corda bamba. Era o tempo da chuva. Chuva torrencial que levava aos trambolhões tudo o que aplicava em seu caminho. Na rua, caminhos de todos, outros noturnos ébrios se agasalhavam com o que podia da uma cobertura. O céu era plúmbeo dando a impressão que aquela noite não mais teria fim. Do cais ao lado, as buzinas dos barcos anunciando a chegada ou partida. O tempo rugia, frenético, por entre as paredes do Casarão. Em um momento nunca esperado, ouviu-se um estrondo. Algo que ruía por completo. Alguém olhou um tanto ébrio e pensou que era o tempo de dormir. Do casarão, uma parte enorme do edifício se espatifou no chão calçado. Era o fim, com certeza, daquele que foi um dia o Palácio do Governo, do Armazém de Cereais, da boate.

Texto original de Alderico Leandro. - *Com observações de Moacy Cirne. Foto: Frank Correia.

3 comentários:

Moacy Cirne disse...

Meu caro,
há um equívoco nessa informação.
A boate Arpège funcionava na Trav. Venezuela (ou Argentina, não me lembro mais), paralela à Tavares de Lyra. de forma enviezada. Numa das esquinas da travessa, fica(va) a Dr. Barata. No prédio em questão(ex-Palácio do Governo), já recuperado, na Rua Chile, funcionava a boate Plaza, também conhecida por Wunder-bar. A não ser que, no início, o seu dono fosse o mesmo do cabaré Arpège, originando, então, essa pequena confusão. Mas na minha época de frequentador (de ambos), na primeira metade dos anos 60, os nomes eram esses.

Um grande abraço.

Um abraço

NELSON SANTOS-RJ disse...

TENHO BOAS LEMBRANÇAS E SAUDADES DESTE LOCAL,BONS TEMPO AQUELES DOS ANO 70.

milton disse...

A buate Arpege acabou e eu era cliente da mesma. Eu saia de férias de Aracaju e ia p,ra Natal, isso nos tempos idos dos anos 80 e 90. A minha tristeza hj é q o prédio onde funcionava essa buate está em ruínas de forma avassaladora e q não merecia isso porq esse prédio faz parte do logradouro da história da Ribeira. Deveia ser revitalizado e mesmo q não fosse buate nomvamente, mas, fosse um centro cultural. Eu não sei como o IPHAN não deu fé disso aí e botar a coisa p,ra frente. Lamentável.